Ficha Técnica Título: O que dizer dos adventistas em Cabo Verde Autor: Karl Marx Morgan Lima Monteiro 1ª Edição 500 exemplares Dezembro 2012 Capa e Montagem Gráfica Carlos Fonseca / Infinito Impressão e Acabamento Tipografia S.Vicente - SV Sumário - Dedicatória - Epígrafe - Agradecimentos - Prefácio - Nota - Resumo - Abstract Capítulo I – Introdução / 19 1.1.Justificação da Temática / 22 1.2. Problema / 28 1.3. Objetivo Preconizado / 28 1.4. Hipóteses / 28 1.5. Metodologia / 28 1.5.1. Estudo de Caso / 30 1.6. Fundamentação Teórica / 31 Capítulo II- A IASD a nível mundial / 35 2.1. Breve História / 35 2.2. Organograma e Logótipo / 36 2.3. Caraterização da IASD / 37 2.3.1. A Igreja em números / 37 2.3.2. Aspetos doutrinários / 41 Capítulo III – A IASD em Cabo Verde / 61 3.1. A mensagem adventista em Cabo Verde por ordem de chegada às ilhas – breve história / 61 3.2. Evolução numérica da IASD em Cabo Verde / 92 3.3. Caraterização atual da IASD em Cabo Verde / 95 3.4. A comunidade adventista do 7º dia na ilha de S.Vicente – estudo de caso / 98 3.4.1. A Ilha de S.Vicente e a cidade do Mindelo / 98 3.4.2. Caraterização atual da IASD em S.Vicente / 105 3.4.3. O processo integrativo – análise aos inquéritos e entrevistas 113 3.4.3.1. Inquérito aos adventistas / 113 3.4.3.2. Inquérito aos não adventistas / 115 3.4.4. Análise às entrevistas adventistas / 121 3.4.4. 1. Análise às entrevistas não adventistas / 123 Capítulo IV – Conclusões / 127 4.1. Sugestões/Recomendações / 137 Bibliografia / 139 Anexos / 151 Dedicatória Dedico esta obra àqueles que a ela particu- larmente dizem respeito. Aos adventistas do sétimo dia de Cabo Verde, especial- mente à minha amada esposa Rezy e a minha querida filha Keury. “O salvador misturava-Se com os homens como uma pessoa que lhes desejava o BEM. Manifestava SIMPATIA por eles, ministrava- lhes às necessidades e granjeava-lhes a confi- ança. Ordenava então: ‛segue-me’.” Ellen G.White (1827-1915) Agradecimentos À Deus, nossa fonte de inspiração. A Ele, seja toda a glória! À Coordenadora dos Estudos Africanos, Doutora Elvira Mea, pela opor- tuna proposta de trabalho e pela muita paciência que teve para conosco. Ao nosso orientador, Doutor José Maciel Santos, pelas sugestões e en- corajamentos, apesar dos constrangimentos ao longo da feitura do trabalho. Ao Pastor Irlando Pereira de Pina, pelas primeiras informações sobre a história da IASD em Cabo Verde. À Marise Lopes, pela ajuda na elaboração do plano final. À Lenilda Duarte, à Jocineida Sequeira Mendes e ao Valódia Monteiro pelo apoio no tratamento dos dados. Aos entrevistados, bem como àqueles a quem foram feitos os questionários. A todos os que, de forma direta ou indireta, ajudaram na concretização deste projeto. Em segundo lugar, queríamos agradecer àqueles que nos ajudaram a pas- sar da fase de trabalho de fim de curso (mestrado), a livro. À nossa família, ao permitirem que abusássemos do tempo que a ela per- tencia e dedicássemos, durante as férias, à faina de viagens, contactos, horas de estudo extra, para em pouco tempo disponível, terminar o manuscrito, que ainda deveria passar pela edição e depois, à estampa. Outros nomes queríamos ressaltar. A sua colaboração foi fundamental. O irmão e professor Guilherme Vieira Lima, o nosso braço direito. O Doutor Artur Villares, arguente aquando da defesa da dissertação de Mestrado e que, amavelmente, aceitou ser o prefaciador deste livro. O Pr.Joaquim Tango, pastor da IASD1 em S.Vicente, que despertou em nós a vontade de colocar em livro os dados que ora se apresentam. O seu encorajamento foi essencial. À Associação das IASD em Cabo Verde, respetivamente na pessoa do seu presidente, Pr.Olavo dos Santos, o tesoureiro Alexandrino Rodrigues e o secretário, Pr. Domingos Sanches, pela ajuda e colaboração dispensadas. Ao Ary dos Reis, pelos expedientes e contactos realizados, quer durante o trabalho de recolha de dados, quer no processo de negociação com as tipografias. Ao Crisolito Abreu, cujas fontes escritas foram determinantes para o en- riquecimento do conteúdo da obra. 1Abreviadamente Igreja Adventista do Sétimo Dia Ao Carlos Fonseca, autor da capa, da edição gráfica e montagem do livro. Ao meu irmão e sempre fiel colaborador, Valódia Monteiro, pela correção ortográfica do trabalho. À comunidade adventista cabo-verdiana dos Estados Unidos, particular- mente ao Pastor João Félix Monteiro, à Igreja de Boston, e ao ancião Marcos da Rosa, bem assim aos adventistas da ilha de São Vicente, um muitíssimo obrigado. Sem o vosso apoio material não seria possível trazermos à lume a obra que agora temos em mãos. Àqueles que, mesmo em cima da hora, disponibilizaram o seu tempo para as entrevistas. À Tipografia São Vicente que, assumiu em tempo recorde a responsabili- dade da tiragem do livro. E para não sermos injustos, um muito obrigado a todos os que acredita- ram e colaboraram neste projeto. Prefácio Decidiu em boa hora o Dr. Karl Marx Monteiro passar a livro a sua dissertação de Mestrado sobre a história dos Adventistas do Sétimo Dia em Cabo Verde. O facto de ser membro desta confissão religiosa não é impeditivo de um trabalho de investigação histórica sério e competen- te. É na metodologia usada na investigação que se garante a correção da investigação. Tal aconteceu neste texto que agora vem a lume. Estou convencido que há, na história da Igreja Cristã, uma séria lacuna na redação de boas e idóneas monografias sobre as confissões religiosas. As suas origens, os seus fundadores, o espírito do tempo em que tal aconteceu e, naturalmente, a evolução/crescimento da de- nominação, assim como a sua decisiva ação e influência na vida das comunidades onde se integram. A história da Igreja, através da história das diversas confissões que a compõem é uma peça fundamental na construção da história mais vasta dos povos, da sua identidade e da sua cultura. Numa altura em que, um pouco por todo o mundo, o cristianismo vai sendo retirado do espaço público, é de louvar esta investigação e este livro que ora vêm a luz do dia. Além de, naturalmente felicitar o Dr. Karl Marx Monteiro por tal iniciativa, só posso desejar que este livro seja motivador para que ou- tros possam seguir esta senda de investigar e passar a escrito a história tão viva e diversificada da Igreja de Cristo, através das diversas con- fissões religiosas que a integram. Foi uma honra poder arguir a dissertação do Dr. Monteiro, é uma honra redobrada poder partilhar com os prezados leitores a minha sin- cera convicção da qualidade deste estudo e da sua importância para a história da Igreja em Cabo Verde. Professor Doutor Artur Villares Outubro de 2012, Vila Nova de Gaia, Portugal Nota Para que o trabalho que ora se apresenta fosse publicado em livro, algumas (re)adaptações, mudanças e acréscimos foram feitos. Todavia, manteve-se a ideia original. A maior parte das informações estatísticas contém dados até finais de 2009, inícios de 2010, altura em que a dissertação foi entregue e posteriormente defendida. Passados esses dois anos e poucos, fizemos alguns acréscimos, com estatísticas mais recentes, lá onde estes se mostravam necessários. Levamos em conta as críticas, particularmente dos jura- dos presentes no dia da defesa da dissertação. Esperamos ter respondido às suas ansiedades que igualmente acredita- mos terem sido pertinentes. Um outro aspeto a ressaltar é a necessidade que sentimos de adaptar o texto ao novo acordo ortográfico para a língua por- tuguesa pois já se antevê a sua implantação em Cabo Verde. Uma vez que a circulação do livro deve correr fronteiras, não quisemos ser antiquados. Os nossos votos de boa leitura! O autor Resumo O trabalho que ora se apresenta em livro é basicamente o resultado de uma investigação na área histórico-sociológica, sobre a Igreja Adventista do Séti- mo Dia em Cabo Verde e que foi defendido como dissertação no Mestrado em História, Relações Internacionais e Cooperação, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Portugal, em 2010. A Igreja Adventista do Sétimo Dia é uma denominação cristã. Historicamente enquadra-se no movimento de renovação religiosa surgida nos Estados Unidos da América no século XIX, bem como na sequência das pregações de Guilherme Miller. Brevemente tornar-se-ia uma instituição reconhecida pelo Estado, com as doutrinas bases estabelecidas. Envia o seu primeiro missionário, John Andrews, para além das fronteiras do país, em 1864. A mensagem adventista chega a Cabo Ver- de nos anos trinta do século XX, na pessoa de João Gomes, tendo-se fixado na sua ilha natal, a ilha da Brava. Daí expande-se para o resto do território. Hoje está presente em todas as nove ilhas habitadas do arquipélago. Com o trabalho pretende-se compreender o grau de integração dos adventistas do sétimo dia em Cabo Verde. Foram equacionadas algumas hipóteses que pode- rão condicionar a integração social dos adventistas, nomeadamente o aspeto doutrinário, na medida em que se traduz em comportamentos diferenciados na vida quotidiana; o facto de os adventistas se considerarem emigrantes nes- te mundo têm influência na sua integração; os diferentes graus de educação e instrução formal e cultural que implicam diferentes graus de integração e a forte influência da sua liderança, como fator decisivo no processo integrativo. A escolha recaiu sobre a população da ilha de S.Vicente, a quarta a receber o adventismo e que, convenientemente, serviu como modelo para um estudo de caso. Para além da pesquisa bibliográfica e algumas entrevistas para o enqua- dramento teórico do tema, fez-se um trabalho de campo, com questionários e, igualmente, entrevistas a adventistas e não adventistas e que ajudaram a tirar as conclusões pretendidas. Chega-se à finalização, enunciando as seguintes ideias: apesar da IASD estar presente em Cabo Verde e, concretamente em São Vicente há mais de meio século, a sua integração é deficitária. Chama-se a atenção para uma melhor integração, pois os cristãos, inclusive os adventis- tas do sétimo dia, devem ser o sal da terra. Palavras-chave: integração; adventistas do sétimo dia. Abstract The work that we are now presenting in text is essentially the result of research in the historic and sociologic area about the Seventh-Day Adventist Church in Cape Verde. It was defended as a Master Degree in History, Inter- national Relations and Cooperation’s thesis by the Faculty of Arts at the Uni- versity of Oporto, Portugal, in 2010. The Seventh-Day Adventist Church is a Christian religion. Historically, it fits in the movement of religious renewal which appeared in the United States of America in the XIX century, as well as in the series of the lectures of William Miller. Later, it became a religious organization recognized by the State, with established basic doctrines. The Adventist message arrived in Cape Verde in the 1930s, by Joao Gomes, when he settled in his home island Brava. From there, it expanded to the rest of the territory. Today it is present on all nine of the inhabited islands of the ar- chipelago. With this work, we intend to understand the degree of integration of the Seventh-Day Adventists in Cape Verde. Some hypothesis related to the social integration of the Adventists were analyzed, namely the doctrinal aspect, which is expressed in different behaviors in the daily life; the fact that the Adventists consider themselves as émigrés in this world has some influence in their integration; the different levels of education as well as for- mal and cultural instruction which involve different level of integration, and the strong influence of the leadership, as a decisive factor in the integration process. The decision was to choose the population of S. Vicente, the fourth one to receive the Adventism and which, suitably, served as a model for a study case. In addition to the bibliography research for the theoretical frame of the theme, a field study was done, with questionnaires and interviews to Seventh-Day Adventists and non Seventh-Day Adventists and which helped to make the proposed conclusions. In conclusion, in spite of the fact the SDAC´s 2 presence in Cape Verde, and more precisely in S. Vicente, for more than half a century, its integration is scarce. The proposal is for a bet- ter integration, since the Christians, including the Seventh-Day Adventists should be the salt of the earth. Key words: integration; Seventh-Day Adventists. 2SDAC stands for Seventh-Day Adventist Church Introdução Durante séculos, a religião sempre fez parte do quotidiano do ser huma- no. As manifestações religiosas têm sempre acompanhado o homem desde as mais antigas formas de culto até aos atuais e sofisticados sistemas de adoração. Religião em si é um fenómeno difícil de ser definido. Etimologicamente, vem do latim relegere (“respeitar” e, por extensão, “apresentar um culto”) quer do verbo religare que significa “religar”: a reli- gião constitui, então, um vínculo que une o homem a Deus como fonte da sua existência, particularmente segundo a tradição cristã.3 Conjunto de crenças relacionadas com aquilo a que a humanidade considera como sobrenatural, divino, sagrado e transcendental, bem como o conjunto de rituais e códigos morais que derivam dessas crenças.” Outras definições se apresentam, por autores credenciados. Roberto Cipriani4 no seu Manual de Sociologia de Religião, apresenta diver- sas perspectivas da religião, segundo muitos sociólogos. Estes relevam visões distintas do fenómeno religioso e do conceito de religião apresentando aspetos convergentes, mas também muitas ideias distintas. Isto explica-se pela maior ou menor neutralidade do investigador em relação ao objeto em estudo. Considera como ponto de partida para a emancipação do fenómeno reli- gioso, como passível de ser estudado pela ciência, os trabalhos de Spinoza no século XII. Citando Piergiorgio Grassi, Cipriani5 ressalta que “hoje estamos em grau de individuar com maior clareza como o pensamento de Spinoza tenha entrado em circulação na cultura inglesa do fim do séc.XVII, influen- ciando o debate político e religioso, particularmente o da hermenéutica bí- 3PORTO EDITORA, 2000, p. 327 4CIPRIANI (2007) 5 Idem, 2007:21 19 C A P Í T U L O I blica que ele havia libertado da garantia de autoridade própria da confissão romana e da incidência reivindicada pela confissão protestante, pneumática e sobrenatural (lumen supernaturale), para restituí-la apenas à ratio.” Vico (1668-1744), por sua vez, contribui para uma nova maneira de pen- sar o fenómeno religioso, a partir da sua aproximação histórica das proble- máticas filosóficas e que o vão individuar na história da humanidade um caráter originário da religião e da ideia de Deus.6 Autores como Hume (1711-1776), Feuerbach (1804-1872), Tocqueville (1805-1859), Marx (1818-1883) e Bergson(1859-1941) servem-nos como ponto de referência e de discernimento sobre o fenómeno religioso, melhor dizendo, sobre a religião. É a partir deles que, superado o período das gran- des paixões ideológicas, mas também de orientações filosóficas contingen- tes, que será possível um estudo mais equilibrado sobre esta problemática. A sua teorização, o seu método de análise, as bases documentais agora assen- tam sob um maior rigor. Ressalta-se ainda a contribuição de autores clássicos como Émile Durkheim (1857-1917) e As formas religiosas; Max Weber(1864-1920), com As religi- ões Universais; Simmel(1858-1918), com a Religiosidade e Religião; Freud (1856-1939)e a sua Dimensão Psíquica da Religião; James (1842-1910) e a Religião na Perspectiva Psicossocial. Weber, por exemplo, vê a religião como uma forma particular de ativida- de da sociedade e diz que são “indivíduos históricos da mais alta complexi- dade”7 Na verdade, ele diz que não é suficiente “estudar as formas simbóli- cas do tipo religioso”8 Propõe que também haja um interesse por aqueles que produzem a mensagem religiosa, pelas estratégias que empregam, bem como pela excomunhão. Em outras palavras, Weber faz uma análise dos aspetos práticos da religião.9 “A sua abordagem da religião associa uma análise an- tropológica e uma tipologia linear e aberta do desenvolvimento religioso.”10 Émile Durkheim, por outro lado, diz que “os homens foram obrigados a for- mar uma noção de religião antes de a ciência da religião ter podido instituir as suas comparações metódicas”.11 Portanto, as manifestações religiosas são anteriores ao próprio conceito de religião. Das tendências mais atuais, destacam-se as abordagens de Bellah (1927…), que estuda sobre a religião civil, a religião estudada sob a perspectiva marxista 6 CIPRIANI, 2007:23 7 WEBER, 2006:13 8 Idem, 2006:11 9 Idem, 2006:11,12 10 Idem, 2006:13 11 DURKHEIM, 2002: 28 20 de Houtart (1925…) e a religião como função em Luckmann(1927…). Luckmann, o defensor da teoria funcionalista da religião, é citado na referi- da obra de Cipriani,12 com estas seguintes palavras: “uma definição funcional da religião evita ao mesmo tempo, o habitual preconceito ideológico, da mes- ma forma que a limitação etnocêntrica da definição substancial do fenómeno.” O presente trabalho não pretende ser um estudo exaustivo sobre a reli- gião, ou sobre as ciências da religião. Na verdade, há aqueles que rejeitam completamente a ideia de que a religião possa estar ligada de alguma manei- ra à ciência. Mas também devemos reconhecer o esforço daqueles que por séculos tentaram estudar a religião de um ponto de vista secular.13 A tese apresenta apenas um momento, uma pesquisa a ser continuada e, por isso, os resultados não são definitivos. Está dividido em 4 grandes capítulos. O primeiro é dedicado à introdução, onde procuraremos justificar o tema, apresentar o objectivo da investigação, bem como as hipóteses de- fendidas, formular a pergunta central, descrever a metodologia utilizada e as dificuldades deparadas ao longo da realização do trabalho, bem como as razões para o estudo de caso. Segue-se a fundamentação teórica. No segundo capítulo, caracterizamos a Igreja Adventista do Sétimo Dia a nível mundial. São estudados alguns aspetos como a sua história, os seus símbolos, a sua base doutrinária e crescimento numérico. O terceiro capítulo é dedicado ao estudo da Igreja Adventista do Sétimo Dia em Cabo Verde. Depois de uma breve descrição histórica da IASD pelo país, ilha por ilha, de vermos como ela tem evoluído numericamente, e de termos feito a sua caraterização atual, a nível nacional, analisamos a questão da integração da comunidade adven- tista na ilha de São Vicente. Essa parte foi essencialmente baseada em dados obtidos a partir de um estudo de campo, com inquéritos e entrevistas feitos 12 Idem, 2002:11 13 “Crenças e convicções religiosas foram desde muito cedo objeto de questões racionais. Os primeiros raciocínios – independentes de explicações divinas e acompanhados por considerações “sociológicas”- sobre a origem do cosmo encontram-se já nos filósofos pré-socráticos e sobretudo nas perguntas da fi- losofia naturalista jónia (Dix,2006:13). Podemos observar durante o Renascimento uma outra vaga de grande interesse não-teológico por questões religiosas, nomeadamente em pensadores humanistas tais como François Rabelais, Thomas More ou Erasmus de Roterdão, ou nos chamados neo-platónicos tais como Georgios Gemistos Plethon, Marsílio Ficino Giovanni Pico della Mirandola. Todavia, os primei- ros princípios de um estudo sistemático de religião revelam-se na história da filosofia (Kippenberg/Stu- crad,2003:24-28), em Thomas Hobbes ou em Espinosa, e sobretudo na filosofia iluminista do séc:XVIII. Mas os pontos mais importantes de viragem para uma pesquisa científica dos fenómenos religiosos en- contram-se particularmente em dois filósofos, cujas obras podem ser consideradas como a origem para a moderna filosofia de moral. Assim, uma das primeiras grandes tentativas em falar sobre a religião fora da teologia está presente na obra Natural History of Religion (1757) de David Hume.” In, REVISTA LUSÓFONA DE CIÊNCIAS DAS RELIGIÕES, Ano VI , 2007, nº11 “O Budismo uma proximidade do Oriente. Ecos, sintomas e permeabilidade no pensamento português”, p.14 21 quer a adventistas do sétimo dia, quer a não adventistas. Por fim, no quarto e último capítulo fizemos as conclusões. Algumas sugestões/recomendações são apresentadas. Não se trata de um trabalho acabado e, por essa razão, apresenta algumas lacunas que podem ser enriquecidas posteriormente. Todavia, esperamos ter contribuído de alguma forma, para enriquecer a comunidade científica e, principalmente o panorama académico-cultural e religioso cabo-verdiano, com mais um material de estudo. 1.1. Justificação da temática Estaremos a viver num mundo da “morte de Deus” e da Religião? Não cre- mos que seja verdade. Utilizemos as palavras de Maria Zambrano, uma estu- diosa da religião: “(…) a morte de Deus não é a sua negação, a negação da sua ideia ou de alguns atributos que lhe dizem respeito.”14 “Até aos últimos anos do século XX, existiram nas sociedades ocidentais várias teorias diferentes de secularização que previram um desaparecimento da religião nas sociedades modernas. Desta maneira, a religião foi, e ainda é compreendida como um fenómeno anacrónico ou marginal que já não pode despertar muito interesse no quotidiano, ou influenciar a vida pública numa sociedade moderna. E mesmo hoje em dia existe, por vezes, uma convicção científica que remove o lugar da religião para a esfera privada do indivíduo. Nesta justificativa, abordaremos, um pouco pormenorizadamente, esta di- cotomia religião/ciência, melhor dizendo, cristianismo versus ciência. Três razões levam-nos a ter tal atitude: - o estudo é sobre uma comunidade cristã; - acreditamos que a salvação de todos os homens só se encontra na pessoa de Jesus Cristo; - somos cristão. Mas porquê esse afastamento, esse antagonismo ciência versus religião? Desde quando existe? Ciência e religião são verdadeiramente incompatíveis? Parece existir uma opinião generalizada negativista em relação à religião. Os produtores do conhecimento como escolas, universidades e outros não se podem contar como inocentes. Igualmente, os meios de comunicação de massa (tele- visão, rádio e internet, entre outros) contribuem para que os assuntos religiosos caiam no ridículo e, os que tentam lutar contra esta tendência são ignorados ou le- vados ao descrédito. Intensificam-se, assim, os preconceitos e as discórdias, apon- tando desvantagens à religião e desafiando a fé. Apregoa-se que quando a religião é dominante o desenvolvimento é fraco. Apresenta-se como exemplo a Europa 14ZAMBRANO, 1995:126, 129 22 medieval.15 Outra crítica é a de que o homem religioso só pensa no além, na vida futura, no novo reino prometido de Deus, ignorando os deveres quotidianos, as responsabilidades do dia-a-dia e a sua contribuição para o desenvolvimento do país e do mundo. Admitindo que esta afirmação seja parcialmente verdade, dire- mos que tais indivíduos desvirtuam o real sentido do cristianismo, dos cristãos, que é ser o sal da terra, a luz do mundo. Pensa-se, por vezes sem fundamento sóli- do, que a religião delimita o conhecimento. Mas a realidade, que nós conhecemos e vivenciamos, apresenta-nos um quadro distinto. Os religiosos cristãos, amantes da Bíblia, não dispensam a sua leitura e prática e nem a leitura de outros livros de aconselhamento ético-moral, que contribuem para a edificação de homens e mulheres de caráter, cheios de conhecimento e sabedoria, respeitadores e com vontade de construir um mundo melhor. Igualmente critica-se a religião, particu- larmente ao cristianismo, pela sua fraca capacidade de encaixar ideias contrárias, ou seja, de ser (demasiado?) conservador. Mesmo assim, reconhecemos algumas situações históricas que têm con- tribuído para esse deboche para com a fé, valorizando a opinião pública e a própria ciência. São exemplos, a insistência do catolicismo medieval em defender o geocentrismo, ou seja, a teoria de que a Terra era o centro do universo, contrária a ciência que insistia no geocentrismo (sol no centro), de- fendida pelo filósofo Aristarco (310-230 a.C), sustentada cientificamente por Copérnico (1473-1543) e comprovada pelo telescópio do cientista Galileu Galilei (1564-1642). A inquisição, este sim, foi um verdadeiro inimigo do conhecimento, le- vandoà estaca ilustres pensadores, desde teólogos, professores, escritores, cientistas e outros. A partir do séc.XVIII, com o triunfo do iluminismo e a filosofia da razão, o cepticismo empírico, o deísmo e o próprio evolucionismo, a sustentabilidade de alguns fundamentos do cristianismo foram abalados, nomeadamente, a au- tenticidade e a veracidade dos escritos bíblicos, pondo em descrédito, nomea- damente a narração bíblica da criação. Porém, especialmente nos tempos mais atuais, podemos testemunhar um reaparecimento das religiões, ou pelo menos de alguns assuntos religiosos. Trata-se de um acontecimento que despertou um espanto genuíno ou até verdadeira surpresa para os partidários da secularização”.16 Não querendo entrar já na polémica questão do “re-encantamento do mundo”,17 acredita- 15 Mas esquece-se que foi o cristianismo que levou às populações bárbaras da Europa (Alamanos, Fran- cos, Visigosdos, Suevos, Burgúndios, Anglo-saxões, entre outros) a civilização, as boas maneiras, os bons costumes, catapultando-as ao desenvolvimento a que chegaram. 16 REVISTA LUSÓFONA DE CIÊNCIAS DAS RELIGIÕES, 2007:11 17 Idem, 2007:12 23 mos também, pela leitura empírica da realidade que a religião está na moda. Assistimos no mundo de hoje àquilo que Vallet18 chama de “o regresso do religioso em declínio das ideologias, sobretudo daquelas que pretendem ser ou afirmam ser ateístas”19 O comunismo caiu e com ele os seus semi-deuses. Na Europa de Leste as pessoas retornam, agora livremente, às Igrejas.20 Felizmente, para os religiosos - cristãos particularmente -, muitas ocor- rências (re) começam a dar maior credibilidade à fé, à bíblia e à vivência religiosa. A bíblia, que sofrera as mais altas críticas, precisamente no séc. XVIII, idade da razão, com o centro da polémica no Velho Testamento, co- meça a ser reabilitada.21 Muitíssimas descobertas arqueológicas e históricas confirmam a existência de personagens, civilizações, sítios e acontecimentos da bíblia. Veja-se, por exemplo, a descoberta dos manuscritos do Mar Morto em 194722 , que confirmam a exatidão do V.T.23, há tanto tempo aceite por cristãos e judeus24. Outras vozes levantam-se a favor da Bíblia e do V.T., nomeadamente a descoberta da Pedra da Roseta, a Pedra de Behistun e de cidades e impérios escondidos. O valor dessa pedra (da Roseta), descoberta por soldados napo- leónicos em 1789 e que acabou por vir a ficar na posse dos ingleses é con- cludente. Escrita, uma parte com carateres hieróglifos, em escrita demótica e grego, provou a história de toda uma nação, já narrada no Velho Testamen- to25. Por outro lado, a descoberta de Henry Rawlinson, a partir de 1835, da Pedra de Behistun, na Pérsia, confirmou a existência dos antigos impérios da Pérsia e Babilónia, referidos na Bíblia e, por muito tempo em silêncio. Na sequência das mesmas descobertas, outras cidades, todas mencionadas na 18 VALLET (1996) 19 Idem, 1996:7 20A questão do retorno às religiões (comunhões) na Europa Oriental é, segundo o mesmo autor Vallet, discutível. Ele apresenta duas razões. A primeira razão tem a ver com o facto de o comunismo apre- sentar-se, de certa forma como uma religião, já que tinha os seus deuses e lugares de culto e a segunda razão tem a ver com o facto de que a presença comunista não foi necessariamente uma forma de fugir à presença nas Igrejas (tradicionais). “ Na Polónia, em 1995, apareceram menos pessoas na missa do que no tempo da ocupação soviética quando os padres representavam a resistência ao inimigo da pátria e ao opressor do povo” (VALLET, 1996: 7,8) 21 Os estudiosos alemães diziam que ela tinha sido copiada ao longo dos séculos, e que “sofrera uma corrupção, além da nossa mais absurda imaginação.” Cf. MARSHALL, 2000:26 22 Esses manuscritos, guardados pelos essênios, por cerca de 1880 anos – desde a altura da destruição de Jerusalém no ano 70 da nossa era, pelos romanos – foram acidentalmente (providencialmente?) desco- bertos por um pastor beduíno que por ali apascentava rebanhos. 23 V.T. abreviatura para Velho Testamento 24 MARSHALL, 2000:27-30 25 Idem, 2000: 44-46 24 Bíblia, como Nínive, Susa, Ur, Jericó, Megido, Samaria e Hazor, passaram a ser (re) conhecidas pelos cépticos26. A batalha pelo Novo Testamento foi mais dura, mas foi ganha. As descober- tas do Codex Sinaiticus em 185927 provam que o Novo Testamento que existe hoje corresponde, na sua globalidade aos textos do Codex. A batalha conti- nuava, mas provas foram mostrando a autenticidade do N.T28. Encontram-se disponíveis 5300 manuscritos gregos do Novo Testamento, 8000 da Vulgata Latina e mais de 9300 manuscritos de outras versões. A Ilíada de Homero, obra de reconhecido valor histórico-literário apenas apresenta 643 manuscritos.29 Outros fatores dão crédito ao cristianismo e à vivência cristã, como a incessante busca de um motivo não apenas material para a vida humana. Isto mostra claramente a necessidade, a dimensão espiritual do homem. O fenómeno da globalização tem-se demonstrado um fiasco em muitos aspetos, reconfirmando a importância de valores ético-morais na vida. Ainda sobre a ética e a deontologia científica, pergunta-se até que ponto devemos concordar com a manipulação de embriões humanos para fins repro- dutivos? Por outro lado, estão os alimentos a ser geneticamente modificados para melhores cuidados de saúde, ou não existirão, por detrás, práticas escon- didas para maiores lucros económicos? O que dizer dos problemas ambientais causados pelo próprio homem e a sua cobiça, ganância e egoísmo? Mas também novos desafios se impõem à religião. É necessário que se este- ja atualizado quanto ao desenvolvimento das novas tecnologias de informação e comunicação, para não se correr o risco de perder a batalha sem sequer ir para a luta. É fundamental que se vençam os extremismos, os fanatismos, sem violar princípios, e que se procure colocar na prática aquilo que se ensina. Falar da dicotomia ciência/religião parece muito simplista, previsível e re- petitiva, mas falar da relação Ciência/Deus exige mais coragem e ousadia. Será a ciência capaz de repudiar ou, por outro lado, provar a existência de Deus? Uma das coisas que aprendemos enquanto estudante/investigador é que as hipóteses e/ou pressupostos devem necessariamente ser colocados para darmos credibilidade e consistência a um trabalho científico. É verdade que, por vezes, os resultados finais não correspondem às hipóteses inicialmente levantadas, mas não quer dizer que estes não tenham sido válidas e que não tenham contribuído para a valorização do estudo30. 26 Idem, 2000: 46-48 27 Bíblia manuscrita antes do ano 350 da nossa era 28 N.T. abreviatura para Novo Testamento 29 MARSHALL, 2000:39-54 30 TAFNER et. al,2008:45,46 QUIVY e CAMPENHOUDT, 1998:135-150 25 É, por esta lógica que a ciência não pode descartar a existência de Deus, uma vez que nunca coloca como hipótese, a possibilidade da sua existência. Isto não é ciência, é preconceito, é anti-ciência. Àqueles que dizem que a equa- ção da hipótese para a existência de Deus não responde a relação causa/efeito, perguntamos, donde vem essa forma de raciocinar, porventura não foi da cul- tura judaico-cristã, portanto carregada de religiosidade? Não foram os pionei- ros, os pais da ciência moderna como Isaac Newton (1642-1727) ou Johannes Kepler (1571-1630), todos cristãos? Quem tem coragem para desafiar a sua sabedoria, ou melhor, a sua fé?31 Não nos dizem as estatísticas que o nº de cientistas que acreditam em Deus, continua continua basicamente o mesmo ao longo destes últimos 80 anos, apesar desta onda de grandiosas descobertas que se reconhecem e que efectivamente aconteceram graças à ciência?.32 Cabo Verde: o panorama religioso cabo-verdiano A história deste arquipélago, situado na costa ocidental africana, está intima- mente ligada à igreja cristã. Primeiramente ao catolicismo, que continua ainda a ser a religião mais representativa em Cabo Verde. Foi graças à Igreja Católica e às suas missões nas ilhas que os escravos foram sendo ladinizados e cristianizados. Mas hoje a força do catolicismo está repartida com outras religiões cristãs e até com grupos não cristãos, nomeadamente muçulmanos, que aumentam dia a dia e a olhos vistos no país, graças à entrada de muitas pessoas vindas dos países da costa ocidental africana. Apesar de a maioria dos cristãos nas ilhas afirmar ser católica, encontramos uma grande percentagem de pessoas pertencentes às Teste- munhas de Jeová, aos Nazarenos, aos Evangélicos, aos Baptistas, aos Adventistas do Sétimo Dia, entre outros. Graças ao Censo 2010, realizado pelo Instituto Nacional de Estatísticas de Cabo Verde (INE), conseguimos apresentar os dados que se seguem33, relativos ao panorama religioso nacional. 31 ROTH, 2010:13-35 32 ROTH, 2010:23-30 33 A quando da defesa da dissertação, que serve de base para este livro, os dados ainda não se encontra- vam disponíveis 26 27 Fig.1 População residente de 15 anos ou mais por religião e segundo Ilha Ilhas Religião Total Adventistas 32 307 40 222 75 31 2843 1283 314 5147 Assembleia de Deus 339 384 99 190 55 61 1695 241 37 3101 Católca 25863 29118 6409 11860 3874 4393 159270 15915 3021 259723 Deus é amor 50 36 9 50 12 2 155 68 0 382 Igreja do Nazareno 348 726 157 519 290 141 2464 717 282 5644 Islâmica 145 220 35 1216 726 29 3474 145 18 6008 Judaica 1 4 1 4 0 0 9 6 0 25 Nova Apostólica 59 90 42 56 58 16 348 1058 46 1773 Racionalismo Cristão 356 4053 375 575 409 7 471 17 0 6263 Testemunhas de Jeová 311 894 123 270 34 25 1334 496 11 3498 Universal do Reino de Deus 56 436 37 248 23 4 459 106 10 1379 Outra 140 1065 84 204 64 16 1862 789 40 4264 Sem Religião 2894 17204 1417 2854 1383 91 6851 3313 265 36272 Não sabe / Não respondeu 135 544 48 58 22 0 429 29 6 1271 ND 40 581 61 25 10 6 203 16 2 944 Total 30769 55662 8937 18351 7035 4822 181867 24199 4052 335494 Fonte: INE, Censo 2010 Stª Antão S. Vicente S. Nicolau Sal Boa Vista Maio Santiago Fogo Brava No presente trabalho, procuraremos analisar o grau de Integração da Igreja Adventista do Sétimo Dia na sociedade são-vicentina. A inexistência de qualquer trabalho realizado, no país, nesta ótica e o facto de sermos membros da IASD, despertou em nós a vontade de trabalhar o presente tópico. 1.2. Problema De acordo com Quivy e Campenhoudt34, uma boa pergunta de partida é critério fundamental para se poder conduzir um trabalho científico. Este de- verá servir como o ponto de referência a partir do qual a investigação deverá decorrer. Mas para que seja útil, ela terá que obedecer a critérios como a qualidades de clareza, exequibilidade e pertinência. Nesta ótica, pretendemos responder à seguinte formulação: Em que medida houve integração dos Adventistas do Sétimo Dia na sociedade são-vicentina? 1.3. Objetivo Preconizado Procuraremos testar o graude integração dos adventistas do sétimo dia na sociedade são-vicentina. Para isso vamos selecionar alguns traços culturais que serão observados com maior incidência. Estes traços constituirão os pon- tos de observação, as hipóteses, permitindo avaliar se a pertença à Igreja fez aumentar significativamente o estatuto de exclusão, ou não. 1.4. Hipóteses - o aspeto doutrinário, na medida em que se traduz em comportamentos diferenciados na vida quotidiana, condiciona a integração; - o facto dos adventistas se considerarem emigrantes neste mundo in- fluencia na sua integração; - os diferentes graus de educação e instrução formal e cultural implicam diferentes graus de integração; - a forte influência da sua liderança é factor decisivo no processo integrativo. 1.5. Metodologia utilizada Para realizar estes objetivos e testar as hipóteses é fundamental descrever sinteticamente a história dos Adventistas do Sétimo Dia a nível geral e a nível do país, caracterizar socialmente os adventistas em Cabo Verde e no mundo, conhecer o grau de integração dos adventistas do sétimo dia na ilha de São Vicente. E isto fez-se utilizando as seguintes fontes: entrevistas (9) 34 QUIVY e CAMPENHOUDT, 1998:31-45 28 para o enquadramento histórico do estudo, pesquisa bibliográfica em revistas institucionais da igreja, dados estatísticos disponíveis quer pela Associação das Igrejas Adventistas do Sétimo Dia em Cabo Verde35 quer pelo Instituto Nacional de Estatísticas - INE. Igualmente, consultamos autores consagra- dos quanto à temática da religião, nomeadamente Maria Zambrano,36 Émile Durkheim,37 Max Weber38 e Cipriani39, só para citar alguns exemplos. Quanto às metodologias de organização de trabalhos de pesquisa, baseamo-nos nas instruções de Quivy e Campenhoudt,40 bem como obra da doutora Estela Lamas41 do Instituto Piaget. A fundamentação teórica do nosso trabalho foi a parte mais difícil de ser trabalhada, pois não conseguimos uma bibliogra- fia específica que falasse concretamente da questão da integração de gru- pos religiosos no mundo. As referências bibliográficas na ilha e no país não abundam e a internet nem sempre se mostrou um parceiro de confiança42. Para tal, tivemos de nos socorrer de outros autores que falam sobre a questão da integração, adaptando-a ao nosso estudo. A nossa fonte principal foi o livro Immigrant Integration. The Dutch Case, de Hans Vermeulen e Rinnus Penninx,43 bem como o nosso trabalho final de Licenciatura apresentado na Universidade de Coimbra em 2002.44 Para o estudo do caso da comunidade de São Vicente, as dificuldades foram ainda maiores, pois se trata de uma pesquisa pioneira. Inicialmente, quando fizemos esta pesquisa, não tivemos acesso a nenhum trabalho de credibilidade científica sobre a IASD em Cabo Verde, que já tivesse sido publicado. Esta versão, que ora se apresenta em livro, teve a bênção de encontrar uma obra que fazia muita referência à IASD em Cabo Verde.45 Também tivemos acesso a alguns números de uma antiga Revista Adventista, publicada em Portugal. Para solucionarmos o problema, recorremos a um trabalho de campo, baseado em questionários e entrevistas 35 Abreviadamente AIASD-C.V. 36 ZAMBRANO (1995) 37 DURKHEIM (2002) 38 WEBER (2006) 39 CIPRIANI (2007) 40 QUIVY e CAMPENHOUDT (1998) 41 LAMAS (2001) 42 Para além das dificuldades encontradas a quando da pesquisa bibliográfica, que já referimos ante- riormente, acrescentamos a quase inexistência de bibliografia específica sobre a IASD em Cabo Verde. A que existe é institucional. Outros constrangimentos tiveram que ser ultrapassados. Entre eles se sobressai a distância e o pouco contacto entre nós e o orientador. 43 HANS E PENNINX (2000) 44 MONTEIRO (2002) 45 FERREIRA (2008) 29 feitos quer a adventistas, quer a não adventistas em São Vicente. Realizamos 145 questionários. Foram aplicados 50 a adventistas e 95 a não adventistas. A quase duplicação dos questionários a não adventistas foi feita, partindo do critério de que estes representam a opinião da grande maioria. Trata-se ape- nas de uma pequena amostragem, tendo em conta a população da ilha que é de cerca de pouco mais de 70 mil habitantes.46 Também é de se reconhecer as dificuldades que se encontram para a aplicação de questionários a um grande número de pessoas. Estas muitas vezes mostram-se indisponíveis e até não respondem a todas as questões. Também é de se atestar que o tratamento dos dados exigiria muita disponibilidade de tempo e condições materiais, o que não era o caso. Os cinquenta questionários aplicados aos adventistas repre- sentam cerca de 50% da opinião dos membros regulares da comunidade em São Vicente, sendo, portanto uma fonte de informação bastante pertinente. Todos os questionários são tratados num dos subcapítulos do trabalho, onde as informações são trabalhadas detalhadamente. Quanto às entrevistas, estas contabilizam-se em dez, sendo cinco adventistas e cinco não adventistas. Os entrevistados foram escolhidos criteriosamente. Optamos, para o caso dos adventistas, pelo critério de maior temporalidade, responsabilidade e influência na Igreja. De entre os não adventistas podem-se considerar dois grupos. Um grupo representará a opinião de outras denominações cristãs na ilha, nomeadamente a dos católicos e dos nazarenos e um segundo grupo representaria a opinião da elite política de São Vicente. Da Igreja Católica entrevistamos um padre e um membro leigo. Igualmente, da Igreja Nazarena conseguimos entrevistar um Pastor e um membro leigo. Finalmente, como entidade política conseguimos a entrevista a um vereador da Câmara Muni- cipal de São Vicente.47 1.5.1. O Estudo de Caso Justifica-se o recurso ao estudo de caso, pois é um erro acreditar que po- demos saber tudo. Estamos limitados pelo tempo da nossa existência, pela nossa formação e grau de conhecimento, pelos recursos humanos e materiais disponíveis e, claro, pela própria realidade, que nunca conseguimos apreen- der na sua totalidade. Como se pode confirmar dos conceituados autores em ciências sociais, Quivy e Campenhoudt48 “ (…) é muito difícil mesmo para o investigador profissional e com experiência, produzir conhecimento verda- deiramente novo, (…)” 46 Em 2010, a população de S.Vicente era de 76140, de acordo com dados do INE37QUIVY e CAM- PENHOUDT, 1998:31-45 47 Presidente da Câmara Municipal de São Vicente, à altura da publicação do trabalho em livro. 48 QUIVY e CAMPENHOUDT, 1998:19 30 Este tipo de pesquisa científica enquadra-se dentro do paradigma qualita- tivo de investigação e “ (…) é adequado quando o objetivo da pesquisa for investigar um fenómeno contemporâneo em seu ambiente natural, sempre que possível considerando múltiplas fontes de evidência, um ou poucos ca- sos, sem o controle ou manipulação de variáveis.49 Distingue-se quanto à sua classificação, planejamento, recolha e análise dos dados.50 É um estudo apro- fundado, pormenorizado e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado.51 Ajuda na exploração de situações concretas da vida real, fazendo a descrição do seu contexto.52 1.6. Fundamentação Teórica A nossa pesquisa bibliográfica vai debruçar sobre a questão da integração de um grupo minoritário numa determinada sociedade. Procuraremos aperce- ber-nos do grau de integração ou implantação dos adventistas do sétimo dia na sociedade são-vicentina. Assim como no mundo romano, a integração dos primeiros cristãos não foi fácil, devido às diferentes origens étnicas dos crentes, às divergências ideológicas e comportamentais entre os grupos romanos (maioria) e cristãos (minoria), equacionamos a possibilidade de acontecer o mesmo com os ad- ventistas em S. Vicente. Os primeiros cristãos julgavam-se peregrinos neste mundo e, por isso, despiam-se dos seus bens materiais e proclamavam um eminente reino vindouro.53 Muitos cristãos do primeiro século, por renuncia- rem a algumas práticas romanas, nomeadamente a participação nos teatros, circos, no culto ao imperador, acabavam por ser mortos, – ironicamente nas próprias arenas onde negavam ir. É claro que hoje se considera existir liber- dade religiosa na grande maioria dos países do mundo.54 Mas para os adven- tistas, por causa de práticas doutrinárias bíblicas, nomeadamente a guarda do sábado – o que implica a recusa de qualquer trabalho secular nesse seu dia 49 LENZ, 2011:2 50 Ibidem 51 GIL (1999) citado por JÚNIOR, 2009:54 YIM (1987) citado por JÚNIOR, Idem, ibidem 53 BAUMGARTNER (2001) 54 A República de Cabo Verde reconhece a igualdade de todos os cidadãos perante a lei, sem distinção de origem social ou situação económica, raça, sexo, religião, convicções ou ideologias e condição social e assegura o pleno exercício por todos os cidadãos das liberdades fundamentais (Princípios Fundamentais, Art.1º - República de Cabo Verde, 2) . No que diz respeito ao direito à liberdade, o artigo 28º.2, diz que são garantidas as liberdades pessoal, de pensamento, expressão e informação, de associação, de religião, de culto, de criação intelectual, artística e cultural, de manifestação e as demais consagradas na Constituição, nas Leis e no Direito Internacional geral ou convencional recebido na ordem jurídica interna. 31 sagrado – a estabilidade de seus trabalhos/empregos, é sempre ameaçada. Considera-se também estar aqui de passagem, proclamando o eminente se- gundo advento de Cristo a esta Terra, para o resgata final dos fiéis. Mas esta forma de pensar e de proceder tem trazido um mal-estar à membresia, pois há aqueles mais conservadores e que pouco fazem para a sua vivência como membros desta sociedade e não apenas da futura. Por outro lado, há aqueles mais liberais que postergam a sua esperança para uma data sine die. Inicialmente, os cristãos eram vistos como seita. Esta mesma opinião não deixa de ser partilhada por muitos em relação aos adventistas do séti- mo dia. A questão da relação igreja/ seita já foi tratada por teóricos como o alemão Troeltsch (1825-1923) que em 1912 dividia os grupos religiosos em igrejas e seitas. Mas os tipos ideais, como igreja e seita não são rígidos. Os paradigmas assumidos pela comunidade científica como capazes de estudar a realidade não são estáticos55 e, por isso, aceita-se que a ideia que se tinha de seita evolua. A sociologia mostra-nos que com o passar do tempo, tendem a desaparecer ou se afirmam como religiões reconhecidas. Os americanos, geralmente muito pragmáticos, resolvem este aparente pro- blema utilizando o termo denominação, para os mais diversos grupos religiosos. Voltemos à nossa problemática, a integração. Ela tem sido trabalhada por diversos teóricos e, geralmente é aplicável para o caso dos imigrantes, exis- tindo várias teorias sobre a integração. Segundo Penninx,56 conhecido investigador holandês, a integração pode ser conseguida de duas formas. Uma é através do mercado de trabalho, da educação, da política ou da habitação (integração estrutural) e a outra tem que ver com a ação individual ou associações e/ou redes sociais do indiví- duo. Para o segundo caso, diz Penninx, o indivíduo pode ser ele próprio o motor da sua própria integração. Aplicá-lo-emos para o caso da integração da comunidade adventista em São Vicente, partindo dos pressupostos apresentados em cima, nomeada- mente de que os cristãos adventistas do sétimo dia dizem-se emigrantes neste mundo e, por isso, a sua integração não parece ser completa. Assim como a integração dos primeiros cristãos na sociedade romana foi facilitada, entre outros fatores, pelos decretos imperiais de Constantino57 e de Teodósio58 – integração estrutural –, a integração dos adventistas do sétimo dia em São Vicente, poderá ser facilitada, ou não, pela ação de dirigentes in- ternos ou externos à própria comunidade. Quanto à integração feita por ação 55 KUHN, 1992:29 56 PENNINX (2000) 32 individual, é difícil de ser identificada, pois pertence a um campo bastante sensível, dependendo da opinião de cada um. Um adventista pode achar que se tenha integrado a nível social, apesar das várias divergências referidas anteriormente, mas há quem possa ter opinião contrária. As associações, que na verdade poderão contribuir para uma melhor integração, de acordo com os citados autores, todavia não abundam na IASD em São Vicente. Conhe- cemos apenas uma , que existe já algum tempo e que tem feito alguma coisa em favor da comunidade adventista e não só. Uma segunda, não pasou de projectpo à realidade. 57 Edito de Milão 313 d.C., onde o imperador atribui a liberdade de culto aos cristãos. 58 Este Imperador, tornava o cristianismo a religião oficial do Estado romano, a partir de 380 33 34 A IASD A NÍVEL MUNDIAL 2.1. Breve História Fixar um tempo para falarmos de qualquer movimento religioso não é fá- cil. Este geralmente tem muitos antecedentes que podem contar em dezenas, centenas e até milhares de anos. Vamos situar-nos depois da Reforma Pro- testante, encabeçada por Martinho Lutero (1483-1546) e da Contra Reforma Católica (1545-1563), todas ocorridas no século XVI. No século XVII, um grupo de cristãos protestantes holandeses e ingle- ses, decidiu unir-se para viajar, fugir da perseguição religiosa na Europa e, tendo partido da Inglaterra em 6 setembro de 1620, no navio Mayflower, desembarcam no Novo Mundo entre novembro a dezembro do mesmo ano, vindo a formar a colónia de Plymouth, nome do mesmo sítio onde partiram da Inglaterra.59 Ainda em solo americano, esses cristãos continuavam a sofrer as mes- mas perseguições da Europa, até a chegada de Roger Williams.60 Williams apercebe-se de um erro grave. É que a assistência aos cultos da igreja oficial era exigida sob pena de prisão ou multa. Por discordar dessa prática foi con- denado a ser expulso das colónias, mas fugiu. Depois de alguma turbulência e sofrimento, cria, com outros colaboradores, o pequeno estado de Rhode Island. Os princípios que ele defenderá, virão a ser os princípios básicos da República Americana. Dentro do contexto de crise religiosa surge no século XVIII um primeiro reavivamento encabeçado por Jonathan Edwards (1703- 1758).61 Este pri- meiro reavivamento dará origem a novas denominações, a reformas educa- cionais, motivando o interesse e o apoio às missões. 59 OLIVEIRA,1994:19,20 60 Teólogo inglês que embarca para o novo mundo, sendo um dos fundadores de Rhode Island. Nasceu a 21 de dezembro de 1603, e morreu a 1 de abril de 1684. 61 Jonathan Edwards (1703 -1758) foi um ministro do evangelho, considerado um dos maiores filósofos 35 C A P Í T U L O I I Um segundo reavivamento acontece entre os anos 1800 a 1850. Esse reavivamento começa com reuniões universitárias dirigidas por Timothy Dwight (1752 – 1817).62 Destaca-se ainda o trabalho de outros líderes como Charles Finney (1792 –1875).63 A partir dessa altura, começa a ser anunciada a mensagem sobre a segun- da vinda de Jesus à esta Terra, destacando-se a pessoa do pregador William Miller (1782-1849).64 Miller, utilizando a Bíblia, uma concordância de Cru- den, conclui que a profecia de Daniel 8:14 onde se lê, “Até duas mil e trezen- tas tardes e manhãs e o santuário será purificado”, indica que Jesus retornaria uma segunda vez a esta Terra, agora sim para fazer justiça aos homens. Utili- zando o princípio profético de dia = ano (cf. Números 14:34 e Ezequiel 4:7), diz que a contagem do referido período começou em 457a.C. (ano em que o rei persa, Artaxerxes deu ordem para a reconstrução da cidade de Jerusalém) e que, por isso culminaria entre março de 1843 e março de 1844. Em agosto de 1844, Samuel S. Snow apresentou os seus estudos que apon- tavam para o retorno de Cristo no dia 22 de outubro de 1844. Esse ministro protestante milerita concluiu que a purificação do santuário descrita na profe- cia de Daniel iria ocorrer em 22 de outubro de 1844 de acordo com o calen- dário profético-judaico dos caraítas. A princípio temeram essa exatidão, mas depois ficaram convencidos da conclusão. Não tendo isto acontecido, o dia 22 de outubro de 1844 foi marcado por uma profunda desilusão, conhecido como o Dia do Grande Desapontamento. A sensação de desânimo, decepção e dor tomou conta dos mileritas. Essa situação provocou uma divisão dos mileritas em três grupos. Alguns retornaram-se às suas igrejas de origem e abandonaram a crença na Segunda Vinda de Cristo, outros simplesmente abandonaram a fé e um terceiro grupo continuou crendo na mensagem adventista. Apesar da existência das doutrinas básicas da Igreja Adventista do Sétimo Dia nos finais dos anos 40 do século XIX, ainda não havia uma organização da forma como a que entendemos e conhecemos hoje. Segundo dados recolhidos num site oficial da Igreja,65 embora o nome Adventista do Sétimo Dia tenha 62 Ministro congregacional, teólogo, autor e educador norte-americano. Foi o 8º Presidente da Universi- dade de Yale. 63 O Segundo Grande Reavivamento Religioso dos Estados Unidos aconteceu na primeira metade do sé- culo XIX. Trouxe consequências de longo alcance, não apenas para a História da América mas, de todo o mundo. Está na base de alguns movimentos sociais como a abolição da escravatura e a participação das mulheres na vida política. 64 Nasceu e cresceu em Low Hampton, tendo frequentado a escola dos 9 aos 14 anos. Casou-se com Lucy Smith, e tornou-se maçon. Lutou na Batalha de Plattsburgh, em 1812. Em 1816 converte-se e é a partir dai que começa a estudar intensamente a Bíblia. É pai do movimento adventista apesar de não chegar a tornar-se Adventista do Sétimo Dia. Cf. OLIVEIRA, 1994: 27-31 65 www.centrowhite.org.br 36 sido escolhido em 1860,66 a denominação oficial foi organizada em 21 de maio de 1863, quando o movimento já se compunha de cerca de 125 igrejas e 3.500 membros. A Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia é, assim criada em maio de 1863, sendo o Primeiro Presidente João Byigton (1863-1865). Entre os pioneiros, destacam-se José Bates,67 Tiago White68 e Ellen Gould White69 2.2. Organograma e Logótipo Organograma A hierarquia da Igreja Adventista do 7º Dia está assim organizada: - Associação ou Conferência Geral que fica em Spring Field, Maryland, Estados Unidos da América; - Divisão. São 13 as divisões administrativas da Igreja, espalhadas pe- los mais diversos continentes. Cabo Verde situa-se na Divisão Centro-Oeste Africana, que inclui ainda o Benin, a Burkina Faso, os Camarões, a Repú- blica Centro Africana, o Chade, a Costa do Marfim, a Guiné Equatorial, o Gabão, Gâmbia, o Gana, a Guiné Conacry, a Guiné-Bissau, a Libéria, o Mali, a Mauritânia, o Níger, a Nigéria, a República do Congo, o Senegal, a Ser- ra Leoa e o Togo. Cada divisão é, por sua vez, dividida em várias uniões. Seguem-se as Missões ou Associações e, finalmente, as igrejas locais. Cabo Verde tornou-se uma Associação com autonomia própria no ano de 2005 a quando de mais uma Assembleia Trienal. O critério de autonomia tem a ver particularmente com a capacidade de poder auto sustentar-se financeira- mente, ficando assim menos dependente das estruturas superiores, no caso concreto, da União do Sahel e da Divisão Centro-Oeste Africana. 66 É que, por esta altura foi fundada a Primeira Associação de Adventistas do Sétimo Dia de 67 Michigan, sendo presidente William A. Higley, que não era pastor. Nasceu em Rochester em 1818 e casou-se com Prudence Nye. Não usava bebidas alcoólicas, não fumava, não comia carne e nem bebia chá ou café. Em 1839 torna-se milerita, dedicando-se inteiramente à causa. Foi um dos que passou pelo desapontamento de 1844, mas permaneceu firme à causa. Em 1845, decide que deveria guardar o Sábado. Presidiu à reunião oficial que adoptou o nome “Adventistas do Sétimo Dia” para designar àqueles que guardavam o Sábado mas que também aguardavam a Segunda vinda de Cristo. Morreu em 1872. www.earlysda.com/bates/joseph-bates - www.whiteestate.org/pathways/jbates.asp 68 Tiago White nasceu em 1821 em Maine e em 1842 tornou-se Milerita. Pela sua grande dedicação à obra, com grande sucesso evangelístico, foi ordenado Ministro em 1843. Também sofreu com o desapontamento de 1844, permanecendo, todavia firme. Em 1845 conheceu Ellen Harmon com quem viria a se casar no dia 30 de agosto de 1846. Tornar-se-á dirigente dos Adventistas Guardadores do Sábado, contribuindo assim para a formação da Assembleia-geral dos Adventistas do Sétimo Dia em maio de 1863. Morre a 6 de agosto de 1881 no Sanatório de Battle Creek. 69 Filha de pais metodistas, nasceu em 1826. A sua família era numerosa, sendo ela e a irmão gémea, Elizabeth as mais novas. Aos nove anos de idade, em Portland, para onde a sua família tinha mudado, a menina Ellen Harmon foi atingida por uma pedra no nariz que quase a matou, sendo obrigada a parar de estudar. Em 1840 conheceu a mensagem milerita e em 1843, ela e toda a sua família foram expulsos da Igreja Metodista por causa de suas novas crenças. Pouco tempo depois de casar com o pregador Tiago White, casam-se e deste casamento, nascem três filhos, Henry, Edson, William e John Herbert. Somente dois chegaram até a idade adulta (Edson e William). Foi autora de mais de 60 livros, revistas entre outros artigos. Morre em junho de 1915, com 87 anos de idade, sendo sepultada ao lado do seu marido. 37 38 Fig.2. Cabo Verde no contexto da União Missão do Sahel: Total do crescimento de membros por país, entre 2006 a setembro de 2010 Membros Ganhos Membros Perdidos durante o Ano durante o Ano Benin 14 45 3745 1144 1 175 68 7 5 9 6 0 5106 Burkina Faso 11 63 2981 758 2 13 0 8 14 1 0 0 3731 Cabo Verde 31 34 4874 2170 5 0 132 42 28 229 0 320 6562 Costa do Marfim 60 88 10473 2249 8 118 86 120 85 29 9 341 12350 Guiné Conakry 2 35 953 410 0 0 115 13 4 0 0 31 1430 Guiné Bissau 2 22 2343 667 0 0 70 0 7 729 0 89 2255 Mali 3 22 1333 249 0 7 11 4 0 22 0 16 1558 Níger 1 0 201 48 4 5 0 22 2 33 26 6 169 Senegal/Mauritánia 3 8 442 64 1 6 6 2 4 0 0 0 513 Togo 39 91 9306 2510 3 28 76 28 63 2012 4987 69 4764 Total 166 408 36651 10269 24 362 564 246 212 3064 5028 872 38438 Fonte: Rapport de la 7º Assemblee Administrative Quinquennale de L`Union Mission du Paises da União do Sahel Igrejas Grupos Membros Início do Quinquénio Batismo Profissão de Fé Transf. Entrada Ajustes Transf. Saida Mortes Apostasia Perdas Ajustes Membros No Final do Quinquénio Fig.3. Logótipo É o globo terrestre que tem como base uma bíblia aberta ladeada por 2 gru- pos de três linhas amarelas envolventes (chama). Um dos grupos das linhas (chama) forma uma cruz com a parte central da bíblia. 2.3. Caraterização da IASD 2.3.1. A Igreja em números A IASD tem a sua sede em Silver Spring, Maryland, Estados Unidos da América. O Presidente, é eleito democraticamente, por delegados represen- tativos de todo o mundo adventista.70 Na reunião da Conferência Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, realizado em finais do mês de junho, inícios de julho de 2010, em Atlanta, Estado Unidos da América, foi escolhido como o novo presidente o pastor Ted Wison, norte americano. Seguem-se alguns números relativos à Igreja à volta do mundo. Os dados mais uma vez foram obtidos a partir das estatísticas da IASD disponíveis no seu site oficial.71 São dados com a atualização de fevereiro de 2009. Fig.4. Panorama Geral da IASD Pastores Igrejas Membros Ordenados Total no Activo Empregados 64,017 15,660,347 15,916 201,103 Fonte: http://www.adventist.org/world_church/facts_and_figures/ 70As mulheres, apesar de desempenharem desde sempre um papel fundamental na vida da Igreja (relembre- -se que um dos fundadores da Igreja foi um senhora – Ellen White), continuam a não ser escolhidas para a presidência da Conferência Geral, pois este cargo só é ocupado por pastores que já foram consagrados. O acto de consagração é um reconhecimento oficial da Igreja para um pastor que já deu provas do seu trabalho e que de agora em diante passa a trabalhar a tempo inteiro na obra como ministro evangélico. Às mulheres apesar de ser permitido estudar teologia, não se permite oficialmente o trabalho como pastoras. Algumas congregações locais já têm essa prática, mas sem aprovação da Conferência Geral. Na verdade esta foi uma proposta apre- sentada na Assembleia-geral da IASD realizada em Utreque, Holanda, em 1995 mas acabou por ser chumbada 71 Site: http://www.adventist.org/world_church/facts_and_figures/ 39 Fig. 5. Missão no Mundo Países reconhecidos Países onde Associações pela ONU existe Divisões PUniões/Con- ferências Locais 201 13 103 571 Fonte: http://www.adventist.org/world_church/facts_and_figures/ Fig. 6. Programa Educacional Escolas Escolas Escolas Primarias Secundarias Profissionais Total Escolas 5,716 1,577 42 7,442 Fonte: http://www.adventist.org/world_church/facts_and_figures/ Fig. 7. Indústria Alimentar e Instituições de Saúde Industrias Hospitais Orfanatos e Clínicas Alimentares e Sanatórios Casas de Crianças e Dispensários 24 168 33 433 Fonte: http://www.adventist.org/world_church/facts_and_figures/ Fig. 8. Contribuições Monetárias Dízimos Dízimos per capita Ofertas Total de Dízimos e Ofertas $1,911,649,916 $113.68 $59,601,995 $2,668,006,564 Fonte: http://www.adventist.org/world_church/facts_and_figures/ Fig. 9. ADRA – Associação Adventista para o Desenvolvimento, Recursos e Assistência Áreas e países Total de Nº Beneficiários Valor Total onde envolvidos Projectos dos Projectos das ajudas 125 1,407 45,353,488 $420,590,744 Fonte: http://www.adventist.org/world_church/facts_and_figures/ Comentários: a ideia geral que podemos retirar destas informações, ape- sar de serem internas, é de que estamos a falar de uma instituição com uma estrutura bem organizada e funcional, abrangendo campos vastíssimos (não apenas os aspetos religiosos, como se poderia supor inicialmente). 40 2.3.2 Aspetos doutrinários A Igreja Adventista do Sétimo Dia é uma igreja de caráter universal e, por isso, os seus membros e as suas congregações à volta do mundo partilham as mesmas filosofias, as mesmas doutrinas e os mesmos princípios.72 “‛Os adventistas do sétimo dia aceitam a bíblia como seu único credo e mantêm certas crenças fundamentais (…). Estas crenças, (…) constituem a compreensão e a expressão do ensino das Escrituras por parte da Igreja.” 73 Reconhecem-se, hoje, 28 crenças fundamentais dos adventistas do sétimo dia, apesar da relutância que ao longo dos tempos, se teve “em formalizar um credo (no sentido usual desta palavra). Entretanto, - (…) tendo em vista pro- pósitos práticos -, temos constatado a necessidade de resumir nossa crença numa estrutura organizada”.74 Apresentámo-las, resumidamente, num esquema que se segue: A Doutrina de Deus 1. A Palavra de Deus: Revelação geral (Salmos 19:1; Romanos 1:20); Revelação Especial ou de Si próprio (Hebreus 1:1-2) 2. A Trindade: Há duas evidências fundamentais (1ª - a criação, in- cluindo a natureza e a consciência humana [Gén.1-3]; 2ª - A Bíblia Sagrada [Salmos 19:1; Romanos 1:20] 3. Deus Pai: (Daniel 7:9,10; Êxodo 33:20) Nenhum pecador ser huma- no conseguiu jamais ver a Deus, tão pouco temos alguma fotogra- fia de Sua pessoa. 4. Deus Filho ou Deus Encarnado: (1 Pedro 1:19,20; Gálatas 4:4; João 3:16). 5. Deus Espírito Santo: quem é o Espírito Santo? A Bíblia revela que o Espírito Santo é uma pessoa, e não uma força ou poder impesso- al (Atos 15:28); ele é verdadeiramente Deus (Atos 5:3,4; Mateus 28:19-20). A Doutrina do Homem 6. A Criação: (Génesis1:2, 2:1; Êxodo 20:11) 7. A Natureza do Homem: Sua origem (Génesis1:26,27, 2:7) 72 A Igreja, como instituição está ciente das várias correntes dissidentes que tem surgido dentro do seu próprio seio, mas ela permanece inabalável aos princípios que defende. Aqueles que por razões várias deixam de partilhar dos mesmos princípios doutrinários ou começam a servir de escândalo para a Igreja, nomeadamente com uma má conduta moral e social, são excluídos do rol de membros. 73 NISTO CREMOS, 2011:5 74 Idem, ibidem 41 A Doutrina da Salvação 8. O Grande Conflito: A origem do conflito (Isaías 14:12; Ezequiel 28:14; Apocalipse 12:7-10) 9. Vida, Morte e Ressurreição de Cristo (I João 4:8; João 3:16; Géne- sis 3:9) 10. A Experiência da Salvação: (Efésios 5:25-27; João 14:6; 2 Corín- tios 5:21) 11. O Crescimento em Cristo: (Romanos 8:1); “Com Sua morte na cruz, Jesus triunfou sobre as forças do mal. Aquele que durante Seu ministério terrestre subjugou os espíritos demoníacos quebrou o poder do maligno e confirmou sua condenação final.”75 A Doutrina da Igreja 12. A Igreja: (Mateus 16:18; I Coríntios 10:4, 3:11) 13. O Remanescente e sua Missão: O que é o remanescente? (II Cró- nicas 30:6); “Ao descrever a batalha do dragão contra a mulher e a sua descendência, João utilizou a expressão`os restantes da sua semente`(Apocalipse 12:17). Esta expressão significa `os que sobraram`, ou `remanescentes`. A bíblia retrata o remanescente como um pequeno grupo de filhos de Deus, que ao longo de cala- midades, guerras e apostasias, permanece fiel a Deus.”76 14. Unidade no corpo de Cristo: (Efésios 4:4-6; I Cor. 12:4-6; João 15:1-6) 15. O Batismo: O exemplo de Cristo. O batismo de Jesus colocou para sempre sobre esta ordenança a divina sanção (Mateus 3.13-17, 21:25, 28:18-20) 16. A Ceia do Senhor: A Ceia do Senhor é uma participação nos em- blemas do corpo e do sangue de Jesus como expressão de fé n`Ele, nosso senhor e salvador (João 6:48-54, 13:14-17) 17. Dons e Ministérios Espirituais: (Mateus 25:14,15; I Coríntios 12:11) 18. O Dom de Profecia: (II Crónicas 20:20; Amós 3:7; Efésios 4:11,12); “Um dos dons do Espírito Santo é a profecia. Esse dom é uma ca- racterística da igreja remanescente e foi manifestado no ministério de E. G. White. Como a mensageira do Senhor seus escritos são uma contínua e autorizada fonte de verdade e proporcionam con- forto, orientação, instrução e correção à igreja.”77 75 NISTO CREMOS, 2011:5 76 Idem:215 77 Idem:276 42 A Doutrina da Vida Cristã 19.A Lei de Deus: (Deuteronómio 33:2,3; Eclesiastes12:13;Êxodo 20:3-17) 20.O Sábado: (Génesis 2:1-3; Êxodo 31:17; Tiago 2:10) 21.Mordomia ou Gestão Cristã da Vida: (I Coríntios 4:1,2; 6:19,20; Lucas 10: 27) 22.Conduta cristã: (Romanos 12:1-2; João 17:15,16, 10:10) 23.Matrimónio e Família: (Génesis 1:31;2:18;). A Doutrina dos Últimos Eventos 24. O Ministério de Cristo no santuário celestial: em 1844, no fim do período profético dos 2.300 dias, Ele iniciou a segunda e última etapa do Seu ministério expiatório. É uma obra de Juízo investi- gativo, a qual faz parte da eliminação final de todo pecado, pre- figurada pela purificação do antigo santuário hebraico, no dia da expiação (Êxodo 25.9,40; Heb. 9:22-24, 7:25,26) 25. A Segunda Vinda de Cristo: (João 14:1-3; Apocalipse 22:20; Ma- teus 24:30). 26. Morte e Ressurreição: (Génesis 3:19; Romanos 6:23; João 5:28,29) 27. O Milénio e o Fim do Pecado: (Apocalipse 20:1-4; Jeremias 4:23- 25; Apocalipse 20:10,15) 28. A Nova Terra: (II Pedro 3:10-13; Apocalipse 21:1,11,18); “João uti- liza termos românticos para configurar a beleza da Nova Jerusalém: A Cidade é semelhante a uma `noiva adornada para o seu esposo` (Apocalipse 21:2). A descrição dos atributos físicos que ele faz da cidade retrata a sua realidade.” É a partir destas 28 doutrinas, baseadas na Bíblia, que a IASD assenta o seu credo, que se pode organizar num tripé. A Igreja defende o desenvolvi- mento físico (saúde), espiritual (teologia) e intelectual (educação) dos seus membros. Esses três aspetos complementam-se. Na verdade, trata-se de um elo e não se podem separar, a não ser por razões pedagógicas, como ago- ra faremos. Não, não vamos desenvolver um estudo sobre as 28 doutrinas. Mas com base nesse tripé, descreveremos algumas crenças que notoriamente caracterizam a Igreja Adventista do Sétimo Dia e, nalguns casos a fazem distintiva, em relação às outras denominações, cristãs e não só. Comecemos com a doutrina nº 18 – O Dom da Profecia. A IASD acredita que antes do pecado, Deus falava com o Homem face a face, mas por causa do seu aparecimento, Deus passou a falar através do dom de profecia. Assim sendo, Deus começa a revelar-se através de sonhos e visões. “Então disse: Ouvi agora as minhas palavras: se entre vós houver profeta, 43 eu, o Senhor, a ele me farei conhecer em visão, em sonhos falarei com ele.”78 Por isso, é a Deus que cabe escolher os profetas. “E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres, tendo em vista o aperfeiço- amento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo.”79 O profeta é aquele que deve comunicar as palavras de Deus e, o dom de pro- fecia é apenas um dos dons espirituais,80 a partir do qual Deus ensina, adverte, corrige e educa o seu povo. É que, “não havendo profecia, o povo se corrompe (…).”81 E que tempo, melhor do que o nosso, em que o(s) povo(s) precisa(m), desesperadamente de orientação moral e espiritual, como o nosso? Se Deus não suscitasse profetas para esse tempo, não estaria Ele a ser injusto para conosco, em relação aos povos das eras passadas? Inferimos, por essa lógica que, Deus servir-se-ia de profetas modernos. Todavia sabemos que, quer sejam profetas verdadeiros, quer sejam falsos, acabam por ser objetos de chacota entre os seus contemporâneos. Alguns por culpa própria, pela incoerência entre o que pregam e o que vivem, por falarem inverdades, mas também pela incompreensão infundada por parte de terceiros. Não nos demoraremos em falar sobre falsos profetas, talvez nem tempo teríamos, pois assim como fazem os grandes bancos e banqueiros, a atenção maior é dada a contar as notas verdadeiras e não as falsas. Falemos com convicção, mas sem presunção, sobre o profeta de Deus. Segue-se um quadro elucidativo de acordo com os padrões bíblicos e corroborado pela IASD, sobre as caraterísticasde um profeta verdadeiro. Fig. 10. Provas de um verdadeiro profeta Provas Referências Provas Referências Espirituais Bíblicas Físicas Bíblicas Fala de acordo com a palavra de Deus Isaías 8:20 Perde as forças naturais Dan.10:8,16,17 Suas advertências cumprem Jer. 28:9 Recebe força sobrenatural Dan.10:18-19 Mostra a verdade de Deut.13:1-4 Mantêm os Deus às pessoas I Reis 18:21 olhos abertos Núm.24:3 78 NÚMEROS 12:6 79 EFÉSIOS 4:11-13 80 Ver referências sobre a Doutrina nº 17 81 EFÉSIOS 4:11-13 44 Estimula a obediên- cia aos 10 Manda- II Crón. 24:19-20 mentos Apoc.12:17 Não respira Dan.10:17 Sua obra dá bons frutos Mat.7:15-20 Fala sem respirar Dan. 10:17-20 Confessa que Cristo virá em carne I João 4:2,3 A língua é controla- da pelo Senhor II Sam.23:2 Prepara o povo para se encontrar com o Lucas 1:17 Não tem consciência Senhor daquilo que o cerca II Cor.12:2-4 Fonte: Sermão O Dom da Profecia, Série Verdades Bíblicas Todavia, apesar da situação de escárnio e ridículo a que os profetas acabam por cair, a IASD reconhece o dom de profecia na igreja remanescente. Veja-se, por isso, o conjunto de três séries de versículos que se seguem: “Acontecerá depois que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos anciãos terão sonhos, os vossos mancebos terão visões; e também sobre os servos e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu Espírito. E mostrarei prodígios no céu e na terra, sangue e fogo, e colunas de fumaça.” 82 “E o dragão irou-se contra a mulher, e foi fazer guerra aos demais filhos dela, os que guardam os mandamentos de Deus, e mantêm o testemunho de Jesus. E o dragão parou sobre a areia do mar.” 83 “Então me lancei a seus pés para adorá-lo, mas ele me disse: Olha, não faças tal: sou conservo teus e de teus irmãos, que têm o testemunho de Jesus; adora a Deus; pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia.”84 São profecias referentes ao futuro. Por isso, também, o dom de profecia deveria ser esperado para o fim dos tempos. A IASD crê que representa a Igreja remanescente (da profecia bíblica/ de Deus) e que na pessoa de E.G.White (1827-1915),85 Deus manifestou o (puro) dom de profecia bíblica. As críticas e contra críticas sobre a posição assumida pelos adventistas do sétimo dia vêm de quase todos os lados. Mas apresentam-se várias respostas a estas críticas e objeções. Sigamos o seguin- te raciocínio: A IASD acredita que a história é teocrática e providencialista e que nada acontece por acaso. 82 JOEL 2:28-30 83 APOC.12:17 84 APOCALIPSE 19:10 85 Ver dados biográficos no sub-capítulo 2.1 45 Igualmente, acredita que a salvação só se encontra na pessoa de Jesus Cristo e que, pessoas de todas as nações, raças, tribos e povos são convidados a aceitarem essa mesma graça. Também defende que ao longo dos tempos, Deus teve um povo (geral- mente, numericamente menor em relação ao restante da população) e que de acordo com várias profecias bíblicas (Daniel 8:24, por exemplo)86 e outras evidências, nomeadamente a guarda dos 10 mandamentos, segundo escritos no livro de Êxodo 20:3-17, e o facto de possuir o dom de profecia, faz dela uma igreja distinta. Retomemos a pessoa da senhora White. Ela foi uma profetiza não apenas da IASD, mas de Deus. Porquê? A resposta é que ela passou nos testes bíbli- cos, nas provas bíblicas de credibilidade. Provas físicas: “Especialmente durante os primeiros anos de sua obra, as visões da Srª White eram frequentas vezes concedidas na presença de muitas testemunhas. Durante essas manifestações ela ficava inteiramente incons- ciente de tudo quanto a rodeava na terra. Contudo, frequentemente andava e fazia graciosos gestos enquanto descrevia as cenas que testemunhava. Sua força em tais ocasiões era fenomenal. Homens fortes esforçacam-se por mo- ver sua mão ou braço da posição em que se mantinha, mas não o conseguiam. Uma ocasião, em casa do Sr.Curtis, em Topsham (Maine), em1845, ela to- mou de sobre a cômoda uma grande bíblia, de uso da família, que pesava cerca de oito quilos, e, segurando-a com o braço esquerdo estendido, em posição mais alta que a cabeça, virava as páginas com a mão direita. E então com os olhos voltados para cima em direcção diversa da do livro, lia cor- rectamente muitas passagens das Escrituras, apontando os versículos com o indicador da mão direita. Com sua força normal ela teria dificuldade mesmo para levantar aquele pesado volume; enquanto, porém, de modo sobrenatural fortalecida em visão, susteve-o erguido, com o braço estendido, durante mais de meia hora.” 87 Provas espirituais: “Talvez não tenhamos sabedoria bastante para bem definir que parte precisamente da obra da Srª White foi de maior valor para o mundo; todavia, parece que a grande quantidade de literatura profundamente religiosa que deixou, se mostra ser da maior utilidade para todos (...)”88 Ao longo da sua vida (88 anos) recebeu mais de 2000 visões e sonhos, tendo escrito mais de 20.000 páginas, versando temas como a educação, a saúde e a espiritualidade, entre outros assuntos. “ Ela repousa agora. Sua voz silen- ciou; depôs a pena. Mas a influência poderosa de sua vida ativa, esforçada 86 Ver a explicação desta profecia, igualmente no sub- capítulo 2.1. 87 WHITE, s.d.:250, 251 88 Idem, s.d.:255 46 e repleta do Espírito Santo, continuará. Sua vida, ligada às coisas eternas, cumpriu-se em Deus.”89 Veja-se, para a citação de Francis D.Nichol, sobre a origem dos seus escritos: “Mas os próprios escritos (de E.White) fornecem a melhor prova de sua origem divina.”90 Para aqueles que a criticam e a Igreja Adventista, de colocar os seus escri- tos acima da bíblia, a resposta vem da própria senhora White: “Tomo a Bíblia tal como ela é, como a Palavra Inspirada… Irmãos, ne- nhuma mente ou mão se empenhe em criticar a Bíblia… Apegai-vos à Bíblia, tal como ela reza.”91 “Os testemunhos não estão destinados a comunicar nova luz; e sim a im- primir fortemente na mente as verdades da inspiração que já foram revela- das. Os deveres do homem para com Deus e seu semelhante estão claramente discriminados na Palavra de Deus, mas poucos de vocês se têm submetido em obediência a essa luz. Não se trata de escavar verdades adicionais; mas pelos Testemunhos Deus tem facilitado a compreensão de importantes ver- dades já reveladas.”92 Um cientista brasileiro,93 não adventista do sétimo dia, escreveu sobre E.G.White, aquilo que passamos a transcrever: “O fato que não podemos ocultar, porque é ressaltado pela Ciência, é que a Grande Nebulosa de Órion, emite uma luz tão extraordinária, tão potente que não permite ser focalizada na sua plenitude por telescópio algum. Que significaria toda essa maravilhosa luminosidade? Que haverá por ali ou na- quela direcção? Somente 0 (theta orionis), ou podemos imaginar uma estrela maior do que --- (epsilone) do Cocheiro? Se de imaginar se trata, por que não podemos crer que o trono de Deus esteja naquela direcção, bilhões de quilómetros afastado? Uma escritora americana, E.G.White, que nada sabia de Astronomia e que provavelmente nunca ouviu falar da nebulosa de Órion, em um dos seus livros, traduzido para o português com o título de ‛Vida e Ensinos’, depois de co- mentar essa luminosidade escreveu: ‛A atmosfera abriu-se e recuou; pudemos então olhar através do espaço aberto em Órion, donde vinha a voz de Deus. A santa cidade descerá por aquele espaço aberto’ (op.cit.pág.113) Isto dito assim tão simplesmente e por quem nunca olhou um livro de as- tronomia e nem sonhava com ‛buracos’ em parte alguma do céu só pode ser creditado a dois fatores: histerismo ou inspiração. Para ser histerismo, parece 89 Ibidem 90 NICHOL, 2004:398 91 WHITE, s.d.: 17-18 92 WHITE, s.d.: 605 93 AMINHAM, s.d.: 280,281 47 cientifica de mais a afirmação de que toda uma cidade (a Nova Jerusalém) tenha livre passagem pelo túnel de Órion. A escritora não sabia do túnel, nem que ele é tão largo a ponto de comportar 90 sistemas solares. Terá sido revela- da a essa escritora uma verdade que os astrónomos não puderam descobrir?” Quando ao último texto citado, dispensa comentários extras. Acrescemos que é graças ao dom de profecia, reconhecida na pessoa de E.G.White, que a Igreja Adventista do Sétimo Dia tem um enorme acervo de materiais e conselhos quer sobre a educação, quer sobre a saúde e conduta espiritual para os membros. Comecemos com a educação. Esta ocupa um papel primordial nesta ins- tituição cristã. As origens da educação adventista estão ligadas ao surgimento do movi- mento adventista no século XIX.Os pioneiros da igreja decidiram criar es- colas que, com o passar dos tempos se expandiram, recebendo crianças de famílias que, apesar de não serem adventistas também se simpatizavam com os métodos e a filosofia das escolas adventistas. Foi em maio de 1872 que, oficialmente a igreja aceitou a responsabilidade de dirigir a sua primeira es- cola, localmente gerida em Battle Creek, Michigan. Nos inícios de junho, a escola começa a funcionar com doze alunos. Tratava-se de uma escola com propensão para atender quer ao nível primário, mas também ao secundário. Dois anos mais tarde matriculavam-se 100 alunos no agora chamado Colégio de Battle Creek.94 Quando foram criadas as primeiras escolas – adventistas – no século XIX, estas surgiram com o intuito de incutir na mente dos mais novos princípios cristãos que, já na altura se acreditava, faziam falta à socie- dade. Inicialmente serão escolas simples, pequenas e muitas vezes funciona- vam em casas desocupadas, quintas ou jardins. Mas depois de algum tempo, influenciado também pelo desenvolvimento da própria vida urbana, estes simples estabelecimentos de ensino começaram a oferecer mais condições. Algumas foram obrigadas a modificarem a sua estrutura educacional devido às exigências estatais, e com o passar do tempo deixaram de ser pequenas es- colas missionárias no campo para passarem a ser colégios dentro de grandes cidades. Todavia, apesar dos tempos e das leis se alterarem ou da população se multiplicar de forma considerável, a educação adventista mantém os mes- mos fundamentos que nortearam o seu surgimento. Hoje, como inicialmente, a educação adventista continua a defender o mesmo: “preparar para esta vida e para a eternidade”. A Igreja Adventista do Sétimo Dia patrocina e opera o maior sistema particular de educação unificado no mundo, com uma mesma filosofia, em harmonia com o modelo organizacional da igreja. A educação 94 WHITE, s.d., p.250, 251 48 adventista fundamenta-se na Bíblia e nos conselhos de E.G.White.95 A filosofia adventista da educação é cristocêntrica. Os adventistas crêem que, sob a direção do Espírito Santo, o caráter e os propósitos de Deus podem ser conhecidos conforme revelados na Bíblia, em Jesus Cristo e na Natureza. As caraterísticas distintivas da educação adventista – derivadas da Bíblia e dos escritos de Ellen G. White – apontam para o objetivo redentor da verda- deira educação: restaurar os seres humanos à imagem de seu Criador. A Igre- ja Adventista do Sétimo dia acredita ser a Igreja Remanescente da Profecia Bíblica e, por isso, ter a responsabilidade de levar ao mundo o melhor, o ver- dadeiro conhecimento e, o “verdadeiro conhecimento é divino”.96 Escrevia a mesma autora que “a verdadeira educação significa mais do que um curso de estudo. É vasta. Inclui o desenvolvimento harmónico de todas as aptidões físicas e mentais e ensina o amor e o temor de Deus, sendo o preparo para o fiel desempenho dos deveres da vida”.97 Por outro lado, a mesma autora opina: “ Há uma educação que é essencialmente mundana. O seu objetivo é o êxito no mundo, a satisfação de ambições egoístas. A fim de adquirir essa educação, muitos estudantes despendem muito tempo e dinheiro em encher a mente com conhecimentos desnecessários”.98 O objetivo primordial da edu- cação, segundo a mesma autora é: “adquirir conhecimento e sabedoria para que possamos tornar-nos melhores cristãos, e estar preparados para maior utilidade, prestando serviço mais fiel a nosso Criador, e levando outros tam- bém a glorificar a Deus pelo nosso exemplo e influência”.99 Segue-se um quadro onde se apresentam os dados estatísticos sobre a educação adventista no mundo até finais de dezembro de 2007. 95 Para além de ser uma das pioneiras da IASD, Ellen foi uma escritora de mérito, escrevendo cerca de 60 livros e manuscritos. Versou temas vários, como a religião, a saúde, mas também a educação. Grande parte dos seus escritos foram compilados depois da sua morte, o que explica que por vezes se encontrem repetições de algumas passagens ou ideias em livros distintos. 96 Citação livre atribuída a Ellen White 97 WHITE, 2000:64 98 Ibidem 99 Idem, 2000: 49 49 Fig. 11 - Educação Adventista no Mundo até 31 de dezembro de 2007 Escolas Professores Estudantes Primárias 5,715 40,220 954,879 Secundárias 1,578 25,890 404,540 Escolas Profissionais 42 550 6,922 Colégios e Universidades 107 7,971 112,795 Total 7,442 74,631 1,479,136 Fonte: Departamento da Educação da Conferência Geral dos Adventistas do 7º Dia Como já tínhamos referido mais atrás, a educação adventista caracteriza- -se por abarcar todos os níveis de ensino, desde os elementares até ao uni- versitário. As escolas primárias são aquelas que se apresentam em maior número, com mais de 50% do total dos professores.100 As escolas secundá- rias seguem em segundo lugar. Curiosamente os colégios e universidades ultrapassam o número das centenas, sendo inclusive em maior número do que as escolas profissionais. Os dados estatísticos que apresentamos foram os únicos que encontramos disponíveis em relação à educação adventista. Eles falam por si e, não podem necessariamente ser vistos como uma publicidade à IASD. De entre os vários nomes de instituições adventistas, destacam-se Andrews University, no Mi- chigan, e Loma Linda University na Califórnia, Estados Unidos da América. Principalmente este último, pelo seu contributo nas ciências e investigações médicas. Relembra-se que a saúde é um dos outros importantes aspetos de- fendidos pela IASD. Para além do Departamento de Saúde da Conferência Geral, existem os vários departamentos de saúde das igrejas ou congregações locais que procu- ram promover um estilo de vida saudável quer dos seus membros como tam- bém de toda a comunidade. Realizam-se cursos como deixar de fumar,101 cur- sos de culinária, educação sanitária, controlo do stress entre outras atividades. Os adventistas do sétimo dia defendem que “o corpo é o templo do Espí- rito Santo” (I Cor. 6:19) e, por isso deve-se abster de tudo o que o possa 100 Estes, mesmo que não sejam todos adventistas do sétimo dia, devem pautar por uma postura que dignifique a instituição que representam. 101 Em 2011, o governo de Cabo Verde, reconheceu oficialmente o trabalho que a Igreja Adventista tem feito, nomeadamente na luta contra o tabagismo e os seus malefícios e consequente promoção da saúde dos seus cidadãos. 50 prejudicar e, por outro lado, tudo fazer para o seu desenvolvimento saudável. Curiosamente há um acróstico em inglês e que resumidamente transmite a ideia daquilo que a IASD advoga quanto a saúde. O acróstico é New Start (Novo Começo). A noção de corpo-templo leva-os a considerar o desenvol- vimento de hábitos corretos de saúde. A Bíblia vê o ser humano como uma unidade. A separação entre espiritual e material é estranha à Bíblia. Trata-se da influência da cultura grega na cristã. Assim o chamado de Deus a uma vida melhor envolve tanto a saúde física quanto a espiritual. Por essa razão os adventistas do sétimo dia - ao longo dos últimos 100 anos - têm salientado a importância da saúde. E essa ênfase tem compensado: pesquisas recentes revelam que os adventistas têm muito menos probabilidade de contrair qual- quer uma das grandes enfermidades da atualidade. A obtenção de saúde de- pende da prática de uns poucos e simples princípios. Exercício regular que é a fórmula simples para se obter energia, corpo firme, alívio de tensão, pele mais saudável, maior autoconfiança, controlo de peso efetivo, digestão me- lhorada e regular, redução da depressão e risco de enfermidades cardíacas e cancro. Fazer exercício não significa necessariamente ir todos os dias para o ginásio, mas pelo menos uma caminhada 3 ou 4 vezes por semana. Claro que há exagero nos exercícios, mas geralmente a maior parte das pessoas erra por omissão, ou seja, faz pouco ou nenhum exercício físico. Os adventistas cha- mam a atenção aos desportos de competição e a sua atitude quando se juntam para fazer atividades físicas (jogos de competição), nunca esquecendo que são, em todas as circunstâncias, embaixadores de Cristo neste mundo. A luz solar, por sua vez aciona o processo que produz os nutrientes que alimentam e dão energia ao corpo. A luz solar promove saúde e cura. A luz do sol mata muitos micróbios. Quanto à água, é de se ressaltar que o uso de seis a oito copos de água pura por dia, ajudará a manter o bem-estar. Outra importante função da água é o seu uso para limpeza e para efeito relaxante que ela pro- duz. O ar puro é importante, fazendo com que o sangue transporte mais oxi- génio, para o funcionamento ideal da célula. A ausência de drogas é um dos outros aspetos da saúde defendidos pelo New Start da IASD. Pesquisas têm demonstrado que as drogas mais leves (café, fumo e álcool), além de provo- car efeitos nocivos, tendem a conduzir progressivamente ao uso de drogas mais fortes, capazes de alterar o funcionamento mental. O repouso é reque- rido como fundamental para a recuperação das energias. Descansar é mais que dormir ou cessar as atividades regulares. Envolve a forma como se utili- za o tempo de lazer. O cansaço nem sempre é produzido por stress ou por trabalhos demasiado pesados ou prolongados: a mente pode sentir-se sobre- carregada através da super estimulação causada pelos meios de comunica- ção, enfermidades ou problemas pessoais. Outro ponto defendido pela New 51 Start é a Confiança. A revista Newsweek chamou a década de 90 de “Era da Ansiedade”. No mundo incerto em que se vive, todos querem encontrar algu- ma certeza, todos precisam confiar em alguém. Os adventistas crêem que há paz e tranquilidade ao se confiar em Deus. Quanto à nutrição, é bom ter em conta o velho ditado: “O que tu comes hoje é o que serás amanhã.” O deixar de manter o correto equilíbrio e variedade de alimentos, ou comer em dema- sia pode levar a um colapso na saúde e funcionamento do corpo. Comer bem, não significa necessariamente encher a barriga, mas é fazer uma escolha equilibrada de alimentos que devem ser muito bem combinados. E os adven- tistas, acham-se indesculpáveis perante isso. Na verdade, estudos e pesquisas têm demonstrado vantagens do estilo de vida dos adventistas do sétimo dia, nomeadamente quanto à alimentação. Em outubro de 1983 era publicado um artigo no New York Times,102 quanto às vantagens de uma alimentação vege- tariana. Partindo do ponto de vista da dieta vegetariana, com relação à abs- tenção da carne, rica em nutrientes como proteínas, ferro e vitamina B-12, mantinha-se uma interrogação: “Será mais saudável ser vegetariano ou usar a carne como alimento”. Por aquela altura, a América contava com cerca de 10 milhões de pessoas que se diziam vegetarianas, sendo a maioria jovens. Outros tantos milhões consideravam-se consumidores de carne. Para respon- der à questão que se formulou, o estudo baseou-se em alguns pressupostos. Primeiro é que uma dieta vegetariana apropriadamente planejada pode pro- ver todos os nutrientes essenciais mesmo para as crianças em crescimento. Os quasi vegetarianos, ou seja, aqueles que comem peixe têm pouca proba- bilidade de sofrer a falta de nutrientes essenciais. No geral, vegetarianos têm menos propensão de contrair doenças crónicas que lideram a lista de causa de morte nas sociedades modernas, onde a carne é um alimento indispensá- vel nas dietas. Isto não quer dizer que, segundo o estudo, uma dieta sem carne pudesse ser uma forma de cura para os males da artrite, da depressão ou das infeções vaginais, como proclamam alguns defensores do vegetaria- nismo. Igualmente as pesquisas científicas não corroboram com outras ideias acerca do vegetarianismo, nomeadamente de que comer carne possa contri- buir para a promoção de caráter agressivo, enquanto os vegetarianos são pas- sivos ou não agressivos. Ainda na mesma pesquisa, estudos definitivos sobre o estado de saúde de grandes grupos de vegetarianos estão por se fazer (isto há cerca de 20 anos), as evidências da altura (que não deverão ter sido alte- radas), indicavam que existem grandes vantagens na redução do alimento cárneo. Por outro lado e, ao mesmo tempo, não é necessário abster-se da carne para se gozar dos benefícios de saúde associados ao vegetarianismo. 102 Citação livre atribuída a Ellen White 52 Para isso é importante diminuir o consumo de alimentos cárneos e muito gordurosos e aumentar o consumo de vegetais, feijões e outros grãos. Se- guem-se exemplos de alguns factos que se sabem acerca do vegetarianismo: poucos problemas de coração, reduzido colesterol. Os ovo-lacto vegetaria- nos, ou seja, aqueles que ainda consomem ovo, leite e seus derivados, têm um maior nível de colesterol do que os chamados vegetarianos vegans, ou seja, os que se abstêm completamente de alimentos cárneos e seus derivados. De acordo com um estudo feito em Boston em 1981, quando cerca de 240 gramas de carne eram introduzidas na dieta de vegetarianos restritos, por um período de 4 semanas, o seu nível de colesterol aumentava 19%, ainda que não aumentassem de peso. A seguir apresentam-se os dados de um estudo realizado a vegetarianos adventistas do sétimo dia. Este estudo foi realizado pelos Doutores Roland Phillips e David Snowdon da Universidade de Loma Linda, Califórnia. A investigação durava já vinte anos e os resultados eram parcialmente publicados neste número da New York Times. Foram escolhi- dos aproximadamente 25.000 adventistas, sendo 50% ovo-lacto-vegetaria- nos. Os resultados diziam que homens adultos que comessem carne seis ve- zes por semana ou mais, estão duas vezes mais propensos a morte por problemas cardíacos do que os que se abstêm da carne. Os de meia-idade têm a probabilidade quatro vezes mais de sofrer fatais ataques de coração, de acordo com o mesmo estudo. Para as mulheres, que por sua constituição fí- sica estão mais protegidas por hormonas e, geralmente desenvolvem as do- enças de coração tardiamente em relação aos homens, a propensão para risco da doença é muito menor nas de mais idade. Os mesmos dados eram confir- mados em 1982, por pesquisas britânicas. Outras pesquisas sobre a alimen- tação vegetariana foram feitas em vários países da Europa e na Austrália e os resultados comprovavam a hipótese inicial levantada pela New York Times de que uma alimentação vegetariana pudesse trazer melhores benefícios para a saúde. Ainda falando sobre os adventistas do sétimo dia, a mesma revista afirma que nos Estados Unidos a probabilidade dos adventistas desenvolve- rem cancro de cólon ou de útero reduz-se para metade, comparativamente ao grosso da população. Os adventistas também apresentavam a menor taxa de incidência de cancro de peito, ovário, próstata e pâncreas. Para além da redu- ção de gordura animal, um outro aspeto que contribui para esta taxa positiva, entre os adventistas, diz o mesmo artigo, é a abstenção de cigarros, o uso de vegetais, grãos e feijões na dieta alimentar. Na Tufts University School of Medicine, os estudos do Dr. Barry Goldin e os seus colaboradores conclui- ram que a obesidade é maior em pessoas não vegetarianas e que apenas 15% de adventistas vegetarianos eram obesos, contra os 30 a 40% de adventistas que comiam carne e contra os 40% da população americana no geral. Por seu 53 lado, os vegetarianos vegans apresentam menos colesterol do que os ovo- -lacto-vegetarianos, Eram as conclusões do estudo da Dr. Johanna Dwyer, diretora da New England Medical Center of Nutrition. Um outro benefício que se apresenta aos vegetarianos é especialmente às mulheres grávidas. Na formação do feto, estas recebem menos poluentes químicos advindos da ali- mentação cárnea. Alinhavando os dois pés (educação e saúde), falta-nos concluir com o terceiro (espiritualidade), para que a bandeira do adventismo fique melhor hasteada, caraterizada A Crença Fundamental nº6 diz: “ Deus é o Criador de todas as coisas, e revelou nas Escrituras o relato autêntico de Sua atividade criadora. “Em seis dias fez o Senhor os Céus e a Terra” e tudo o que tem sobre a Terra, e descansou no sétimo dia dessa pri- meira semana. Assim ele estabeleceu ao sábado como perpétuo monumento comemorativo de Sua esmerada obra criadora. O primeiro homem e a primeira mulher foram formados à imagem de Deus como obra-prima da Criação, foi- -lhes dado domínio sobre o mundo e atribui-se-lhes a responsabilidade de cuidar dele. Quando o mundo foi concluído ele era “muito bom”, proclamando a glória de Deus”103 A IASD é uma das instituições cristãs que mais tem defendido a ques- tão do criacionismo como ponto fundamental para a base do cristianismo. Existem muitos sítios na internet estritamente ligados à temática. Há so- ciedades criacionistas apoiadas e sustentadas pelos adventistas do sétimo dia. Publicam-se frequentemente muitos livros, revistas entre outros peri- ódicos, tendo como pano de fundo a defesa do ponto de vista bíblico da criação.104 Os adventistas do sétimo dia acreditam na história da criação, não como uma metáfora, mas como algo que aconteceu realmente. Deus falou, e as coisas apareceram há cerca de 6 mil anos. “A defesa deste ponto de vista histórico-bíblico sobre a criação não assenta simplesmente numa atitude de menosprezo cego e indiferente para com a própria ciência mo- 103 NISTO CREMOS. 1990: 99 104 A Semana da Criação, de acordo com o livro de Génesis: 1º Dia – Separação entre Dia e noite (Gên.1:3-5); 2º Dia – Criação do Firmamento, separação entre as águas nas nuvens e na Terra (Gên.1:6-8); 3º Dia – Separação entre terra e mares e criação das plantas (Gên.1:-9-13); 4º Dia – Surgimento do sol, lua e estrelas (Gên.1:14-19); 5º Dia – Criação dos peixes, animais marinhos e aves (Gên.1:20-23); 6º Dia – Criação dos animais terrestres e do ser humano (Gên.1:24-26, 31) 7º Dia – Deus descansou, abençoou e santificou o sábado (Gên.2:1-3); 54 derna. Negar a historicidade de Génesis 1-11 é corroer a própria essência do Cristianismo – o plano da salvação – pois tal inclui a negação da queda e da morte como resultado da mesma. A aceitação bíblica lembra-nos a extrema necessidade que temos de um salvador, ao mesmo tempo que nos traz um vislumbre do amor e do poder de Deus para nos redimir (…). As pessoas têm origem em Deus e pertencem-lhe pela Criação e redenção. Esta é uma base firme para o verdadeiro valor, sentido e destinos huma- nos, e é também a base segura para a união e comunhão com Deus e os outros”.105 Mas, a exaltação das teorias evolucionistas, quer deístas, quer ateístas pelos grandes veículos de informação de massa como a Televisão e a própria Internet, nas escolas e na sociedade pública em geral tem sido um desafio muito grande para os criacionistas, como o são os adventistas do sétimo dia. A proclamação do ano 2009 como O Ano de Charles Darwin, o autor de As Origens das Espécies, é um dos exemplos. Enquanto a Bíblia, no relato de Génesis, é a mesma utilizada há séculos pelos judeus e cris- tãos como o autêntico relato daquilo que aconteceu, a evolução apresenta muitas contradições.Por exemplo, os meios de comunicação de massa não esclarecem que uma teoria científica como é o exemplo da teoria da seleção natural, tem que ser testável e deve ser refutada se não descrever a realida- de.106 Já se sabe que, em ciência, para que um fenómeno seja confirmado, ele precisa repetir-se. Stephen Rawling, na sua Uma Breve História do Tempo,107 confirma, “qualquer teoria científica pode ser inicialmente di- vulgada por razões estéticas ou metafísicas, mas o teste real é verificar se ela é capaz de fazer previsões que empatem com as observações”. A teoria de Darwin jamais foi testada. Por outro lado, há leis científicas que podem ser repetidas e testadas, como é o caso da Lei da Gravidade. Uma outra in- coerência apresentada pelos criacionistas em relação à evolução tem a ver com os instintos. Contrariamente ao que se possa dizer, estes são mais de- senvolvidos em criaturas simples, por exemplo nos animais que vivem em colónias e de nada serviriam se não existisse perfeição nos mesmos desde o início. Fala-se igualmente muito em adaptações genéticas, mas estas só são úteis, quando completas. Outras incoerências que apresentam têm que ver com as leis científicas. A força dos núcleos (neutrões e protões) é perfeita. Não podia ser nada mais forte do que é, pois implicaria o desaparecimento do Universo. Provavelmente o nosso sol e a água deixariam de existir. A não explicação coerente da segunda lei da segunda lei da termodinâmica, 105 YOUNKER, 1992:6,7 106 GLEISER, 1997:18 107 RAWLING, 1988:163 55 entropia.108 A visão que, como diz Darwin, “parece impossível ou absurda, reconheço-o supor que a evolução pudesse formar a visão”.109 A simetria bilateral também não é explicada pelo evolucionismo. Como é possível, argumentam os criacionistas, se porventura os órgãos do corpo evoluíram por mutações, a lógica do raciocínio leva a conclusão de que eles deveriam evoluir, cada um por sua vez. Ficam ainda perguntas interessantes como estas por responder: “onde estão os fósseis de tartarugas com apenas uma nadadeira; os pássaros com apenas uma asa e os homens com apenas um braço;um ouvido ou um olho?”110 Continuando a explorar as incoerências do evolucionismo, apresentamos a incoerência quanto à impossibilidade da probabilidade matemática. 10 elevado a 161 é a propriedade que existe para a formação de uma proteína que seja utilizável e, ainda que todos os átomos da Terra, da água, do ar e da crosta terrestre se transformassem em aminoá- cidos disponíveis o intervalo de tempo necessário para que isso acontecesse – cerca de 5 bilhões de anos – torna-o matematicamente impossível de ocor- rer. Um outro problema apresentado ao evolucionismo tem que ver com a formação das células. Elas são formadas por moléculas de proteínas, açúcar e gordura; tem bombas e canais que controlam a entrada e saída de nutrien- tes. Tais proteínas complexas não poderiam estar no início, o que levanta sérias questões aos evolucionistas, nomeadamente a origem do ADN. É que se as proteínas dependem do ADN para se formarem, o ADN não pode ser formado sem as mesmas proteínas. Quem terá vindo primeiro? Não terá isto, sido obra da Criação? Refere-se ainda à questão das mutações propagadas pelos evolucionistas às quais os criacionistas respondem que, são raras - um indivíduo em milhões, ocasionais, não orientadas, portanto, pouco evoluti- vas, degradantes, mínimas e afetam carateres secundários das espécies; são, em geral, letais; nenhuma mutação pode criar um órgão novo funcional; são recessivas. Finalmente há uma última incoerência que os criacionistas apre- sentam e que aqui exploramos e que tem que ver com a questão dos fósseis. Geralmente, estes não apresentam as formas transacionais que deveriam ter. Apresentam assim indivíduos, faltando os elos de ligação. Um exemplo é o dos trilobitas. Estão na base da coluna geológica e são muito complexos, mas onde estão os fósseis que deveriam indicar as etapas da sua evolução?111 Por outro lado há “fósseis vivos”, como é o caso do celacanto. 108 Lei segundo a qual os sistemas da natureza têm uma lei invariável, rumo à desintegração, à desordem e perda de energia. Os criacionistas acreditam no contrário. Deus, através de processos bioquímicos e físicos bastante complexos, teria transformado um planeta caótico, num mundo organizado. 109 DARWIN (1859) 110 www.criacionismo.com.br 111 www.criacionismo.com.br 56 Terminemos esse embate criacinismo/evolucionismo, com um pensamento de Charles Darwin, escrito numa carta que ele endereçou ao amigo norte-ame- ricano Asa Gray. “Lembro-me muito bem do tempo quando pensar no olho me fazia esfriar todo, mas já superei esse estágio da doença, e agora pequenos particulares insignificantes de estrutura muitas vezes me deixam muito pouco à vontade. A visão de uma pena na cauda de um pavão, toda vez que a observo, me deixa doente!”112 A defesa do Sábado como memorial da Criação, da redenção e marca dis- tintiva do povo de Deus na Terra é um dos aspetos teológicos mais vincados pelos adventistas do 7º Dia. A sua crença fundamental nº 20 diz o seguin- te: “Os adventistas do Sétimo Dia crêem que o bondoso Criador, após seis dias da Criação, descansou no sétimo dia e instituiu o sábado para todas as pessoas como memorial da Criação. O quarto mandamento da imutável lei de Deus requer a observância deste sábado, do sétimo dia como dia de des- canso, adoração e ministério, em harmonia com o ensino e prática de Jesus, o senhor do sábado. O sábado é um dia de deleitosa comunhão com Deus e com os outros. É um símbolo da nossa redenção em Cristo, um sinal de nossa santificação, uma prova de nossa lealdade e um antegozo do nosso futuro eterno no reino de Deus. O sábado é o sinal perpétuo do eterno concerto de Deus com o seu povo. A prazerosa observância deste tempo sagrado duma tarde a outra tarde, do pôr-do-sol ao pôr-do-sol, é uma celebração dos actos criadores e redentores de Deus.”113 Os adventistas do 7º Dia crêem que o Sábado é um dia especial, diferente dos outros dias da semana. É um dia de comunhão com Deus e com os ou- tros. Aos sábados nas igrejas adventistas, à volta do mundo, funcionam as chamadas escolas sabatinas. Trata-se de um momento de estudo sobre uma determinada temática bíblica, para aplicação na vida prática. As pessoas não têm necessariamente que ser membros batizados para serem aceites como membros da escola sabatina. O sábado é igualmente dedicado à chamada ação missionária, com visitas aos hospitais, às prisões, estudos bíblicos aos interessados, entre outras atividades. A última parte do dia é dedicada as ati- vidades dos jovens que geralmente acontece já perto do final do dia. Àqueles que argumentam que os adventistas são legalistas, geralmente a resposta é de que o cumprimento da Lei, os 10 Mandamentos segundo Êxodo 20:3-17, é um sinal de que a pessoa está salva, de que a faz, motivada pelo amor que 112 DARWIN, 1887: 296 113 Os adventistas do Sétimo dia crêem que o Sábado do Sétimo Dia da Semana representa um memorial da Criação (Gên. 2:3), da Redenção (Luc.23:54, 56; 24:1) um sinal entre Deus e o seu povo (Ezeq.20:20), igualmente um dia santificado e abençoado, diferente dos outros da Semana (Êxo. 20:8-11). 57 tem a Deus e não o contrário. Outros argumentos de cristãos e não-cristãos são levantados contra os adventistas quanto à guarda do Sábado. Dos apre- sentados por cristãos destacam-se estes: o sábado é para os judeus; o sábado foi abolido por Jesus. As respostas desde o ponto de vista cristão,são dadas de acordo com aquilo que a Bíblia fala sobre esse dia. Adão e Eva não eram judeus, mas eles guardaram o primeiro Sábado no Jardim do Éden (Génesis 2). Jesus, por sua vez, enquanto aqui viveu deixou claro que não veio para abolir a lei mas, cumprir (Mateus 5:17, 18). Argumentos mais desafiado- res são os apresentados por descrentes. Exemplo: “se porventura foi Deus quem criou o universo, o que é que vos dá a garantia de que o dia que vocês guardam como sagrado é o sábado do sétimo dia?” A resposta pode ser en- contrada em fontes não adventistas. Citamos a Encyclopaedia Brtiannica “ A semana é um período de sete dias, não possuindo nenhuma relação com os movimentos celestes – uma circunstância à qual ela deva ser inalterável uniformidade … Foi ela empregada desde tempos imemoriais em quase to- dos os países do Oriente; e como não faz ela parte integrante do ano nem do mês lunar, aqueles que rejeitam a narrativa mosaica se sentirão embaraçados, como adverte Delambre, ao atribuir-lhe uma origem que tem muita seme- lhança com probabilidade ”.114 Vale a pena viver? Esta foi a pergunta que Albert Camus fez a si próprio, quando escreveu o livro O Mito de Sísifo.115 Sísifo que, de acordo com a mi- tologia grega, foi condenado pelos deuses a empurrar uma rocha até ao cimo de uma montanha, tinha a triste sorte de vê-la cair de novo encosta abaixo. Fazia-o num processo interminável. Isto representa a ideia de que castigo algum pode ser pior do que o trabalho inútil e sem esperança.116 Na verdade, se toda a energia, todo o empenho, toda a paixão, necessários à nossa existência forem como o trabalho realizado por Sísifo, inútil e sentido, então porquê se esforçar tanto? Se a nossa vida acaba aqui, se as nossa dores, inquietações e absurdo são tudo o que temos, se Deus não existe, se a vida é o seu próprio fim, para quê a esperança? Os adventistas do sétimo dia não crêem como Camus, numa fugaz existência humana, onde tudo acaba no pó. “A segunda vinda de Cristo é a bendita esperança da Igreja, o grande ponto culminante do Evangelho. A vinda do salvador será literal, pessoal, visível e universal. Quando Ele voltar, os justos falecidos serão ressuscitados e, junta- mente com os justos que estiverem vivos, serão glorificados e levados para o Céu, mas os ímpios irão morrer. O cumprimento quase completo da maioria 114 ENCYCLOPAEDIA BRTIANNICA, 11ª Edição, Vol IV, “Calendário”, pág. 988 115 Sísifo é aí apresentado como uma metáfora da vida do homem. 116 GALLAGHER, 2002:5 58 dos aspetos da profecia, bem como a condição atual do mundo, indica que a vinda de Cristo é iminente. O tempo exato desse acontecimento não foi re- velado, e somos portanto exortados a estar preparados em todo o tempo”.117 O retorno de Jesus a esta Terra pela 2ª vez é para buscar os considerados justos e julgar os ímpios, é a grande esperança dos cristãos adventistas do 7º dia. Na verdade, o cristianismo é uma religião de espera e expetativa. Esperou-se pelo Messias no 1º Advento e, agora os adventistas do 7º Dia, bem como outros cris- tãos, esperam Jesus pela 2ª vez. Esta é considerada a bem aventurada esperança do cristão, sem a qual o cristianismo não teria sentido. Baseia-se em variadíssimos versículos da Bíblia mas, ressaltamos aquele que os adventistas gostam de frisar. São João 14:1-3, onde está escrito: “Não se turbe o vosso coração: credes em Deus, crede, também, em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar. E, se eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que, onde eu estiver, estejais vós, também.” A mensagem da 2ª vinda de Cristo a esta Terra foi reiterada vezes pro- clamada pelos apóstolos. Ao longo de séculos, cristãos de vários quadrantes proclamaram-no. Finalmente, na 1ª metade do séc. XIX, surge um movimento adventista nos Estados Unidos, encabeçado por Guilherme Miller. Este grupo vive essencialmente na expetativa da eminente volta de Cristo à Terra, no seu tempo. Os críticos, cristãos e não cristãos apontam frequentemente este facto contra a IASD, dizendo que ela é uma falsa igreja, pois teria profetizado algo que não aconteceu. Mas, a realidade histórica diz-nos que por altura dos refe- ridos acontecimentos, anos quarenta do séc. XIX, A IASD ainda não existia como instituição, como referimos anteriormente. Um grupo de cristãos de várias igrejas americanas, onde se destacam os metodistas participou no cha- mado desapontamento. A Igreja Adventista do Sétimo Dia só se torna oficial, a partir dos anos 60. Os adventistas crêem ser um privilégio, mas também um dever, procla- mar a mensagem do advento a todo o mundo nesta geração. Crêem que esta mensagem deve motivar a sua missão. Uma missão com ousadia, não fraca, não frágil. “Uma vez que tenho tal esperança, sinto-me corajoso” (II Coríntios 3:12) 117 NISTO CREMOS, 1990: 431 59 60 A IASD EM CABO VERDE 3.1. A mensagem adventista em Cabo Verde por ordem de chegada às ilhas – breve história A história da Igreja Adventista em Cabo Verde está ligada à da emigração. O fenómeno emigratório começou precisamente no séc. XVIII, quando os cabo-verdianos começaram a embarcar e trabalhar para os baleeiros norte- -americanos. A diminuição desta primeira vaga emigratória para os EUA so- mente veio a acontecer a partir da década de 20´ do século passado, quando o governo americano cria leis para restringirem a entrada de “pessoas de cor” no seu território. Mas, mesmo assim, a saga dos emigrantes cabo-verdianos à procura de melhores condições de vida, continua, agora com novos desti- nos. Era a aplicação da teoria do push and pull. Países ricos atraem para si, países pobres enviam emigrantes para os desenvolvidos. Com a diminuição da emigração americana, passa-se a emigrar para a Europa ou mesmo para o continente africano, nomeadamente para as roças de São Tomé e Príncipe, de má memória para os cabo-verdianos. Retomemos a narrativa quanto à chegada do adventismo do sétimo dia a Cabo Verde. Uma breve referência é feita pelo pastor Joaquim Morgado119 sobre um tal L.C.Chadwick que teria sido o primeiro adventista do sétimo que,em 1892, pisou estas ilhas. Falta, uma melhor documentação. Todavia, existem duas versões quanto ao início da IASD em Cabo Verde. Uma, pouco consensual, diz que a mensagem entrou via São Nicolau120 e outra defende o seu começo na ilha Brava. Qualquer uma dessas versões liga o início da Igreja em Cabo Verde à emigração. A versão que defende o início do adventismo através da Ilha Brava, mesmo que não tenha a mesma aceitação por todos, é aquela que reúne maior consenso. 119 MORGADO, s.d, p.3 120 REVISTA ADVENTISTA, dezembro de 1951, “O Movimento Adventista em cabo Verde”, p.13 61 C A P Í T U L O I I I Os dados permitem-nos aceitar que o início da mensagem adventista en- contra-se na ilha das flores, ilha Brava. A seguir apresentamos uma resenha histórica sobre os primórdios da igre- ja adventista nas várias ilhas, conforme a ordem de chegada. Este estudo é feito, maioritariamente, a partir da perspectiva dos líderes e não dos lidera- dos. Aceitamos a crítica de que representa uma perspectiva conservadora, mas é todavia aquela que se conseguiu apresentar, pois são estas as fontes a que tivemos acesso. Mesmo assim, pensamos nós, merecem o seu crédito, o seu valor histórico. Num próximo sub-capítulo, faremos uma breve análise do desenvolvimento numérico da Igreja entre os anos 1995 e 2005 para final- mente caraterizarmos os anos e realidades mais atuais. Ilha da Brava É das terras da América que chega a Cabo Verde um emigrante natural da Ilha Brava, aonde se dirige, trazendo consigo as sementes do adventismo. Sustentando esta segunda versão, o Pastor Ernesto Ferreira123 disse que já em 1933 havia a presença adventista na ilha Brava. Foi por essa altura que chegara à ilha o senhor António Gomes, convertido à mensagem adventista nos Estados Unidos da América. “Às pressas, preparou-se [Sr.António Go- mes] como pôde e viajou. Chegou à Brava entre outubro e novembro de 193.121 Ei-lo afinal instalado em casa da cunhada Mariana Reis Gomes, em Nª Srª do Monte.”122 O senhor Gomes emigrara para os EUA aos 17 anos de idade, tendo trabalhado com o pai no navio Ligth Ship. Mas, posteriormente, abandonará o trabalho, dedicando-se ao estudo. Cursa Engenharia Mecânica, tornando-se posteriormente num matemático.123 Ele tinha uma vida estável na América, mas trocou os seus ricos aposentos daquele país para empregar a sua riqueza na obra que agora abraçara. “Desde que se converteu, seus bens foram colocados ao serviço do Evange- lismo. Quanta humildade! Quanto amor! Até mesmo ao ajudar alguém, o faz com tanta discrição para não ser notado.”124 O Pr.Joaquim Morgado narra o chamado do irmão A.J.Gomes, para vir a cabo Verde trazer a mensagem adventista. 121 Admitindo que a data de 1933 apresentada pelo Pastor Ernesto Ferreira esteja correto, a opção que resta àqueles que defendem o início da obra para S.Nicolau é admitirem que antes daquela altura, teria algum adventista passado pela ilha [de S.Nicolau], mesmo que de forma fortuita, pois o Sr. António Justo, aceite como um dos pioneiros adventistas na Ilha só se teria convertido em 1934, estando ainda nos Estados Unidos. 122 VIEIRA, 2000:3 123 Ibidem FERREIRA, 2008:370 124 VIEIRA, 2000:3 62 “(…) sonhou que um mensageiro lhe indicava a Ilha Brava e o dever que tinha de levar o Evangelho aos seus. Foi tal a impressão que três dias depois estava a caminho da Brava .” 125 Permanece na Ilha da Brava durante sete meses, acabando por lançar as sementes do evangelho. Vai estabelecer-se na zona de Nª Sr.ª do Monte, onde curiosamente nasce a primeira igreja da região, co-financiada pelo próprio António Gomes.126 “ (…) temos edifício próprio, construído, na sua maior parte a expensas do irmão A.J.Gomes, da Califórnia.” 127 Brevemente, as notícias do novo grupo de crentes destas ilhas africanas, chegava ao conhecimento do órgão máximo da IASD a nível mundial. Em carta dirigida em 1935 pelo presidente da Divisão Sul-Europeia, Pr.Olson, à Conferência Geral, pode-se ler o seguinte: “Vem depois outro grupo de ilhas na costa africana: o Arquipélago de Cabo Verde. Também estiveram à espera. Os colportores visitaram aquelas ilhas e ali colocaram os nossos livros, com êxito. Criou-se interesse, mas não tínhamos quem enviar, nem dinheiro. Então o Senhor tocou no coração de um irmão de Califórnia que aceitou as verdades nas ilhas do Hawai, natural de Cabo Verde, antigo capitão da marinha mercante e engenheiro. Foi à sua terra visitar o seu povo nas ilhas e enquanto lá estava ocupou-se activamente em dar estudos bíblicos e em fazer visitas aos parentes. Em pouco tempo nos escreveu: `há quinze almas prontas para o baptismo. Mandem um ministro para as baptizar, organizar uma igreja e tomar cuidado destas novas almas trazidas à verdade. Eu tenho de partir para a minha família.”128 Depois de Nossa Senhora do Monte, a mensagem adventista vinga na Vila de Nova Sintra, onde se estabelece um salão de Culto. Mas inicialmente as reuniões faziam-se em casa de amigos ou simpatizantes da mensagem ad- ventista. Havia muitos opositores. Entre os protestantes havia o senhor João Dias, pioneiro da obra nazarena em Cabo Verde que, curiosamente também viera tempos antes dos Estados Unidos, com missão evangelizadora.129 Do outro lado havia os muito católicos que se lhe opunham. Qualquer simpati- zante de uma igreja, que não fosse a católica, era considerado persona non grata. Todavia esses constrangimentos foram ultrapassados com o trabalho continuado do senhor Gomes. Finalmente, o interesse da população pela mensagem motivou o envio do primeiro pastor à ilha e ao país. 125 MORGADO, s.d., p. 3 126 VIEIRA, 2000:5 127 REVISTA ADVENTISTA, dezembro de 1951, “O Movimento Adventista em Cabo Verde”, p.13 128 MENSAGEIRO ADVENTISTA, nº 3, 1936, citado por MORGADO, s.d., p.4 129 PARKER (1983) 63 Transcrevemos dois documentos importantes: “Há apelos enviados por diferentes campos e entre eles Cabo Verde…um grupo de mais vinte almas encontram-se por serem baptizadas, já compraram terreno para edificar uma capela e até já tem algum dinheiro em caixa para o efeito.”130 Após o retorno do irmão Gomes aos Estados Unidos e antes da chegada do pastor Raposo, o primeiro pastor adventista residente em Cabo Verde, o “Sr. Manuel Andrade (Nhô Mocho) arcou com as responsabilidades de diri- gir provisoriamente a Congregação. E foi abençoado nesse mister.”131 Mas convinha que fosse enviado um ministro. Assim sendo: “No Concílio da Divisão, em Dezembro passado, ficou assente que a Mis- são Portuguesa forneceria o pregador e que a juventude da Divisão procu- raria angariar alguns fundos que reunidos aos já existentes, permitissem o estabelecimento da obra naquele arquipélago. No último Conselho da União Ibérica ficou assente enviar o nosso irmão Alberto raposo e sua família para a Brava. No próximo mês de julho partirá o nosso irmão a caminho do seu novo campo de trabalho.” 132 É assim que o pastor Raposo embarcaria no vapor Serpa Pinto em direção à cidade da Praia, onde faria escala. No dia 16 de julho de 1935 chegava à ilha Brava, juntamente com a esposa Nazaré Raposo, a filha Milca e a cunha- da Ana. Este estará à frente da Missão de Cabo Verde, circunstancialmente com sede na Brava, até 1941. “O início da obra foi difícil, mas sinto-me satisfeito por poder dizer que o campo está agora pronto para esforços maiores.” 133 Podemos ler em entrelinhas de que uma das dificuldades a que o pastor estaria aludindo não era apenas aquela que tivesse ligado à conquista de no- vos membros. Certamente tem que ver com as precárias condições, penúria, fome e desnutrição a que estavam mergulhados os filhos das ilhas.134 Diz o pastor Raposo, citado por Morgado:135 “Quando aqui chegamos, em 1935, foi um desses anos tristes, principalmente para as ilhas do Fogo e Brava. Em poucos dias vimos morrer um cavalo à míngua e o seu dono teria tido a mesma sorte se não fosse socorrido.” A misericórdia divina ainda estava presente e a Igreja progredia em meio a gigantescas dificuldades. 130 MENSAGEIRO DO ADVENTO, 1935, “Campanha das Missões de 1935”, citado por MORGADO, s/d, p.4 131 VIEIRA, 2000:4 132 Ibidem 133 MORGADO, s.d.p.7,8 134 Cf. CARREIRA (1984) 135 MORGADO, s.d., p.7,8 64 Realizam-se, em março de 1936, os primeiros batismos136 e a presença do templo adventista na região dava provas de que a obra era conduzida por Deus. “Na Ilha Brava, a nossa congregação tem o melhor edifício da Ilha, lá em cima em Nossa Senhora do Monte. Temos uma sala aberta em Vila Nova Sintra. Além destas duas localidades há ainda o porto da Furna, cá em baixo junto ao mar, onde haverá algumas centenas de pessoas que não têm culto regular nenhum. Necessitamos abrir ali ao público uma casa de oração.”137 Na igreja em Nª Srª do Monte, foram construídas salas anexas, uma das quais deveria servir de espaço para a escola.138 Infelizmente não foi no tempo do Pastor Raposo que se conseguiu arrancar com o seu funcionamento. Inclu- sive a irmã Rosa Raposo era professora, mas nunca chegou a ensinar.139 Esta só é aberta em 1946.140 Este facto demonstra a clara perceção deste pioneiro sobre a importância que a educação tem ao lado da evangelização. Ainda no tempo do Pr.Raposo, alguns jovens da Ilha decidem entrar para a obra, nomeadamente ao serviço da colportagem mas também frequentar o então Colégio Adventista em São Paulo, Brasil, para se formarem e dedicarem à obra do ministério pastoral. Há, inclusive, informação de um que esperava graduar-se em 1941.141 Como se deve pressupor, as músicas de estilo protestante, neste caso ad- ventistas, não eram conhecidas por aquele povo, naquelas alturas. Para se resolver o problema, os obreiros cantavam e, aqueles irmãos que sabiam tocar, aprendiam de ouvido. Isto levanta-nos a curiosidade, se não será por essa razão que, na Brava, ainda hoje, apesar de toda a evolução musical que houve dentro da Igreja, com pessoas que inclusive conhecem as regras mu- sicais, as nossas músicas congregacionais têm um ritmo e tons um tanto ou quanto slows, sons de embalar?142 Outros aspetos de interesse podem-se acrescentar do tempo do Pr.Raposo, 136 “Do grupo preparado por António João Gomes, se realizou o primeiro batismo, em Ferreiros, num tanque, da propriedade de Nhô Djoca Mari Tchico (…) Assim, foram batizados André de Burgo, Alfredo Monteiro e sua esposa Luísa, José T.Burgo (que se tornou pastor no Brasil), Nho Manuel Andrade (Nhô Mocho) e sua esposa Maria Alves Andrade (Nha Quinha), entre outros.” Idem, p.6 137 REVISTA ADVENTISTA, maio-junho de 1942, citado por MORGADO, s.d, p.11 138 MORGADO, s.d., p.5 139 Idem, s.d., p.2 140 Ibidem O pastor Ernesto Ferreira, diz que o funcionamento da escola começou em 1944. Cf. FERREIRA, 2008:227 141 Idem, s.d.,p.8 142 Idem, s.d.,p.4 65 nomeadamente a acérrima perseguição feita pelos protestantes143 que distri- buíam folhetos à população, com o objectivo principal de minimizar a im- portância do Sábado, doutrina fundamental das escrituras e aceite plenamen- te pelos adventistas do sétimo dia. Mas foi sol de pouca dura, como se poderá constatar daquilo que virá a acontecer a quando da chegada do novo pastor para o lugar do irmão Raposo. Em 1941, este (o pastor Raposo) será substituído pelo Pastor João Este- ves, que fica na ilha Brava até 1944. 144 “Para substituir o Pastor Raposo, a obra em Portugal destacou para aquela ilha o irmão João Esteves e sua esposa Lourença Esteves. Ainda estiveram juntos com o pastor Raposo algum tempo.” 145 Diz o pastor Esteves: “Ao chegarmos a este local, notei que o trabalho mais urgente era inte- ressar a juventude que se encontrava na borda do abismo. Organizámos uma sociedade cristã com uns 70 jovens de ambos os sexos. Tivemos o privilégio de desviar alguns do jogo, da bebida e das suas consequências trágicas.”146 O pastor ainda fala da organização para a investida na ilha do Fogo, dos melhoramentos da casa da Vila de Nova Sintra, bem como do espaço que procuravam abrir no porto da Furna.147 No tempo do pastor Esteves fez-se um debate público, na Igreja Paro- quial, apoiada pelas autoridades civis locais, onde compareceram o pastor adventista, o responsável da Igreja do Nazareno e da Igreja Católica. O des- fecho, parece ter sido positivo para os adventistas pois o pastor Esteves gran- jeou a alcunha de “ladrão de ovelhas” O pastor Ferreira afirma que “em 1946 seguiu-se-lhe o irmão Armindo Miranda e em 1948, o irmão Gregório Rosa.”148 Por outro lado, o pastor Morgado escrevia, “em 1944, J.Esteves deixa a Brava e vai instalar-se no Fogo. Toma o seu lugar, Gregório Rosa, que inicia a sua actividade como obreiro regular (…)” 149 Uma explicação plausível, é encontrada nas páginas 143 Um pouco antes do irmão José Gomes tinha chegado à Brava um emigrante cabo-verdiano, igual- mente proveniente dos EUA e que consigo trouxera a mensagem protestante, ainda em forma embrioná- ria. Este movimento da santidade que o senhor Dias representava está na origem da Igreja do Nazareno, portanto uma igreja que tem entre os seus pioneiros, um cabo-verdiano. Para isso, veja-se o trabalho de LIMA (2010) 144 MORGADO, s.d., p.5 145 Idem, s.d., p.10 146 MORGADO, s.d., p. 12 147 Idem, ibidem 148 REVISTA ADVENTISTA, dezembro de 1951, “ O Movimento Adventista em Cabo Verde”, p.14 149 Idem, p.12,13 66 de Morgado,150 quando ele informa que “em 1946 o ir.João Esteves vem de férias a Portugal e é substituído pelo Arlindo Miranda que, no seu regresso se instala na Brava, onde permanece até 1949, data em que regressa a metrópole (…)”. Mas como a distância temporal é muito grande e também porque não pudemos (re)confirmar através de outras fontes, nomeadamente as orais, esta é uma questão que fica em aberto. Todavia, é um dado adquirido que o irmão Gregório Rosa foi pastor na Ilha Brava. Ainda, de acordo com o pastor Morgado, nos anos 50 e, posteriormen- te nos finais da década seguinte, o pastor João Mendonça é o residente na Ilha.151 Ele escrevia na Revista Adventista, 1951: “Temos cinco escolas sa- batinas a funcionar todos os sábados. A escola mãe é dirigida com a minha colaboração, e as outras, pelos jovens da Igreja.”152 Temporariamente, substituí o irmão Mendonça, na Brava, o colportor Adelino Diogo, enquanto aquele esteve de férias em Portugal.153 Dos anos 50, ainda se deve destacar a visita realizada pelo Pastor Presi- dente da União Portuguesa, Ernesto Ferreira, à Ilha. Ele escrevia na Revista Adventista de junho de 1957: “Chegamos à Brava, depois de 35 horas de Viagem. Esta ilha é o berço do Movimento Adventista. Temos irmãos bapti- zados há mais de vinte anos que, pela graça de Deus não se deixam levar pelo mundo e pelos seus enganos (…)” 154 Aquando da visita do pastor Casaca à Ilha, já em 1959, ele ressalta o problema da fome que volta a flagelar os habitantes das ilhas. “Já depois de havermos regressado, nos chegaram notícias anunciando que as houvera [chuva] em todo o arquipélago.” Conclui o pastor Casaca. Orlando Costa reafirmava: “Tenho o prazer de lhe comunicar que choveu aqui, na Brava, durante dois dias seguidos; o povo delirou de alegria e o con- tentamento é geral. Estão salvas as sementeiras de batata doce e do feijão; perdeu-se o milho, o que é pena, mas estamos muito gratos a Deus porque ouviu as nossas orações (…)” 155 Em 1960, vai fazer colportagem, para a ilha da Brava, o irmão Isaías da Silva. Entre algumas informações que ele fornece, estão duas cerimónias batismais, uma em junho de 1960, onde esteve presente o pastor Laranjeira, 150 MORGADO, s.d, p. 14 151 Idem, p.2,16 152 REVISTA ADVENTISTA, abril de 1951, citado por MORGADO, s.d., p.12 153 MORGADO, s.d., p. 16 154 Idem, s.d., p.18 155 Idem, s.d., p.19 67 então diretor da Missão de Cabo Verde e outra em agosto de 1961; as reu- niões com mais de 20 pessoas, para o estudo da Bíblia, que se realizavam em casa da irmã Maria Burgo; o falecimento de duas irmãs octogenárias, Guilhermina Cho, em cuja residência tinha funcionado um escola sabatina filial e Ana Gibau que “anunciava a palavra de Deus a mendigos, a pobres, a remediados, a ricos e a todos em geral.”156 De 1961, ele fala-nos da Campanha das Missões: “É natural que no princípio da Campanha eu tivesse pensado na grande responsabilidade que pesava sobre os meus débeis ombros, para alcançar o alvo da Campanha das Missões (…) Mas confiando, plenamente, no Senhor, a quem não deixávamos de supli- car continuamente, começámos a trabalhar na maravilhosa obra da Campanha. E foi assim que conseguimos alcançar, com a ajuda do Senhor, e até ultra- passar um pouco mais o nosso alvo de 800$00.”157 O pastor Isaías Costa foi substituído pelo estagiário Benjamin Schofield. Este relata o seguinte, na Revista Adventista de junho de 1963: “Graças ao omnipotente, no mês de Janeiro, duas preciosas almas se en- tregaram a Cristo pelo baptismo, estando outras recebendo instrução religio- sa, para que em breve sepultem os seus pecados nas águas baptismais. A Igreja congratula-se com o casamento dos nossos irmãos Ana Maria Fortes e Cecílio de Pina Fortes, para os quais vão os nossos votos, das mais selectas bênçãos divinas, e que o seu exemplo inspire outros a darem o mesmo passo, evitando-se, porém, uniões entre crentes e descrentes, o que infelizmente se tem verificado muitas vezes para enfraquecimento espiritual dos incautos.” 158 Em 1965, substitui-lhe o pastor João Mendonça, que regressa à ilha e aí permanece até setembro de 1967.159 Precisamente entre 1968 e 1973, o pastor Aníbal Fraga, é quem toma conta da Igreja na Ilha das Flores.160 Nos anos 70, continuava a escola adventista a funcionar na Ilha. Eis um relatório retirado da Revistada Adventista de novembro de 1973, citado pelo pastor Morgado.161 156 MORGADO, s.d, p. 12 157 Idem, ibidem 158 REVISTA ADVENTISTA, dezembro de 1951, “ O Movimento Adventista em Cabo Verde”, p.1 159 Idem, p.12,13 160 MORGADO, s.d, p. 14 161 MORGADO, s.d, p. 14 68 Professora: Ana Maria Fortes Alunos: 1971/72 1972/73 1ª Classe 12 25 2ª Classe 15 10 3ª Classe 8 20 4ª Classe 10 12 Totais 45 67 Comentários: Oscilação no nº de alunos por classe, aumento conside- ravelmente no nº de alunos do ano lectivo 1971/72 para o ano seguinte. O interessante era saber o porquê desta aderência. A partir desta data, a igreja e o arquipélago encontram outros rumos. Cabo Verde torna-se politicamente num Estado independente e a Igreja deixa de estar sob a administração portuguesa, para depender diretamente da Divisão Sul-Europeia.162 Os próximos pastores enviados às ilhas vêm de territórios diversos. Por exemplo, para a Brava foi enviado o pastor G.Carbonne, italiano. À frente da Missão/Associação de Cabo Verde vão estar também, neste período de transição, pastores não portugueses. Nos anos 70, temos o pastor brasileiro Malton Braff, como presidente. A ele seguem-se outros brasileiros, como Paulo Leitão e Osório Feliciano Santos. Voltemos à Brava para de uma forma simples terminarmos com uma lista- gem dos pastores e obreiros que, por aí passaram desde o início aos anos 2000: Alberto Raposo (1935-1941); João de Ascenção Esteves (1941-1944); Gregório Rosa (1943-1947); Arlindo Miranda (1948-1949); João de Mendonça (1949-1955 e 1965-1967); Adelino Diogo (1953-1954); Artur de Oliveira (1955-1958); Orlando Costa (1959); Isaías da Silva (1960-1961); Benjamin Schofield (1961-1965); Aníbal Fraga (1968-1973); G.Carbonne.163 Aos mais ávidos por informações e a todos os atores desta história, as nossas desculpas. Não nos foi possível confirmar o nome de todos os dos pastores, obreiros e colportores que por aí passaram, desde os inícios da in- dependência até hoje. Por isso, preferimos ser precisos e não incorrer no erro. A Ilha do Fogo Foi ainda no tempo do pastor Alberto Raposo que o adventismo chegou à ilha vizinha do Fogo. Pode-se depreender, através das informações da Revista 162 FERREIRA, 2008: 386 163 MORGADO, s.d, p.2 69 Adventista de julho-agosto de 1941, citado pelo pastor Ernesto Ferreira,164 que já nos inícios dos anos 40 havia interessados na mensagem adventista. Lê-se: “Estes crentes já eram evangélicos quando começaram a ler os nossos folhetos e depois de convite insistente fui com a minha mulher visitá-los nos finais deste ano [1941].” “O primeiro interesse manifestou-se por volta de 1942, na Ribeira do Ilhéu. O trabalho, porém, de uma maneira metódica, começou em 1944, data em que o irmão João A.Esteves se estabeleceu em S.Filipe…”165 É precisamente no pastoreado de João Esteves que, passando a residir no Fogo e tendo aí fixado a sede da Missão, começa a haver algum crescimento da e na Igreja.166 “Em 1946 seguiu-se-lhe o irmão Arlindo Miranda e em 1948 o irmão Gregório Rosa…”167 São do pastor Rosa, as seguintes palavras: “Cabe-nos informar os nossos prezados irmãos que, apesar das dificul- dades enfrentadas a cada passo no trabalho da evangelização, feito no Fogo, a obra avança sempre em notável progresso e com expectativa de êxito no futuro…”168 E, na verdade, houve progresso. Dirigentes, diáconos e anciãos foram consagrados, membros foram baptizados, salas de culto foram abertas e igre- jas construídas.169 Por esta altura, já era presidente da Missão Adventista em Cabo Verde, o pastor Francisco Cordas, que consegue os alvarás para as escolas que se abri- ram em algumas ilhas, nomeadamente o Fogo.170 “De facto, a Igreja progride, e, agora, constituída por cinquenta e nove membros, e excepção feita apenas de quatro que se encontram ausentes, impõe-se-lhe cada vez mais o dever de ir `alongando as suas cordas, e firmando bem as suas estacas`, trabalho no qual estamos ativamente empenhados, sendo, portanto, de apreciar as actividades missionárias que se estão a exercer em diferentes lugares, denominadamente S.Filipe, Curral Grande, Piquinho, Lagariça e Monte Largo, apresentando-se- -nos actualmente, a bela oportunidade de penetrar no sítio de Galinheiro.” 171 Recorda-se que é também na década de 50 (1951) que, coincidente à descrição 164 FERREIRA, 2008:375 165 REVISTA ADVENTISTA, dezembro 1951, “O Movimento Adventista em Cabo Verde”, p.14. 166 Ibidem 167 Ibidem 168 REVISTA ADVENTISTA, setembro de 1951, “ Notícias do Fogo”, s.p 169 Ibidem 170 FERREIRA, 2008:227 171 REVISTA ADVENTISTA, setembro de 1951, “ Notícias do Fogo”, s/p 70 do crescimento da Igreja, o vulcão, que deu à Ilha o seu nome, entra em erupção. Este facto é ressaltado com muitos pormenores pelo pastor Gregório, no referido número da mesma revista. “Manhã de 12 de Junho. Alarme na Ilha. População alvoraçada. De facto, a noite do dia anterior se encarregara de anunciar, como fiel mensageira, este funesto e trágico acontecimento mediante grandes tremores de terra…” 172 Para além da erupção, há que referir a fome que assolava a Ilha nos anos 50. São do pastor Casaca as seguintes palavras, a quando da sua visita às Ilhas do Arquipélago, em outubro de 1959: “Trocados os primeiros abraços fraternais, verifiquei, imediatamente, que uma nuvem de preocupação, direi mesmo de tristeza, pesava em todos os rostos. Efectivamente todo o Arquipélago estava a viver horas de grande pre- ocupação pela seca prolongada, receando-se, portanto, uma tremenda crise de estiagem que seria verdadeiramente desoladora para todos. E as pessoas que tinham vivido a tragédia da última crise, de alguns anos atrás, não escondiam o seu profundo receio.173 Voltando à nossa narrativa, quanto ao progresso da mensagem adventista na Ilha, na Revista Adventista de fevereiro de 1953, o pastor Gregório aludia: “Continua progredindo o trabalho feito no Fogo, graças ao espírito activo e persistente de todos os membros, sempre dispostos a fazer longas jornadas e penetrar em diferentes burgos, apenas com o objectivo de `partilhar a fé`, dando a conhecer a doce mensagem da vinda de Jesus e, também, como preparar-se para este grandioso acontecimento porvir…” A obra avança, de facto. Em janeiro de 1952 a igreja contava com 60 membros e tinha a realizar durante o ano um interessante programa de activi- dades missionárias (…) Podemos agora dizer que as 13 almas baptizadas no Sábado, 27 de Dezembro, acrescidas de mais 11 obtidas em Junho, segundo trimestre do ano findo, elevaram para 24 o número de baptismos realizados durante 1952, contando a Igreja, presentemente, com 84 membros, que se estendem de S.Filipe, Piquinho, Lagariça ao Curral Grande, cujas cordas do progresso se alongam ainda para o norte e para sul, indo do sítio de salto à Ribeira do Ilhéu.174 É ressaltado pelo Pr. Cordas a dispersão de membros como uma das difi- culdades para a evangelização. Por outro lado, esta mesma situação acabou 172 Idem, s.d., s.p. O pastor acrescenta que no dia e m que escrevia este artigo, 25 de junho de 1951, o vulcão continuava em atividades. 173 REVISTA ADVENTISTA, dezembro de 1959, “Uma visita aos nossos irmãos de Cabo Verde”, p.11 Cf. CARREIRA (1984) 174 REVISTA ADVENTISTA, fevereiro de 1953, “Missão de Cabo Verde - Fogo”, p.16 71 por ser uma bênção, pois levou a necessidade de se construírem “pequenas salas [de culto] nos pontos mais estratégicos da ilha.”175 Ainda na década de 50, substitui ao Pr. Gregório, o irmão João de Men- donça. Ele escreve, na sempre citada Revista Adventista, de janeiro de 1956: “Na manhã de Sábado, 24 de Novembro (…), a Igreja do Fogo participou de uma alegre festa espiritual, porque o seu corpo foi aumentado com mais oito preciosas almas (…). Já se baptizaram este ano até a referida data, vinte pessoas, que agora se regozijam na bendita mensagem da salvação (…) Em toda a história do trabalho missionário nesta ilha até o presente é 1956 o ano recorde de uma boa colheita de almas.”176 Como parte do trabalho do Pastor João Mendonça, nos anos 60, destaca-se particularmente a construção e inauguração do templo-escola de Curral Grande.177 Posteriormente a este pastor, regressa à ilha o pastor Rosa que aí vai trabalhar até 1970. Para não se cometer injustiça deve ser feito menção aos obreiros que na ausência de pastores asseguravam internamente a prossecução da obra. São eles Adelino Nunes Diogo, Orlando Costa e Anselmo Gorgulho de Almeida. O último pastor residente na ilha, ainda sob administração europeia, pri- meira liderança, foi o irmão Manuel Lobato que aí reside até 1973. Pouca referência é feita aos anos 80, inícios de 90, pois temos poucas informações específicas sobre a referida ilha e mesmo a nível nacional. Os arquivos não se encontram organizados, mas sabemo-lo coincidir com o perí- odo de transição entre a liderança europeia e a cabo-verdiana. Por esta altura, a administração nacional fica a cargo de pastores brasileiros que também se fixam nas mais diversas ilhas do país, nomeadamente no Fogo. Entre os que estiveram na ilha do vulcão, contam os pastores Héber Mascarenhas, Gilberto Araújo e Osni Fernandes. Devida honra também deve ser atribuída aos pasto- res cabo-verdianos que por aí passaram. E são eles, Pastor Venâncio Teixeira, Guilherme Lima, António dos Anjos, Irlando de Pina, João Félix Monteiro. Já na primeira década dos anos 2000, passaram, pela Ilha, entre outros missioná- rios, o pastor Olavo dos Santos,178 o pastor Francisco Lopes, o pastor David Dias e o pastor Admilson. Depois deste, outras mudanças foram efectuadas. Para mais detalhes sobre a igreja nas décadas de 90-2000, fazer atenção ao Capítulo III, alínea 3.2. Evolução Numérica da IASD em Cabo Verde. 176 REVISTA ADVENTISTA, janeiro de 1956, “Missão de Cabo Verde - Fogo” s.p. 177 FERREIRA, 2008:378 178 Actual Presidente da Associação das Igrejas Adventistas em Cabo Verde 72 A Ilha de Santiago De acordo com as informações, da compilação organizada pelo pastor Joaquim Morgado,179 o primeiro missionário enviado para a Ilha de Santiago foi o colportor Américo Rodrigues que seguia viagem no mesmo vapor Ser- pa Pinto com o Pastor Alberto Raposo e sua família - os primeiros missioná- rios enviados a Cabo Verde. A família pastoral seguia viagem à Ilha Brava onde a mensagem adventista já penetrara tendo ficado na cidade da Praia, ilha de Santiago, o irmão Rodrigues que logo começou o seu trabalho. Mas, pouca informação chegou até nós, da década de trinta e, consequentemente, pouco podemos dizer sobre o referido colportor180 e pioneiro da mensagem em Santiago. Dos anos 40, lemos que a “Igreja da Praia é a mais recente das que temos em Cabo Verde. Foi em 1946 que ali se estabeleceu o irmão Esteves, sendo substituído em 1949 pelo irmão Francisco Cordas. (…) Temos um amplo edifício com uma atraente sala de culto (…) ”181 Já nos anos 50, quando era presidente da Missão em Cabo Verde, o pastor Francisco Cordas, o destaque vai para a criação de uma escola [primária], que “não pôde funcionar tão regularmente como queríamos.” 182 Pode-se constatar ainda desse período que, apesar de todo o empenho, dedicação e interesse que se se tinha, nomeadamente às crianças, os frutos tardavam a surgir. Eram poucos os batismos e pouca a frequência à Igreja. “Segundo o registo, a Igreja da Praia tem 21 membros, mas na realidade muitos deles encontram-se ausentes.”183 É assim que se decide mudar a residência e a sede da Missão para a Ilha de S.Vicente, que na altura apresentava as melhores condições e “vantagens oferecidas pela cidade do Mindelo, sob diversos pontos de vista, entre os quais conta o da facilidade de comunicação com a metrópole e as outras ilhas …”184 O número da Revista Adventista citado, não refere a data concreta desta mudança, mas o pastor Ernesto Ferreira, curiosamente o autor do mesmo ar- tigo que temos estado a citar, refere na sua obra de 2008185 que a sede passou a funcionar em S.Vicente, a partir de 1952, tendo ficado na cidade da Praia o pastor Joaquim Morgado que ali permanece até julho do mesmo ano (1952). 179 MORGADO, s.d, p.5 180 Missionário que tem na venda e distribuição de revistas uma forma de sustento e transmissão da mensagem. 181 REVISTA ADVENTISTA, dezembro de 1951, “O Movimento Adventista em Cabo Verde”, p.1 182 Ibidem 183 Ibidem 184 Ibidem 185 FERREIRA, 2008:380 73 O próprio pastor Morgado escreve na Revista Adventista daquele ano: “… nos encontramos aqui sozinhos, devido a mudança de sede da Missão para S.Vicente. Data pois dessa altura também o início do esforço de evange- lização, que se mantêm sem desfalecer e com propósitos de continuar … ”.186 Neste número, o pastor ainda ressalta alguns factos, nomeadamente a as- sistência aos cultos, que começa a ser mais regular. Surgiram muitos interes- sados e o contato das pessoas com a Igreja aumentou. É dada particular atenção ao trabalho e à iniciativa dos jovens que eram a força motriz das atividades da Igreja. Faziam distribuição de folhetos, con- vites e realizavam com frequência as reuniões de [jovens] sábado à tarde. Igualmente entravam no programa missionário da altura, reuniões médico- -missionárias, oportunidades estas aproveitadas, através da projeção de fil- mes para levar ensinos práticos quanto a conselhos sobre saúde, como a me- dicina caseira e receitas culinárias. A Sociedade das Dorcas também fazia o seu trabalho. “Além de auxílios diversos que é possível dar, mantêm um grupo de trabalhos para meninas, onde aprendem a fazer as rendas, etc.” 187 “O nosso ponto de partida foi um mercado onde, aos domingos se reúnem milhares de pessoas, dos mais diversos pontos da Ilha. Nos primeiros dias distribuímos algumas centenas de folhetos e conseguimos alguns assinantes para a `Saúde e Lar`.”188 Foi nessa década que também se começou a evangelizar o interior da Ilha. A nota vai para Santa Catarina onde foi realizado um passeio missionário no dia 30 de março daquele ano de 1952. Sobre o trabalho no interior da Ilha, o pastor Morgado escrevia a menos de um mês de deixar a cidade da Praia: “O nosso trabalho para o interior da ilha continua a estender-se e numa povoação, a mais insalubre desta ilha, onde existem algumas lagoas, que são autênticos viveiros de mosquitos, temos alguns amigos, que no futuro poderão constituir o primeiro grupo. Entre eles figura uma senhora, natural da Brava, que guarda o sábado há muitos anos, e que se encontra naquela região há onze anos (…) Chegamos à fala com ela e sabemos que teve conhe- cimento da verdade do sábado por intermédio de algum bravense residente da América, que veio aqui de passagem (…)”189 Os primeiros frutos foram recolhidos no tempo do pastor Esperancinha. Mas como ele mesmo dizia, o 186 REVISTA ADVENTISTA, maio de 1952, “Missão de Cabo Verde - Praia”, p.14 187 REVISTA ADVENTISTA, maio de 1952, “Missão de Cabo Verde - Praia”, p.14 188 Ibidem 189 REVISTA ADVENTISTA, junho de 1952, “ Missão de Cabo Verde – Praia”, s.p 74 trabalho era muito difícil. Havia muitos preconceitos a serem derribados e só um poder espiritual os ajudaria a vencer. “Nós continuamos a orar por um poder espiritual que nos ajude a vencer e a servir (…). ”190 O pastor Francisco Cordas escrevia poucos anos depois num outro núme- ro da mesma revista: “Temos uma ilha, a maior de Cabo Verde, fanaticamen- te católica, que continua sendo um desafio para nós. Os métodos usados até agora, mesmo com o carro, continuam sendo infrutíferos (…).”191 Da década de 50, contam-se ainda alguns factos importantes. A obtenção do al- vará para o funcionamento oficial da escola primária, na Praia, a partir de 1951.192 Na Revista Adventista de agosto-setembro de 1953, o pastor Esperancinha infor- mava ao pastor Gregório que todos os alunos que frequentavam a escola, dirigida pela irmã Rita Esperancinha, tinham sido aprovados nos exames oficiais.193 Igualmente de ressaltar é a visita a Cabo Verde, entre os dias 19 a 30 de se- tembro de 1956, do Pastor M.V.Campbell, Presidente da Divisão Sul-Europeia, a qual o Arquipélago de Cabo Verde, ainda colónia portuguesa, pertencia.194 Para fazermos justiça, segue-se uma lista de alguns pastores, estagiários e colportores que, ainda sob administração portuguesa, entre os finais dos anos 40 e 60, passaram pela capital. São eles, o pastor Francisco Cordas (1949- 1952),195 o pastor Joaquim Morgado (janeiro a junho de 1952), o pastor Filipe Esperancinha (1952-1954/55?), o colportor Anselmo Gorgulho de Almeida (finais de 1955 e inícios de 1956), o pastor Gregório Rosa (1956-1962),196 o estagiário Jaime de Almeida (1962-64), o pastor João de Mendonça (1964-67) e o pastor Manuel Miguel, a partir de 1968.197 Justamente em1968 acontecia outro facto importante e inevitável na Igre- ja, de acordo com a dialéctica dos tempos: a sede da Missão volta para a cidade da Praia.199 O pastor Abílio Echevarria será o último pastor europeu que, sob administra- ção europeia, esteve sob os destinos da IASD em Cabo Verde. Foi o director da Missão nas Ilhas até outubro de 1973.198 190 REVISTA ADVENTISTA, abril de 1953, “ Missão de Cabo Verde – Praia”, s.p 191 REVISTA ADVENTISTA, setembro de 1956, “Progresso do Trabalho Adventista em Cabo Verde”, s.p. 192 FERREIRA, 2008:227 193 REVISTA ADVENTISTA, agosto-setembro de 1953, “Missão de Cabo Verde - Praia”, s.p194 FERREI- RA, 2008:378 194 FERREIRA, 2008:380 195 É precisamente sob a direcção do pastor Cordas que se transfere a sede da Missão da Praia para S.Vicente em 1952. Cf. FERREIRA, 2008:380 196 O pastor Gregório Rosa era natural da cidade da Praia 197 FERREIRA, 2008:379-383 O pastor Manuel Laranjeira era o diretor da Missão em Cabo Verde, quando a sede regressou para a cidade da Praia. 199 Ibidem 198 FERREIRA, 2008:378 75 A partir daí uma nova realidade se desenhava. O país tornava-se inde- pendente, mas os quadros formados eram poucos, quer a nível do território nacional, quer particularmente na IASD. Os próximos obreiros a assegurarem a administração da Igreja são (inicialmente) brasileiros. O Pr. Morgado200 re- fere no seu citado trabalho ao Pr. Malton Braff que, sabemos, foi pastor na ci- dade da Praia e igualmente Presidente da Missão/Associação das Igrejas Ad- ventistas em Cabo Verde. Igualmente foram os pastores na cidade da Praia e presidentes da Missão/Associação os irmãos Paulo Leitão e Osório Feliciano Santos. Este foi o último não cabo-verdiano, até então, a ser o presidente da, agora, Associação das Igrejas Adventistas do Sétimo Dia em Cabo Verde. 201 Os pastores cabo-verdianos que já estiveram à frente da AIASD-C.V. são respectivamente, João Félix Monteiro, Venâncio Teixeira, Irlando Pereira de Pina e Olavo dos Santos. Com uma igreja em franco crescimento e com forte participação leiga, bem como de pastores cabo-verdianos, uns já em exercício, outros recém- -formados, nos finais dos anos 80, inícios de 90, acontece aquilo que ousamos chamar de Revolução na Igreja na ilha de Santiago. A partir da igreja-mãe, no Plateau, surgem os primeiros grupos, respetivamente de Ponta D`Água e de Monte Vermelho, atualmente igrejas organizadas. Hoje a multiplicação das igrejas pela capital e pelo próprio interior da ilha é visível e o aumento do número é cada vez maior. A Ilha de São Vicente São Vicente foi a quarta Ilha a receber a mensagem adventista em Cabo Verde. Depois de Brava, Fogo e Santiago, o adventismo chegou à Ilha do Porto Grande. As informações que nos chegaram das entrevistas,202 é de que nos anos trinta, adventistas da ilha Brava e do Fogo foram a S.Vicente com objetivos missionários. Igualmente estiveram nesse período e de passagem à Ilha, pas- tores e colportores. O pastor Ferreira informa-nos: “Pouco antes de 1948, Marino da Rosa, membro da Igreja do Nazareno, ao estudar a Bíblia chegou à conclusão de que o dia do Senhor é o Sábado e logo passou a guardá-lo. Formou-se então um pe- queno grupo, que se reunia numa sala da sua casa, situada na Rua Dr. Nunes de Oliveira. ”203 Este grupo parecia ativo e em crescendo, pois somos informados que um terceiro batismo é realizado em agosto de 1949. 200 MORGADO, s.d, p.24 201 Este título foi outorgado na Assembleia Trienal, na Praia em 2005 202 Entrevista nº5, realizada no dia 12 de novembro de 2009 203 FERREIRA, 2008:383 76 Como já dissemos anteriormente, aquando da descrição dos inícios evan- gelho na Ilha e Santiago, com a vinda do Pastor Francisco Cordas (1949) para Cabo Verde a Sede da Missão Adventista passou a funcionar nesta ilha de São Vicente,204 tendo como um dos argumentos a facilidade de comuni- cação205 entre esta e as outras ilhas do país e entre esta e o estrangeiro.206 O Pastor Cordas lança as bases para o crescimento da Igreja na Ilha, nomeada- mente com a criação da Escola Adventista.207 A educação adventista em Cabo Verde acompanhou de perto a penetra- ção da mensagem do Advento nas ilhas. Relembremos que foram nos anos trinta que chegaram os primeiros missionários ao Arquipélago,208 mas já nos inícios dos anos quarenta, começa a funcionar a escola adventista da Brava (1944) e alguns anos mais tarde, a escola da Praia, S.Vicente e Fogo terão o seu respetivo alvará.209 Em S.Vicente, o edifício que ainda hoje alberga a Igreja e a antiga escola210 foi adquirida pela Missão Portuguesa, precisamen- te em 1956.211 Naquela altura, defendia o Pastor Francisco Cordas212 que a principal ati- vidade da Missão de Cabo Verde, aliada à pregação do Evangelho, era o ramo da Educação. O pastor Ferreira, Presidente da Missão Portuguesa dos ASD na mesma década de 50, diz que aquele foi um período notável para a obra em Cabo Verde.213 Vejamos alguns dados relativamente às primeiras escolas adventistas no país, nos primeiros anos. 204 A sede da Missão passou a funcionar em S.Vicente a partir de 1952 e aí permanece até 1968, altura em que os diretores da então Missão de Cabo Verde, retornaram à cidade da Praia. Cf. REVISTA AD- VENTISTA, dezembro de 1951, “O Movimento Adventista em Cabo Verde”, p.14, com FERREIRA, 2010:227, 383 205 É em S.Vicente que fica o Porto Grande, na altura o ponto de ligação entre Cabo Verde e Mundo. 206 REVISTA ADVENTISTA, dezembro de 1951, “O Movimento Adventista em Cabo Verde”, p.14 207 A Escola Adventista em S.Vicente foi autorizada por um Alvará de 1954 (ver anexo) 208 REVISTA ADVENTISTA, dezembro de 1951, “O Movimento Adventista em Cabo Verde”, p.13 209 De acordo com FERREIRA, 2008:227,379, 380, os alvarás para as escolas adventistas no país têm as seguintes datas: Ilha da Brava – escola a funcionar desde 1944 (alvará é conseguido posteriormente, mas a data não é indicada na fonte); Praia – escola a funcionar desde ano lectivo 1950/51, mas alvará conseguido em 1954. Para a Escola Adventista em S.Vicente, foi conseguido em 1954. 210 Hoje funciona, no mesmo espaço, unicamente o Jardim Nosso Amiguinho, também propriedade adventista 211 IFERREIRA, 2008:227, 384 212 Missionário enviado da então metrópole para Cabo Verde em 1949, foi o grande impulsionador da educação adventista nesse território (Cf. REVISTA ADVENTISTA, dezembro de 1951, “O Movimento Adventista em Cabo Verde” com REVISTA ADVENTISTA, setembro de1952, “ O Progresso do Traba- lho Adventista em Cabo Verde” 213 FERREIRA, 2008:226,227 77 Fig.12. Primeiras Escolas Adventistas em Cabo Verde 1953 214 2 77 31 13 8 1954 232 2 75 37 21 1 1955 250 3 101 21 25 3 1956 260 4 108 41 - 3 Fonte: Revista Adventista, setembro de 1956 Um outro assunto documentado nas fontes sobre a IASD em S.Vicente, nos anos 50, é a incursão evangelística que a igreja fez para o interior da Ilha. Salamansa foi o lugar escolhido, mas também um sonho desfeito?214 A seguir faremos uma longa descrição do trabalho realizado por um grupo de irmãos, nessa zona do interior da Ilha. A pequena vila piscatória de Salamansa, que dista cerca de 12 kms da cidade do Mindelo, foi a zona escolhida por alguns membros da Igreja de S.Vicente, e não só,215 para lançarem as sementes do evangelho, no interior da Ilha. Esta aventura missionária ocorreu precisamente no ano de 1953. Este grupo de irmãos, inspirados no trecho de Josué 1:9, avança sem medo, con- fiando que o Senhor estaria com eles. Na sua primeira viagem, tiveram a bênção de encontrar pessoas que, ainda com um pouco de interrogação, os receberam educadamente. Fala-se de um tal Sr.Lino, regedor da aldeia e que abre as portas da sua casa para esses embaixadores de Cristo.216 Fizeram, pelo menos três visitas à aldeia. A primeira foi a melhor, pois nessa altura, em casa do Sr.Lino, congregaram mais de 70 pessoas, entre adultos e crianças, que avidamente ouviram a Palavra. (…) Os pregadores falaram sobre “a longanimidade de Deus, da Criação e do grande amor de Jesus por cada um de nós, etc. Todos se mostraram satisfei- tos, dizendo o Sr.Lino que nunca tinham ouvido coisas tão belas.”217 214 É assim intitulado o artigo da REVISTA ADVENTISTA, de junho de 1953, assinado por Adelino Nunes Diogo sobre o trabalho em Salamansa 215 São eles os irmãos Adelino Nunes Diogo, o irmão Valério, a Berta, a Adelaide o irmão Artur, da Ilha Brava, de passagem por S.Vicente. Cf. REVISTA ADVENTISTA, junho de 1953, “Missão de Cabo Verde – Salamança, um sonho desfeito?,” s.p. 216 Foi assim que se apresentaram ao regedor. Ibidem 217 REVISTA ADVENTISTA, junho de 1953, “Missão de Cabo Verde – Salamança, um sonho desfeito?,” s/p. 78 Ano Nº Membros Nº Escolas Nº Alunos Passagem de Classe Exames Alunos Batizados Uma vez que não havia escolas por aqueles lados, a grande maioria das crianças era analfabeta. Por isso, pediram o apoio dos irmãos no sentido de os ajudar com a abertura de uma escola na zona. Prometeram que fariam os possíveis, pois a missão da Igreja é também ensinar. 218 No sábado seguinte, só estavam presentes cerca de 20 pessoas. Estranha- ram. O resto da população tinha ido assistir programa na igreja católica.219 Num terceiro sábado, já conseguiram cerca de 140 pessoas, que os escu- taram. Depois de passarem a escola sabatina e o culto, começaram a ensinar as crianças com entusiasmo o básico das primeiras letras. Mas como diz o narrador do texto, “começamos a desconfiar de tanta fartura.” 220 Os irmãos não se deixaram intimidar pelo futuro, mas a conspiração esta- va a ser tramada. A casa do Sr.Lino veio a ser apedrejada e a filha ameaçada. “…ameaçaram-nos que nos dariam de pau se ali voltássemos: dissemos algumas palavras de conforto à senhora, e ao retirarmo-nos vimos alguém a olhar-nos de soslaio, mas não tiveram a coragem de se nos dirigir.”221 A igreja católica romana tinha feito o contra ataque. Os cânticos na capela ressoaram outra vez e, o professor que só lá ia de ano a ano, foi reenviado. A obra adventista na região parecia comprometida. Mas, esses irmãos daqueles idos anos 50, não pareciam desanimados. Terminemos esta narra- ção com as emotivas e esperançosas palavras do articulista e promotor de tal empreendimento. “(…) Salamança não é um sonho desfeito. O diabo não tem perseveran- ça, em breve abandonará o terreno, e agora quando formos solicitados, será então na certeza de trazer para Jesus todas as almas sinceras que ali vivem… Salamança não é um sonho desfeito.” 222 Sobre a Igreja nos anos 60, diz-nos uma entrevistada, “a Igreja era mui- to fervorosa, cheia de jovens.”223 Em relação àquele período, cita, ainda, o pastor Ernesto Ferreira, as seguintes palavras, a partir da Revista Adventista, datada de junho de 1962: “Com alguma antecedência, auxiliada pelo pastor da igreja, a direcção da Juventude reuniu-se para elaborar um programa [da Semana de Oração dos Jovens de 17 a 24 de Março de 1962] que fosse, simultaneamente, alegre e espiritual, atraente e convidativo. …Foi para nós uma revelação constatar 218 Idem, s.d., s.p 219 Idem, s.d., s.p. 220 Idem, s.d., s.p. 221 Idem, s.d., s.p. 222 Idem, s.d., s.p. 223 Entrevista nº3, realizada no dia 10 de novembro de 2008 79 como a grande maioria ficou satisfeita em poder colaborar. Foi assim neste espírito que se disseram lindas poesias, apresentaram belos solos ao piano ou em cântico, auxiliando outros na leitura das espirituais comunicações, apre- sentando o nosso coro misto belos e sugestivos cânticos a vozes.”224 Mesmo assim, havia aqueles que viam a Igreja com desdém. Relembra-se que é nos anos 60 que acontece a mudança da sede da Missão para a cidade da Praia (1968).225 Também os pastores são transferidos. Vem para S.Vicente o pastor Manuel Lobato. É durante o seu ministério que se organiza a primeira Escola Cristã de Férias na Ilha, em 1969.226 Igualmente, no mesmo ano foi organizado o curso bíblico, A Bíblia Responde. Também conseguiram “um contrato para duas emissões semanais da Mensagem, através da estação da rádio do Mindelo.”227 Vamos agora aos anos 70, e retomemos ao papel desempenhado pela Es- cola adventista, na Ilha do Porto Grande. Os alunos, adventistas e não só, re- cebiam aulas para, no final, fazerem exames em Escolas do Estado. Durante o período antes da independência, as despesas da escola em S.Vicente, bem como nas outras ilhas, eram cobertas pela Missão Portuguesa dos Adven- tistas do Sétimo Dia. Mas eram escolas que “ (…) funcionam sem material e nas mais precárias condições, que produziriam melhores condições se as pudéssemos apetrechar com melhor material didáctico e salas competentes. Nos poucos anos de funcionamento de algumas escolas é ainda cedo para di- zermos dos resultados em almas ganhas com as Escolas, mas podemos dizer que a frequência dos alunos à Escola Sabatina é mais do que média e todos os dias a lição é estudada com os alunos.”228 Ainda nos anos 70, por necessidade de reestruturação do espaço, a escola de S.Vicente esteve fechada por 3 anos. Pode-se ler num documento oficial da Igreja naquela altura: “Escola é reaberta. Após um recesso de 3 anos, reabre-se já restaurada e em boas condições, a escola adventista de S.Vicente. E o irmão Venâncio Teixeira é quem terá a responsabilidade de firmar as estacas da obra educacional no Mindelo”229 224 REVISTA ADVENTISTA, junho de 1962, citado por FERREIRA, 2010:385 225 FERREIRA, 2008:385 226 Curiosamente, neste ano de 2012 realizou-se de novo uma Escola Cristã de Férias na Ilha. Teve um impacto muito positivo entre a membresia e amigos da Igreja que enviaram os seus filhos para participa- rem das atividades. Há pelo menos uns vinte anos que tal empreendimento não era feito. 227 FERREIRA, 2010:386 228 As lições da Escola Sabatina são diárias e geralmente são compiladas num estudo para um trimestre (Trimensário). Aos sábados fazem-se os resumos do estudo semanal, em várias classes, que se dividem por várias faixas etárias, desde crianças até aos adultos. 229 MISSÃO EM REVISTA, Ano I - Nº 1, agosto de 1974, p.6 Venâncio Teixeira, referido neste Boletim, vai estudar teologia para a Europa, fixando-se depois em Cabo Verde, onde virá a ser pastor e Presidente da Associação das IASD. Hoje é reformado. 80 No período pós-independência, as escolas adventistas no país não con- seguiram manter-se todas de pé. Soubemos, através das nossas fontes orais, que por volta dos anos 70, as escolas nas outras ilhas, nomeadamente a da Praia, tiveram o seu fim, por decisões internas da própria administração cen- tral da IASD em Cabo Verde. 230 A partir dos anos 80, com a colaboração de missionários brasileiros, foi criado o Jardim Infantil Nosso Amiguinho e depois dos anos 90, o Ensino Secundário. Alegando falta de espaço para conter tantos alunos, a Direção da Igreja/Jardim em concertação com o Ministério da Educação do país, decidi- ram pelo encerramento, parcial, das portas. Os alunos dos ensinos primários e secundário mudaram-se para outras instalações, ficando apenas os alunos do Jardim Infantil. Em São Vicente, a escola primária funcionou com maior ou menor di- ficuldade, até ao ano lectivo 2000/2001. O ensino secundário,231 tinha sido encerrado um ano antes. É este, hoje, a par do Jardim Flores da Suíça, na cidade da Praia, a única instituição de cariz educacional da IASD em Cabo Verde. Uma instituição que se diz fundada e defensora da educação. Todavia não deixaríamos de ressaltar o papel que o mesmo jardim tem desempenhado para a educação dos mais novos em São Vicente, nomeadamente na atribuição de bolsas de estudos a crianças carentes. Estas bolsas são dadas por padrinhos, geralmente de paí- ses europeus, nomeadamente da Itália, que acompanham as crianças desde a idade do Jardim ao final do Ensino Básico, que em Cabo Verde é a 6ª Classe. Um outro aspeto intimamente ligado ao desenvolvimento da mensagem adventista na ilha de São Vicente é a colportagem. O arranque da evangeli- zação através da venda e distribuição gratuita de livros terá início a partir dos inícios dos anos 70, impulsionados pelos Pastores Milton Braff, Presidente da então Missão de Cabo Verde e Guiné dos ASD, Gregório Rosa, pastor local da igreja na Ilha de S.Vicente e Daniel Gomes, natural de S.Vicente e que será o primeiro colportor a nível nacional. A ilha de São Vicente terá, portanto, um desempenho fundamental para a disseminação da mensagem pelo resto do território nacional através da obra de Daniel Gomes. O trabalho feito pela obra da literatura pôde abrir as portas nalgumas ilhas, nomeada- mente nas de Barlavento. 230 Depois da independência, as tentativas de reabertura lograram o fracasso e, até hoje, a capital do país não dispõe de uma escola adventista. Exclui-se a existência do Jardim Flores da Suiça, sita na zona do Palmarejo, construída nos inícios dos anos 90 231 Na altura, a Igreja ofercia o espaço, que era explorado por um irmão. 81 Voltemos ao anos 80, aquando da criação do Jardim Nosso Amiguinho. Nessa década e até aos finais dos anos 90, a grande maioria dos pastores que passa pela ilha, é brasileira. São tidos, por muitos membros, como os anos áureos da igreja.232 A partir de então e até agora, os pastores que vieram a S.Vicente são natu- rais das ilhas, ou culturalmente cabo-verdianos.233 Deixemos que o resto da informação sobre as duas últimas décadas, in- cluindo os dias atuais, seja melhor explorado na análise sociológica da co- munidade adventista da ilha. Santo Antão Dos anos 40, temos registo de uma visita fortuita que o pastor Gregório Rosa fez à ilha das montanhas, ilha de Santo Antão. “Cheguei a Cabo Verde, S.Vicente, a 17/7/1941. Depois de trabalhar o Mindelo, dirigi-me a Santo Antão. Ali estive vinte dias à espera de barco para a Praia.” 234 Nos anos 60,235 diz-nos uma entrevistada , já se fazia trabalho adventista na Ilha. Mas, o trabalho organizado e meticuloso só se inicia a partir dos anos 70. Por altura, o pastor Rosa residia em S.Vicente e decidiu desbravar a ilha vizinha. Escreve sobre uma visita missionária realizada à Ilha em novembro de 1973: “Na povoação de Vila da Ribeira Grande que, por motivos óbvios, esco- lheríamos para sede de futuras actividades missionárias, além de abundantes estudos, visitas e folhetos distribuídos, tivemos também, reuniões públicas, onde em certa altura a esposa [de quem nos acolheu] sugeriu: ̀ precisamos aqui de uma sala´.” 236 Pouco tempo depois, escrevia o mesmo: “ Podemos dizer que em Santo Antão a semente da verdade já foi lançada em alguns corações, a Mensagem do Advento já foi também ouvida, espera-se que haja firme interesse que nos permita abrir ali uma sala, ou talvez duas: uma na Povoação e outra no Paúl- -de-Baixo.”237 232 Os pastores brasileiros residentes em S.Vicente, a partir dos anos 80, são respectivamente o pastor Celso, Héber Mascarenhas, Gilberto Araújo e Osni Fernandes 233 São eles, pastor Venâncio Teixeira, Irlando Pereira, António dos Anjos, Domingos Sanches, Armindo Gênero (nascido em S.Tomé e Príncipe e casado com uma são-vicentina) e Joaquim Tango, atual pastor (natural de Angola, igualmente casado com uma cabo-verdiana de S.Vicente) 234 MORGADO, s.d, p.10 235 Entrevista nº19, realizada no dia 5 de novembro de 2012 236 Citado por FERREIRA, 2008:386 237 FERREIRA, 2008, p.387 82 Entre finais de 1973, inícios de 74, o pastor Rosa deixa os campos de S.Vicente e Santo Antão.238 Relembra-se que, a partir de então “a Missão de Cabo Verde deixou de fazer parte da Associação Portuguesa, passando para a administração directa da Divisão Sul-Europeia.”239 É nesta ordem que, em 1974 era enviado um pastor italiano para as ilhas, o pastor Ricardo Orsucci. Terá também a responsabilidade das ilhas de S.Vicente e Santo Antão. Igualmente será pastor na Praia. É com ele que serão realizados os primeiros batismos em Santo Antão. Foram batizados os irmãos Gregório Rodrigues, Francisca Salomão e Pedro Marques.240 Estes pioneiros ficarão a reunir-se em casa do irmão Gregório, na Ribeira da Torre. Nos anos 80, passaram para a zona centro da Vila, Povoação. Durante os anos 80, são seguidos pelos pastores residentes em S.Vicente. Vão ser preciso esperar vários anos para que, nos inícios de 90 fosse envia- do um novo missionário. Gilsenberg, missionário brasileiro. Este fez um bom trabalho, no dizer da mesma entrevistada.241 Tinha muitos amigos e interessa- dos e fazia programas diversos. Quando morreu, as pessoas de Santo Antão ficaram com muitas saudades, assevera a mesma.242 Depois dele seguiu o pas- tor Irlando de Pina e família, mas esteve na Ilha por pouco tempo. Ainda nos anos 90, passaram por Santo Antão, vários obreiros, nomeadamente os irmãos Isaías e Carlos Gomes Lopes que se fixaram no Porto Novo, Quintino, no Paúl, e Moniz na Povoação.243 Os pastores residiam na zona de Ribeira Grande, e lá, com o grupo de irmãos foram mantendo o adventismo de pé. O pastor Ir- lando esteve na Ilha por duas vezes. Nos inícios dos anos 90 e inícios de 2000. Igualmente, por duas vezes, esteve na Ilha, o pastor Armindo, nos anos 90 como professor e nos inícios dos anos 2000, como pastor. Mas apesar de todo o esforço empreendido pelos pastores, pelos obreiros leigos, pela membresia local, pela administração, pastores e membros de outras ilhas, nomeadamente de S.Vicente, ainda não se conseguiu criar um núcleo, uma igreja forte e em expansão. A ilha é profundamente católica e tradicionalista, o que contribui para a rejeição de outras ideologias. Igualmente, algum complexo social em re- lação aos naturais da ilha, conta como factor de obstáculo ao desenvolvimento evangelístico, defende ainda a irmã Francisca Salomão.244 238 Ibidem 239 Ibidem 240 Entrevista nº19, realizada no dia 5 de novembro de 2012 241 Idem, 5 de novembro de 2012 242 Drasticamente morto no Togo, após ter deixado Cabo Verde, ainda nos anos 90. 243 Perdoem-nos, se omitimos algum nome. É que as fontes não eram conclusivas. 244 Entrevista nº 19, realizada no dia 5 de março de 2012. 83 A seguir, apresentamos alguns dados recolhidos da entrevista feita a Carlos Lopes, um dos agentes da missionação na ilha.245 Este foi obreiro na Ilha entre julho de 1995 a janeiro de 1997. Fixou-se no Porto Novo. Quando chegou, não havia igreja na Vila (hoje cidade). Nem, tão pouco, membros. Exclusão vai para uma antiga irmã que, agora frequentava uma igreja pentecostal. Traba- lhou com ela, até regressar. Como afirma: “não foi fácil. Teve que ser trabalho redobrado, pois os pastores pentecostais são persistentes.”246 Quando deixou a Ilha, mais dezasseis pessoas tinham sido batizadas. Oito no Porto Novo e oito na Ribeira Grande. Na Ribeira Grande, havia um grupo em casa do irmão Gregório, na Ribeira da Torre. Apesar da responsabilidade que cabia ao pastor local de S.Vicente, neste caso Pr.Osni Fernandes, era ao irmão Carlos que fi- cavam as despesas da casa. Era ele quem deveria viajar constantemente para a vila de Ribeira Grande, para in loco, cuidar do rebanho. Ele conta-nos um facto insólito. Na vontade de criar condições para a existência de uma igreja própria, o irmão Lopes conseguiu um terreno por parte da Câmara Municipal da Rª Grande. Mas o insólito ocorreu com um erro administrativo, pois em vez de atribuírem o terreno em nome da IASD, inscreverem-no com o nome de Igreja Nova Apostólica. Apesar do embaraço que isto causou nas instâncias camará- rias, que muito fizeram para remediar a situação, a situação foi irreversível e a retribuição do terreno não chegou a acontecer. Como argumento entra o facto de que na zona principal da vila já não era possível a atribuição de um outro terreno, pois o espaço é exíguo. Os outros lugares ou são mal localizados, perto das zonas de cheias, ou distantes da população. Voltando a atenção ao Porto Novo, o entrevistado disse-nos que conseguiu muitos interessados. Mas, para isso, foi “importante criar um bom ambiente com os habitantes da zona que carregavam muitos preconceitos.”247 Após algum tempo, começaram a surgir muitos interessados e “pessoas diziam ser adventistas, apesar de não serem batizadas.”248 O trabalho era árduo, muitos estudos bíblicos (cerca de trinta por dia), apresentações públicas com pro- jeção de slides, música ao ar livre, entre outras atividades, foram realizadas durante o seu ministério. Concluiria esta galeria de vitórias com este facto; a conversão de um jo- vem pastor de uma outra congregação no Porto Novo, e que se tornará ad- ventista do sétimo dia. O obreiro deixa a ilha em 1997 e, para ele, a igreja a partir daí estagnou, 245 Entrevista nº 15, realizada no dia 1 de novembro de 2012. 246 Idem, 1 de novembro de 2012 247 Entrevista nº 15, realizada no dia 1 de novembro de 2012. 248 Idem, 1 de novembro de 2012 84 particularmente na zona do Porto Novo. Aponta como razões a falta de uma liderança continuada, o ritmo de trabalho fraco e a falta de apoio. Questionado sobre a realidade de hoje, o antigo obreiro acha que tem sido feitos alguns esforços para a evangelização, mas pensa que se a administração in- vestisse em pastores residentes e experientes e com família constituída, o cenário poderia ser diferente, e para melhor. É que, os pastores mais experientes têm mais recursos e, por isso, mais facilmente conseguem contornar os obstáculos. Por sua vez, a irmã Francisca Salomão,249 também dá-nos uma pincelada naquilo que ela pensa ser os desafios e grandes objetivos da Igreja hoje em Santo Antão. Como desafio, ela apresenta a grande dispersão das populações da ilha o que dificulta os cultos nos dias de semana e o consequente encontro entre os irmãos. Já se pensou em criar um pequeno grupo na Povoação, o que ajudaria os irmãos a se fortalecerem, mas até agora nada foi concretizado. Como grande objetivo, conta o desejo de construírem o seu próprio templo. “Houve em tempos, terreno para fazer a igreja mas não era possível, devido as finanças. Hoje há terreno, mas fica longe, na Ribeira Grande. Há o proble- ma da localização e dos transportes,”250 conclui. S.Nicolau Confirma-se que o Sr. António Justo Soares, no ano de 1934, torna-se ad- ventista em New Bedford, Estados Unidos da América, e regressa a ilha natal de S.Nicolau, trazendo as boas novas. A aceitação da mensagem, custou-lhe o abandono da própria esposa. Posteriormente vai casar-se com a dona Maria do Rosário, um dos novos conversos da ilha. Entre os primeiros membros batizados em S.Nicolau, vão constar duas sobrinhas do senhor Justo Soares. Estas foram batizadas pelo Pastor Franciso Cordas, na altura, presidente da Missão dos ASD em Cabo Verde. Conjuntamente com esse primeiríssimo grupo está o senhor António Santos. Estas informações foram-nos confir- madas em entrevistas, por dois irmãos naturais de S.Nicolau.251 A família do irmão Justo será, portanto, a primeira família e o primeiro núcleo de crentes nas terras de Nhô Balta. Este grupo de pioneiros fez a sua parte252 mas a tradição daquele povo, muito apegado ao catolicismo, entre outros fatores adversos, não permitiram que a mensagem avançasse muito, confirma um dos entrevistados.253 249 Entrevista nº19, realizada no dia 5 de novembro de 2012 250 Entrevista nº19, realizada no dia 5 de novembro de 2012 251 Entrevistas nºs 11 e 12, realizadas no dia 27 de outubro de 2012 252 Entrevista nº 12, realizada no dia 27 de outubro de 2012 253 Idem, 27 de outubro de 2012 85 Vejamos alguns trechos e ideias presentes na Revista Adventista, sobre o trabalho destas primeiras décadas naquela ilha: O pastor Raposo254 conta que entre 1941/42, em trabalho de colportagem por outras ilhas do Arquipélago, passou por S.Nicolau, mas pouco pôde fazer. Em um número intitulado Missão de Cabo Verde -Bombas Atómicas em S.Nicolau,255 o autor256 descreve uma visita que fez a S.Nicolau, desde S.Vicente, com o irmão Benjamin Hatz. Levaram com eles algumas revistas das Missões, folhetos, literaturas diversas e alguns cartões de inscrição para a Escola Rádio Postal. Decidem investir para a Ilha, tendo apanhado o pa- lhabote “Ildut”, no dia 20 de julho (de 1956?). Depois de desembarcarem no porto da Preguiça, trabalharem na Vila. No Sábado vão até Água das Patas, passar a Escola Sabatina, “visitar e conhecer um herói, que um ano após ter conhecido a mensagem na América, veio para Cabo Verde, onde viveu isolado mais de vinte anos, fazendo sempre brilhar a luz. Não há ninguém que não conheça `Nhô Antone Justo` desde que se fale dum homem que não trabalha nos Sábados.” 257 Uma outra pessoa mencionada neste mesmo número é o irmão António Santos que, conjuntamente com os missionários idos de S.Vicente, trabalha com estes, levando a mensagem para os vários cantos da Ilha. Menciona-se o trabalho feito na Vila, Água das Patas, Campinho, Queimadas e Tarrafal. Entrecortando a narrativa, acrescemos a informação obtida por um dos en- trevistados258 de que o senhor Santos será, por muito tempo, um dos únicos condutores da Ilha e, por isso, sempre ao serviço do pároco local, que nunca ousava desafiar a sua fé.259 Outra informação curiosa queríamos passar sobre a Ilha de S.Nicolau. Esta também é retirada da sempre citada Revista Adventista e conta um facto insólito ocorrido com dois pastores em Missão pelas Ilhas, respectivamente Francisco Cordas e A. Casaca. “Tendo nós saído, o Pastor Cordas e eu, do Aeroporto de S.Vicente, rumo à Praia, o voo deveria efectuar-se, como sempre, e como é o programa, directamen- te, isto é, sem nenhuma escala. (…) De súbito, porém, o Pastor Cordas exclama que estávamos a perder altura e que sobrevoávamos a ilha de S.Nicolau!... 254 Citado por MORGADO, s.d., p.10 255 REVISTA ADVENTISTA, janeiro de 1956, “Missão de Cabo Verde – Bombas atómicas em S.Nicolau”, s.p 256 A fonte não é esclarecedora, mas parece ser Valério Fortes 257 REVISTA ADVENTISTA, janeiro de 1956, “Missão de Cabo Verde – Bombas atómicas em S.Nicolau”, s.p 258 Entrevista nº 12, realizada no dia 27 de outubro de 2012 259 O irmão António Santos (Antôn Garage, como era conhecido, por ser condutor) veio a falecer em 2007, nos EUA, onde virá a residir. Informação confirmada na entrevista nº12 86 Efectivamente, passado pouco tempo, aterrámos em S.Nicolau, inespe- radamente, e contra qualquer indicação anterior. Aventou-se a hipótese de uma avaria… Perguntámos com justificada ansiedade ao piloto, porque tínhamos ater- rado; e recebemos uma resposta, bem esquisita: - ´Não sei o que senti, mas só posso dizer que tive dentro de mim uma força que me levou a aterrar aqui.` Assim tivemos o privilégio de observar directamente aquela bela terra, onde podemos depositar grandes esperanças a favor da Mensagem.”260 Quanto aos anos 60, 70 e até finais de 80, pouca informação temos sobre o desenvolvimento do evangelho na Ilha. As sementes lançadas pelos pionei- ros demoram a nascer e amadurecer. Posteriormente o trabalho de pastores, colportores e outros membros lei- gos, nomeadamente, abrem o caminho para uma melhor penetração da men- sagem na ilha. No dia 30 de julho de 1987, é baptizado em S.Vicente, o irmão Fernando Ramos Duarte, natural da Ilha vizinha de S.Nicolau. Disse-nos o próprio, que sentiu uma responsabilidade de levar a mensagem à sua terra natal.261 É assim que entre finais de 1987, viaja para S.Nicolau, levando consigo mui- tos folhetos para serem distribuídos. Foram pelo menos duas viagens mis- sionárias que ele fez à ilha nos finais daquela década. Numa dessas vezes, conheceu casualmente (providencialmente?) o senhor Lourenço e que virá a aceitar a mensagem. Este segundo, conta assim a versão da sua conversão: “Eu era secretário da Cáritas no Tarrafal. Por aquela altura estávamos a ver o filme os 10 Mandamentos. Como eu já tinha lido a história na Bíblia, algumas informações do filme, foram ao lado daquilo que eu tinha lido (…). Entrementes, o meu avó morreu e fui a zona do Carvoeiro, buscar o meu irmão. Enquanto estava a espera com um amigo meu, aproveitamos para falar sobre o filme. Nesse ínterim, junta-se a nós o senhor Fernando, que per- guntou se porventura tínhamos encontrado no filme, alguma coisa diferente daquilo que já conhecíamos. Eu respondi que sim. Que no filme falavam sobre o sábado, e nós guardávamos o domingo.”262 Estavam abertas as portas para um novo converso. Seguindo os bons cos- tumes, o irmão Fernando foi pessoalmente dar os pêsames e então aproveita para dar a mensagem. E uma vez que a zona do Carvoeiro ficava longe e já se 260 REVISTA ADVENTISTA, dezembro de 1959, “Uma visita aos nossos irmãos de Cabo Verde”, p.12 261 Entrevista nº11, realizada no dia 27 de outubro de 2012 262 Entrevista nº12, realizada no dia 27 de outubro de 2012 87 fazia noite, o senhor Lourenço não permitiu ao irmão Fernando viajar. Tendo pernoitado alguns dias no Tarrafal, aproveita o tempo para estudar a Bíblia com o senhor Lourenço. Este e a família aceitam a mensagem adventista e a partir daí (re)começa a germinação da semente do evangelho na Ilha.263 Numa das outras vezes que vai a S.Nicolau, o irmão Fernando leva con- sigo, de S.Vicente, o irmão Roberto Andrade. Este, mais antigo na fé e mais experiente, vai ajudá-lo no trabalho missionário no Tarrafal, portanto zona do Sr.Lourenço Gomes.264 Vai ser preciso esperar até finais de 1989265 para que o senhor Gomes e mais outras pessoas, entre elas, a esposa Eugénia Gomes, o irmão Armando, João Bartolomeu e a irmã Margarida, fossem batizadas. O irmão Lourenço explica este aparente atraso para o seu batismo di- zendo que era preciso tempo de maturação, não havia ninguém com quem partilhar, era preciso muito leitura (e havia pouca literatura).266 Depois de já estar integrado na comunidade e com a necessidade de fazer expandir o evangelho, o irmão Lourenço, descobre algumas pessoas que guar- davam o Sábado e moravam na zona de Campim. Eram precisamente as anciãs irmã Maria do Rosário, viúva do irmão e pioneiro António Justo e as duas sobrinhas do mesmo, que tinham sido batizadas, havia quase meio século.267 Nos inícios dos anos 90, foi enviado para a Ilha, o pastor Irlando de Pina e família, dando mais consistência ao trabalho e ânimo aos irmãos. Quando ele chegara, a Igreja, melhor dizendo, os membros eram tratados pejorativa- mente. Mas a sua presença e o seu trabalho reabilitaram a dignidade da insti- tuição adventista na Ilha. Infelizmente a estadia do pastor foi muito pouca e o trabalho, ainda que fizesse esperançar bons frutos, estava comprometido.268 Entre 1991 a 1995, o irmão João Bartolomeu torna-se o primeiro obreiro residente na Ilha. Segue-lhe, em 1995, o irmão Felisberto, que é o responsá- vel pela obra até 2000. Em 2001, o pastor Irlando regressa, mas também por pouco tempo.269 Sendo assim, o trabalho descontínuo naquele território levou a que o adventis- mo não triunfasse, ou pelo menos demorasse a triunfar, em S. Nicolau. E a prova mais concreta é o facto de que só recentemente, a Ilha passou a ter uma Igreja Adventista organizada.270 263 Entrevista nº11, realizada no dia 27 de outubro de 2012 264 Idem, 27 de outubro de 2012 265 Estes irmãos foram batizados no dia 22 de novembro de 1989, pelo pastor Héber Mascarenhas, resi- dente em S.Vicente, distrito responsável por S.Nicolau, durante muito tempo. (Cf.fonte anterior) 266 Entrevista nº 12, realizada no dia 27 de outubro de 2012 267 Idem 268 Idem 269 Entrevista nº 12, realizada no dia 27 de outubro de 2012 270 Para que uma Igreja seja considerada organizada na IASD, ela tem que ter cerca de duas dezenas de membros e ter autonomia financeira. 88 Sal É certo que até finais dos anos 80, não havia Igreja organizada na Ilha do Sal. Os irmãos que aí existiam reuniam-se em um quintal na zona da Ribeira Funda, Espargos, como se pôde confirmar por uma das nossas fontes orais.271 O início da Igreja no Sal teve como pioneiro o irmão pastor Venâncio Tei- xeira. Foi ele o ideólogo e projetista para aquela que virá a ser a futura igreja da Ilha. Ajuntou e levou jovens da Ilha Brava que, para além de procurarem trabalho naquela ilha, 272 foram como obreiros leigos, que nas horas vagas pregavam o evangelho. Igualmente, para a construção da Igreja, colaboraram irmãos da Ilha de S.Nicolau.273 “A partir do momento que foram ganhando simpatia, decidiram construir a Igreja. Receberam um terreno pedregoso por parte da Câmara Municipal e, aos domingos, faziam a terraplanagem para as bases e alicerces da mesma,” assegurou um outro entrevistado.274 Pode-se imaginar que sacrifícios pessoais não teriam feito esses pioneiros irmãos. A partir dos anos 90, com a Igreja organizada, para além do pastor Venân- cio, serão pastores na Ilha, os irmãos João Félix Monteiro, o pastor António dos Anjos e Guilherme Lima. Questionando sobre algo que tivesse marcado a Igreja naquela década, ficamos a saber que os membros estavam engajados no evangelismo na zona da Palmeira, foram feitas algumas incursões em Santa Maria, intensificou-se o evangelismo porta-a-porta na vila dos Espargos, mas acima de tudo, conti- nua o entrevistado,275 preconceitos foram quebrados. Ainda dos anos 90, contam-se outros factos, nomeadamente o 1º festival de música sacra realizado na região, bem como a visita de líderes da Divisão Sul Americana, de passagem em escala a Ilha. Estes foram recebidos com honra pelos jovens/desbravadores da Ilha. À noite, na Igreja, fizeram um programa evangelístico, tendo estado presente o pároco local. A igreja era, portanto, uma igreja militante, sempre engajada no compro- misso de levar as boas novas, partilhar a fé com a comunidade. Os principais desafios na altura eram, criar novos grupos na zona de Pal- meira, Pedra de Lume e Santa Maria. Houve muitos interessados e pessoas foram batizadas na Palmeira.276 271 Entrevista nº, 11, realizada no dia 27 outubro de 2012 272 Grande parte daqueles irmãos trabalhava na construção civil (pedreiros, pintores, etc) 273 Entrevista nº 13, realizada no dia 30 de outubro de 2012 274 Idem, 30 de outubro de 2012 275 Ibidem 276 Ibidem 89 Hoje, passados cerca de duas décadas, a Igreja continua a lá estar, apenas na Vila dos Espargos. Momentos de altos e baixos, com acentuação para uma certa instabilidade espiritual entre a membresia. Urge fazer qualquer coisa. Maio Apenas através de uma entrevista electrónica,277 conseguimos algumas informações sobre os inícios da Igreja na ilha do maio. Desde que bem utili- zados, as TIC (tecnologias de informação e comunicação), podem servir de canais para a receção de informações importantes, neste caso, dados históri- co-sociológicos. Foi ainda no tempo em que o pastor João Félix estava na presidência da Associação, nos anos 90, que se enviaram os primeiros obreiros para a ilha do Porto Inglês. A lista segue por esta ordem: José Maria, Adérito Centeio, José Domingos, Inácio Cunha e o irmão Graciano. Questionado sobre algo de marcante que tenha acontecido na igreja nestas duas décadas, o entrevistado disse que: “a Igreja de Deus tem caminhado fir- me, mesmo com a saída de quase todos os seus membros para outras ilhas.”278 Sim, não se pode ignorar este facto, o êxodo das populações do maio, particu- larmente para a ilha de Santiago, a procura de trabalho e melhores condições de vida. Isto afeta não apenas a economia e o desenvolvimento da Ilha, mas o próprio crescimento da Igreja fica condicionado. Como desafios para os dias de hoje, aponta ganhar almas para Cristo, evangelizar toda a ilha e ter um pas- tor residente. O grande projeto é a finalização da construção do templo. Boa Vista Pode-se afirmar quase com absoluta certeza que até aos anos da indepen- dência e até a década seguinte, não havia nenhum adventista residente na Ilha. O primeiro núcleo de crentes vai aí fixar-se apenas a partir de inícios dos anos 90, quando era Presidente da Associação o Pastor Félix Monteiro. A ele, inclusive devem algumas investidas evangelísticas pela ilha. Os pri- meiros irmãos residentes, são naturais da Ilha de Santiago.279 Estes, por mo- tivo de trabalho foram fixar-se na zona do Rabil, a partir de 1996. A história do início evangelístico nesta localidade é interessante. Os irmãos Eduardo e Miguel, da igreja adventista da Ribeira da Barca, ilha de Santiago, fo- ram à faina da pesca, à ilha das dunas. Tendo permanecido aí algum tempo, encontraram-se com o casal José Miguel e Fátima e o irmão Victor, todos, 277 Entrevista nº18, realizada no dia 5 de novembro de 2012 278 Idem, 5 de novembro de 2012 279 Entrevista nº 14, realizada no dia 30 de outubro de 2012 90 igualmente naturais de Santiago e que residiam no Rabil. O desejo de prestar culto e louvar ao Senhor, numa ilha onde ainda não havia congregação, fê- -los juntarem-se e formar um pequeno grupo. Posteriormente, junta-se ao grupo, os irmãos José Maria e Domingas. Coube ao irmão José Maria, a irmã Domingas Tavares e ao resto do grupo, a árdua tarefa de desbravar aquele terreno desconhecido. Em 1998, com a insistência da administração central da Igreja, que fica a saber da residência de membros na Ilha, passaram a morar na vila de Sal Rei. Nesse meio tempo, junta-se ao grupo, um outro casal, também proveniente de Santiago. São eles os irmãos Octávio e Dulce. A partir daí cria-se uma dinâmica, entre aqueles que ficam e os que regres- sam à ilha mãe, de Santiago. Com um grupo mais consistente, o evangelho propaga-se mais rapidamente. Alguns boavistenses aceitaram a mensagem. O primeiro filho da Ilha residente a se tornar adventista do sétimo dia, foi o senhor Jorge Tavares. Ele foi batizado precisamente no dia 17 de outubro de 1997. Nesse mesmo ano convertia, na Praia, um jovem boavistense. Este foi residir na ilha natal, onde exercerá a profissão de professor. Mas a pressão familiar acabou por afastá-lo do grupo, que havia pouco estava a nascer na Ilha.280 Mas um problema (político?) ocorrido na altura, acabou por afetar o desenvolvimento do adventismo naquela ilha. Dois membros adventistas são acusados de estarem envolvidos na quebra de santos católicos (imagens de escultura). São eles, precisamente o irmão José Maria e o jovem, recém- -batizado, natural da ilha, Jorge Tavares. São presos, por um período de um ano e, por duas vezes julgados, tendo acabado por ser declarados inocentes. Sim, depois de tanto sofrimento, maltrato, escárnio e desrespeito para com os adventistas leu-se o veredito. Tendo em conta este episódio foi enviado à ilha o primeiro obreiro bíblico, o irmão António Andrade. Mas a sua permanência não foi para além de um ano. Questionados sobre o crescimento da membresia na Ilha, o atual diretor do grupo,281 diz que este não tem sido tão expressivo, principalmente pela resis- tência da população local que é muito ligada ao espiritismo. Mesmo as outras congregações cristãs encontram-se às moscas. Um outro aspeto tem que ver com a própria realidade da igreja/grupo local. Os membros não são naturais da Ilha e, por isso, trabalhadores itinerantes. Existe uma mobilidade permanente entre a membresia. Aqueles residentes, trabalham por turno, particularmente nos hotéis, o que condiciona o seu tempo para a obra missionária.282 O diretor do grupo ressaltou que um dos principais planos que a Igreja 280 Entrevista nº 16, realizada no dia 3 de novembro de 2012 281 Entrevista nº 17, realizada no dia 4 de novembro de 2012 282 Idem, 4 de novembro de 2012 91 tem é precisamente a construção do templo. Diz que eles já têm terreno e material para tal empreendimento. Igualmente acredita que, se porventura fizerem a construção e tiverem um pastor ou obreiro permanente, a igreja tornar-se-á mais conhecida, respeitada e o crescimento numérico seria mui- to maior. Algo positivo ainda a constar é a existência de material de som e audio-visual modernos capazes até de serem utilizados em campanhas evan- gelísticas em grandes espaços ou ao ar livre. Um dos grandes desafios daquele grupo é tornar-se uma igreja e estável. Diz ainda o entrevistado que, embora o número de membros permaneça es- tável, a constante mobilidade é um fator que condiciona negativamente a o grupo. O ideal é que se mantivesse a residência a longo prazo.283 3.2. Evolução numérica da IASD em Cabo Verde A partir de 1973, como já dissemos, a IASD em Cabo Verde deixa de estar ligada à administração portuguesa e passará a estar diretamente dependente da Divisão Sul Europeia.284 Mas ainda continua ligada à Missão adventista da Guiné. Ligação que vinha desde há muitas décadas.285 Vejamos um quadro comparativo sobre a IASD em Cabo Verde e na Gui- né-Bissau, em 1974. Fig.13. Missão de Cabo Verde e Guine dos Adventistas do Região Membros Membros da Ofertas da de Igreja Esc. Sabatina Escola Dízimos Sabatina Bissau 6 24 1.054$00 883$50 Brava 95 ? 456$00 765$00 Fogo 23 175 750$00 2.176$00 Praia 87 92 405$00 4.992$30 S.Vicente 53 60 457$70 3.566$50 Total 476 - 3.090$00 12.376$00 Fonte: MISSÃO EM REVISTA, Ano I, julho de 1974, p.11 283 Ibidem 284 FERREIRA, 2008: 386 285 REVISTA ADVENTISTA, setembro de 1956, “Progresso do Trabalho em Cabo Verde”, s.p. 92 Comentários: A primeira grande constatação destes gráficos é a grande di- ferença numérica entre o número de adventistas em Cabo Verde e Bissau, que por altura, representaria todo o território da Guiné. Tal facto talvez se explique pela diversidade religiosa daquele outro país. Se na Guiné o cristianismo coexiste com o animismo, o islamismo e outras religiões, em Cabo Verde, as religiões não cristãs são muito recentes e têm pouca aceitação entre os nacionais. O número de membros reflecte-se igualmente nas ofertas e dízimos levantados. Posto isto, passamos a ver como é que evoluiu a Igreja Adventista em Cabo Verde. Uma vez que nas páginas anteriores falamos sobre as origens, ilha por ilha, aqui apresentamos uma resenha geral da realidade dos anos 1995 a 2005. Fig.14. Evolução numérica de igrejas e membros Membros 12 13 14 14 14 14 14 15 17 30 30 Igrejas 12 13 14 14 14 14 14 15 17 30 30 Membros 1884 1997 2199 2589 2811 3266 3827 4018 4162 4443 4614 Transf. Interna 3 3 3 0 0 0 0 0 0 0 0 Transf. Externa 19 4 8 0 2 2 3 0 0 1 0 Bapt. 181 242 437 365 484 570 210 257 215 207 261 Óbitos 4 9 1 3 1 4 5 0 2 0 1 T.Mem 1997 2199 2589 2811 3266 3827 4018 4162 4443 4614 4874 Fonte: www. sda.org - Tratamento de Dados: Karl Marx Monteiro Os dados que acabamos de apresentar foram retirados a partir de um site oficial da IASD, na secção relativa às estatísticas. São dez anos de dados estatísticos (de 1995 a 2005) e que nos ajudam a caraterizar a Igreja Adven- tista em Cabo Verde. Os aspetos levados em conta foram o nº de Igrejas, o nº inicial de membros, as transferências, quer internas, quer externas, o nº de batismos, de mortes e o saldo final no nº de membros. As análises serão feitas a partir dos gráficos que se seguem: 93 Igreja Menbros 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Fig.15. Relação entre nº de Igrejas e membros Fonte: www. sda.org - Tratamento de Dados: Karl Marx Monteiro Comentários: Neste gráfico, utilizando uma variável que vai de 0 a 30, trabalhamos os dados relativos ao nº de Igrejas, de transferências e de óbitos. Se o nº de igrejas existentes em 1995 era 12, dez anos depois, em 2005, quase que triplica, apresentando um número de 30 congregações. As trans- ferências internas totalizam-se em 9, por este período de 10 anos, enquanto as externas foram de 39 pessoas. O número de óbitos foi 30, o que nos leva a tirar a conclusão da vitalidade desta Igreja, ou por ter uma população jovem, ou pelo estilo de vida dos seus membros. Fig.16 – Nº de Membros entre 1995 a 2005 Fonte: www. sda.org - Tratamento de Dados: Karl Marx Monteiro Comentários: Fizemos de propósito este quadro para termos uma ideia visual mais realista entre aquilo que é o número inicial e o final de mem- bros em cada ano, comparativamente ao número de pessoas que anualmen- te se batizam. 94 Fig.17. Nº de Batismos entre 1995 a 2005 Fonte: www. sda.org - Tratamento de Dados: Karl Marx Monteiro Comentários: O nº de batismos dos últimos cinco anos da década de 90 é consideravelmente superior aos batismos ocorridos entre 2001 a 2005. O pico ocorreu em 2000. 3.3.Caraterização Atual da IASD em Cabo Verde Esta caraterização é baseada em duas fontes. Dados do Censo 2010, reali- zado pelo INE- Instituto Nacional de Estatística (de Cabo Verde) e do relató- rio/planificação estratégica 2011-2015 da Associação das Igrejas Adventistas do Sétimo Dia em Cabo Verde, elaborado em novembro de 2010. Fig. 18. Número de Pastores Pastores Pastores Pastores Consagrados Autorizados Estagiários Total 06 02 02 10 Fonte: Planificação Estratégica 2011-2015 da AIASD-CV Comentários: Os dados apresentados são referentes ao ano de 2010, mas ainda o panorama nacional não teve uma modificação considerável, pelo me- nos a nível de pastores. Desde então, um pastor passou à reforma, e outros já vieram formados, estando a estagiar. Todavia, ainda continuamos a ter o problema de uma cobertura nacional deficiente. Há ilhas sem pastores e ou- tras onde o número é claramente insuficiente. Fig.19. Quadro numérico de membros em outubro 2010 Ano Batismos Apostasia Transferên- cia Mortos Membros 2010 321 56 12 04 6.839 Fonte: Planificação Estratégica 2011-2015 da AIASD-CV 95 Comentários: Ressalta destes dados o elevado número de apostasia, aban- dono da fé adventista, por parte de muitos membros. Fig.20. Nº de Igrejas por Ilhas em outubro de 2010 Ilhas Igrejas Organizadas Grupos Curral Grande Cutelo São Filipe Lagariça Patim Luzia Nunes Fonte Aleixo Monte Grande Roçadas Salto Fogo Chã das Caldeiras Achada Furna Relvas Mãe Joana Achada Grande Tinteira Mosteiro Centro Ponta Verde Queimada Guincho Campanas Ribeira do Ilhéu Nª Srª do Monte Furna Brava Lomba Tantum Cachaço Vila do maio Maio Pilão-Cão Praia Central Safende Palmarejo Achada Mato Ponta D`Água Cidade Velha Achadinha Porto Mosquito Calabaceira Ribeirã-Chiqueiro ASA I Eugénio Lima ASA II Achada S.Filipe Santiago Bela Vista Pedra Badejo Achada Tenda Achada Fazenda Cancelo Santa Cruz Órgãos Calheta Mato Sancho Assomada Rincão Ribeira da Barca Tarrafal Fundura Mato Gêgê Picos 96 Sal Espargos Palmeira Boa Vista Vila S.Nicolau Tarrafal S.Vicente Mindelo Madeiralzinho Ribeira Grande Santo Antão Porto Novo TOTAL 32 35 Fonte: Planificação Estratégica 2011-2015 da AIASD –C.V. Comentários: A Igreja Adventista do Sétimo Dia em Cabo Verde está cla- ramente mais presente nas ilhas de Santiago e Fogo. A Brava, o berço do ad- ventismo cabo-verdiano tem apenas duas igrejas organizadas. Nas ilhas de Bar- lavento, São Vicente e Sal são aqueles que apresentam um melhor panorama. Fig.21. Relação membros/população em outubro 2010 Igrejas e Grupos por Ilha Nº Membros Nº Habitantes % Membros por Ilha Fogo 2.168 37.914 1/18 Brava 286 6.768 1/24 Santiago 3.639 289.512 1/80 Sal 167 17.713 1/107 Boa Vista 39 5.598 1/144 S.Vicente 471 74.536 1/159 Maio 17 7.606 1/448 S.Nicolau 32 13.510 1/424 Santo Antão 20 47.684 1/2385 Total 6.839 500.841 1/74 Fonte: Planificação Estratégica 2011-2015 Comentários: Em 2010, este é o retrato oficial da IASD a nível de Cabo Verde. 1 adventista por cada 74 habitantes. A ilha que apresenta uma per- centagem mais animadora é a do Fogo. Uma em cada dezoito pessoas é ad- ventista do sétimo dia. Por outro lado, há o extremo, na ilha de Santo Antão. Apenas 1/2385 é crente adventista. Que desafio! Um último dado estatístico apresentamos e, é o mais recente que se pede ter da Igreja em Cabo Verde. São dados de 2011, fornecidos pela Secretaria da Associação. 97 Fig.22. Estatísticas Gerais da IASD em Cabo Verde – Ano 2011 Membros ganhos Membros perdidos durante trimestre durante o trimestre 1º 32 31 6.679 55 0 0 0 0 3 23 0 25 6.683 2º 32 31 6.683 23 0 0 0 0 1 3 0 25 6.677 3º 32 31 6.677 94 0 0 0 0 1 7 0 25 6.738 4º 32 31 6.738 122 0 0 0 0 0 0 0 25 6.835 Total 32 31 294 0 0 0 0 5 33 0 100 Fonte: Secretaria da AIASD-C.V. Comentários: Pode-se perceber pelos dados apresentados que houve um crescimento de cerca de 149 membros, entre o primeiro e o último trimestre. O número de batismos diminui para metade entre o primeiro e o segundo trimestres, ultrapassando as centenas no quarto trimestre. Não houve trans- ferências de entradas, nem de saídas. Há um registo de cinco mortes mas um total de 33 apostasias. Por razões administrativas, fez-se um ajuste de 100 pessoas, em relação ao nº de membros. 3.4. A comunidade adventista do sétimo dia na Ilha de São Vicente – estudo de caso - 3.4.1. A Ilha de São Vicente e a cidade do Mindelo Fig.23. Mapa de localização da Ilha de São Vicente Fonte: http://www.teiaportuguesa.com/caboverde/viagemcaboverde.htm 98 Trimestres Igrejas Grupos Memb. Início Trim. Batismos Prof. fé T.Entrada Ajustes T. Saída Mortes Apostasia Perdas Ajustes Memb. Final Trim. A Ilha de S.Vicente fica situada na zona norte do país, no Barlavento. A sua descoberta, no séc. XV, é atribuída ao Diogo Afonso, navegador portu- guês. Ela manteve-se deserta praticamente até aos inícios do séc. XIX. To- davia, durante esse período foi frequentada por piratas, por barcos ingleses, holandeses, franceses, americanos e habitantes das outras ilhas do Arquipé- lago, como Santo Antão e São Nicolau. As várias tentativas de povoamento no séc. XVIII lograram o fracasso. É de se referir a iniciativa de um rico comerciante da Ilha do Fogo, João Carlos Rosado, que na última década da- quele século decide trazer para S.Vicente vários casais, bem como escravos. Mas as secas, a aridez dos solos e a pouca produtividade agrícola deixou-o na miséria. Correia e Silva diz-nos que por volta de 1813, a população da Ilha estava reduzida a um número de “aventureiros, pastores de rebanhos alheios, prostitutas e degredados”.286 Mas as tentativas de povoamento conti- nuavam e, graças à ação do Governador António Pussich, que mandou buscar camponeses pobres e sem terras em Santo Antão, no ano de 1821, haveria em S.Vicente uma povoação com 289 habitantes, composta de choupanas, “uma igreja, algumas casas da alfândega e a residência do capitão-mor (todas as- soalhadas e cobertas de madeira).”287 A povoação recebe o nome de Dª Leo- poldina. Com o advento do Liberalismo em Portugal, o novo Governador de Cabo Verde, Joaquim Pereira Martinho apercebe-se da importância estratégi- ca da Baía do Porto Grande288 e propõe o desenvolvimento de Cabo Verde à sua volta e a sua transformação em entreposto de mercadorias africanas. Em junho de 1838 é autorizada, por decreto ministerial, a passagem da capital da Praia para a Ilha do Porto Grande, que recebe o nome de Mindelo, em homenagem ao desembarque vitorioso das tropas liberais em Portugal, numa praia com o mesmo nome. As argumentações a seu favor, tinham a ver com o clima agradável, a boa localização do seu porto e em informações deturpadas quanto à existência de água potável. Mas tal decisão política não encontra apoio da comunidade das outras ilhas. Nem nos de Santiago – Praia – que não queriam perder o seu lugar de destaque, nem nos das ilhas de Barlavento, acostumados a utilizar S.Vicente como campo de pastagem para o seu gado. A metrópole também não efectuou os esforços para que tal se efectivasse. Todavia, desenhavam-se no mundo novos caminhos, tanto a nível político, como a nível económico. Entrávamos na era da expansão industrial. Os in- gleses, pioneiros da industrialização, precisavam de espaços para mercado 286 COOREIA e SILVA, 2000:48 287 COORREIA e SILVA, 2000:51 288 Ostenta-se orgulhosamente, ao longo da Avenida Marginal do Mindelo, bandeiras com os dizeres Uma das Mais Lindas Baías do Mundo. 99 e matéria-prima. A Baía do Porto Grande pareceu-lhes profundo, seguro e bonito. Em 1835 autoriza-se a instalação de Companhias Carvoeiras na Ilha. A 1ª Companhia a ser instalada foi a companhia inglesa East India (1838/39), verificando-se automaticamente um aumento de navios bem como de pesso- as.289 Pelo Decreto-Lei de 29 de abril de 1858, a povoação ascende à catego- ria de Vila. A 14 de abril de 1879, a Vila ascende a Cidade. Os anos seguintes são de grande prosperidade. Muitos hábitos ingleses entram para o dia-a-dia dos são vicentinos. Mas chega-se finalmente à década de 1950 e a partir daí as companhias carvoeiras inglesas começam a abandonar definitivamente a Ilha. Algumas razões apontadas são, a abertura do canal de Suez e o surgi- mento dos portos de Las Palmas, Tenerife nas Canárias e Dakar no Senegal. É que nesses portos, para além de se pagar muito menos impostos do que em São Vicente, eram muito mais desenvolvidos e o poder central pouco tinha feito para melhorar ou inovar o Porto Grande do Mindelo. Como consequên- cia aumenta o desemprego, a miséria, a fome e as agitações sociais. Perante tal cenário a solução foi a emigração forçada.290 Mas, para além das peri- pécias, a Ilha de S.Vicente continua a ter um lugar de destaque quer a nível nacional, quer internacional. Foi nessa Ilha que se desenvolveu, a partir da década de trinta do século passado o maior movimento cultural e literário de Cabo Verde, a Claridade. É também no antigo Liceu Gil Eanes de S.Vicente que estudaram aqueles que virão a ser a chamada geração nacionalista, onde se destaca a pessoa de Amílcar Lopes Cabral.291 Uma outra característica, não menos importante de S.Vicente é de que a Ilha se confunde com a cidade – do Mindelo. No contexto do Arquipélago é a que apresenta um maior nível de urbanização A população reside esmagadoramente na cidade. Atenta-se para o quadro que se segue: 289 Foram os ingleses que iniciaram a dinamização do Porto Grande, mas não foram os únicos que vieram. Houve, inclusive a criação da Companhia Carvoeira Nacional. 290 A História da emigração cabo-verdiana fala-nos de uma emigração forçada, como é o caso são- -tomense, mas também houve uma emigração eufórica, esta particularmente para os Estados Unidos da América. 291 Amílcar Cabral (1924-1973). Filho de cabo-verdianos, nascido na Guiné-bissau, é um dos principais impulsionadores da luta política, militar e diplomática que conduziram a independência e consequente criação do Estado de Cabo Verde. É considerado herói nacional. 100 Fig. 24. Distribuição da População pela Ilha de S.Vicente Ilha Localidade Ilhas Localidade Nº Habitantes 2010 Mindelo 64.691 Salamansa 1.142 Baía das Gatas 3.085 Baía Norte 1 381 Baía Norte 2 381 Calhau 2.283 S. Vicente Ribeira de Calhau 381 Madeiral 1.142 Mato Inglês 381 São Pedro 761 Lazareto 381 Áreas Rurais 381 Total 76.105 Fonte: Esquema Regional de Ordenamento do Território – Ilha de S.Vicente, Vol.4, p.50 Fig. 25.Vista Parcial da cidade do Mindelo – Ilha de São Vicente Foto: Carlos Fonseca Mindelo é uma cidade pequena, talvez minúscula, se comparada às gran- des cidades de Bombaim, São Paulo, ou Nova Iorque, gigantes metropolita- nas. Todavia, para a realidade territorial do país, tem o seu papel de destaque, bem como as suas particularidades. É considerada a capital cultural do país e a ilha de S.Vicente é a segunda, a nível populacional. Juntamente com a ilha 101 de Santiago, representa 72,1% da população nacional.292 Assim como acontece para as outras cidades, pequenas e grandes, os de- safios para a evangelização são enormes. Muitos adventistas defendem a saí- da das cidades para o campo, com argumentos fortes, nomeadamente trechos da senhora White. A revista adventista Adventist World, datada de outubro de 2011, mostra que pesquisas feitas em torno dos escritos da autora provam o contrário. Cerca de 75% de 107 artigos propõe que os crentes, adventistas do sétimo dia, mudem para as cidades a fim de ali viverem e puderem fazer o trabalho de evangelização.293 De acordo com a mesma revista, a proporção entre o número de adventistas e a população das grandes cidades do mundo é de 953:1 e se compararmos, a proporção entre o número de adventistas e a população fora das maiores cidades do mundo é de 423:1.294 Como se pode ainda constatar da leitura da referida revista, evangelizar as cidades apresenta-se como um grande desafio para a IASD, a nível mundial. São do actual Presidente da Conferência Geral, Ted Wilson, as seguintes palavras: “Vamos reafirmar o facto de que os adventistas do sétimo dia entendem que, no momento, a vontade de Deus é que concentremos nossos esforços nas cidades, pois é onde as pessoas estão.” 295 Na verdade, esta mesma ideia foi defendida por E.G.White há cerca de cem anos, quando escreveu: “O trabalho nas cidades é a obra essencial para este tempo. Quando as cidades forem trabalhadas como Deus deseja, o resultado será colocar em operação um poderoso movimento como nunca foi testemunhado.”296 Não pensemos que os líderes estejam a cair em contradição. Talvez se sinta aqui o dilema adventista estar no mundo mas não ser do mundo. Mas o que dizer então da ideia de que se deve ser o sal da Terra? Jesus pede que se misture, como ele próprio fazia, que se chore pelas cidades, como ele fez por Jerusalém. Que se chore por Mindelo e pelos mindelenses! Perante este cenário, quais são as estratégias que a Igreja, a nível mundial, tem tomado para a obra do evangelho nas cidades? 292 INE, Censo 2010. De acordo com os dados do referido Censo do INE, 2010, Cabo Verde tem 62% de população urbana residente, vivendo os outros 38% nas zonas rurais. Também, é dado adquirido que até 2010, existiam apenas cinco cidades no país (Praia, Mindelo, S.Filipe, Assomada e Porto Novo), mas a partir da refe- rida do mesmo ano de 2010, por resolução governamental, o país passa a ter 24 cidades, pois todas as sedes de municípios foram elevadas à essa categoria. 293 ADVENTIST WORLD, outubro 2011, “Dentro das Cidades. Braços de Amor”, p.19 294 ADVENTIST WORLD, outubro de 2011, “Adventistas nas Cidades”, p.18,19 295 ADVENTIST WORLD, outubro de 2011, “Grande Visão para as Grandes Cidades”, p.8 296 Idem, outubro de 2011, p.8,9 102 A estratégia utilizada pela Conferência Geral é chamada de evangelismo inte- grado. Pessoas dotadas de capacidades nas mais diversas e distintas áreas criam “centros de influência” para uma “atividade de colmeia”.297 Esses centros de influência podem ser igrejas, livrarias/salas de leitura, vários tipos de ministérios nas ruas, restaurantes vegetarianos, instituições educacionais, centros de serviço comunitário, centros de educação em saúde ou clínicas. Pode haver novos e criativos métodos de serviço na comunida- de, ou estratégias de testemunho pela Internet, direcionadas a comunidades especiais. A chave do sucesso é a sustentabilidade.298 Passos concretos para a evangelização são ainda enunciados na mesma revista:299 1º- misturar-se com as pessoas; 2º- mostrar-lhes simpatia; 3º- suprir-lhes as necessidades; 4º- conquistar-lhes a confiança e, finalmente, 5º- convidar as pessoas a seguir a Cristo. A ideia de misturar-se é divina. E não é blasfémia o que acabamos de di- zer. Jesus viveu entre os homens, como o Deus encarnado. Comeu com eles, dormiu debaixo do mesmo teto (céu?), tocou-lhes as feridas, com Suas san- tas mãos, curou-lhes a lepra (Sida e Cancro do nosso tempo). Jesus misturou- -se com pecadores ao ponto de ser mal visto pelos seus contemporâneos que se julgavam mais santos, como eram os fariseus. Hoje, nas cidades, precisamos misturar-nos com as pessoas das nossas co- munidades. Assim fez a Igreja Adventista do Sétimo Dia do Sudoeste da Fila- délfia, quando em 1990, liderado por Mark Mc Cleary: “ Eles fundaram uma organização local dos irmãos para Cristo, um pro- grama que preparava os jovens para a vida adulta; ajudava vítimas de en- chentes e aconselhava os jovens (…). A igreja estava envolvida em tudo, desde ajudar as pessoas a encontrar em- prego a dedicação de bebés e Escolas Cristãs de Férias… ”300 “ É muito bom distribuir literatura, apoiar o evangelismo público, o rádio, o evangelismo via internet. Tudo isso, porém, é um apoio, não substitui o minis- tério pessoal, `mão na massa`, misturar-se com as pessoas.”301 Mostrando simpatia: Deus teve compaixão para com as cidades. São mui- tas, mas provavelmente uma das histórias mais comoventes, cheia de amor e de humor é aquela que envolveu Deus, o profeta Jonas e a cidade de Nínive. 297 ADVENTIST WORLD, outubro de 2011, “Centros de Vida com Esperança”, p.18 298 ADVENTIST WORLD, outubro de 2011, “Grande Visão para as Grandes Cidades”, p.8 299 ADVENTIST WORLD, outubro de 2011, “Dentro das Cidades. Braços de Amor”, p.17 300 Ibidem 301 Ibidem 103 Disse o Senhor a Jonas: “Não deveria eu ter pena dessa grande cidade?” 302 Quantos dos nossos amigos/conhecidos/vizinhos não precisariam da nossa ajuda? Quantos deles não se acham mergulhados no álcool, nas drogas, pros- tituição, jogos de azar e outros vícios? É preciso mostrar simpatia para com as pessoas, como Jesus fazia. “Ao ver as multidões teve compaixão delas, porque estavam aflitas e de- samparadas, como ovelhas sem pastor.” (Mateus 9:36) Suprindo as necessidades: Precisamos conhecer, saber o que as pessoas têm falta e, então, ir até elas. Qual é o bairro mais problemático da minha ci- dade? Onde é que as pessoas passam fome (não apenas física)? O que posso fazer por elas? Se não tiver meios, onde buscar ajuda? Na minha igreja local? Numa instituição de caridade? Em instâncias políticas e governamentais? Estas são algumas perguntas que carecem de uma resposta séria por parte dos seguidores de Cristo e, particularmente, “os adventistas devem estar à frente na tarefa de fazer das cidades um lugar melhor.”303 Conquistando a confiança: é nos momentos de aperto que as pessoas vêm se somos, ou não, confiáveis. É precisamente nos dias mais difíceis que os cristãos devem ser os vizinhos mais presentes, os trabalhadores mais dispos- tos a andarem uma segunda milha, os patrões mais simpáticos. É justamente quando a injustiça e fatalidades da natureza batem à porta do outro que nós, os cristãos, deveríamos ser um porto seguro. Convidando as pessoas a segui-lo: é um erro pensar e ensinar que a necessi- dade espiritual é menos importante. Pelo contrário, é fundamental. Mas isto, as pessoas vão aprendendo. Observam o estilo de vida, a alegria e o amor que trans- bordam dos seguidores de Jesus Cristo. Assim torna-se mais fácil fazer o convite para seguir o mestre da Galileia e, em consequência, mais difícil a rejeição. “Hoje, as cidades do século vinte e um também são `fortificadas e muito grandes`. As fortificações não são feitas de pedras; são reforçadas pelas intan- gíveis fortificações do secularismo, pós-modernismo e consumismo. Será que temos a fé de Josué e Calebe para dizer que, com a ajuda de Deus `é certo que venceremos`?” 304 Voltemos à cidade do Mindelo, na ilha de São Vicente. Graças à influên- cia do seu porto, o Porto Grande, ela sempre foi um local de encontros de cultura, onde tudo é mais permissivo e onde a tolerância, talvez até a extra- vagância, existem. As festas são constantes e o apelo aos apetites da carne, em detrimento do religioso, são muitos. Neste momento realizam-se na ilha 302 Ibidem (citado a partir de textos bíblicos da Nova Versão Internacional) 303 ADVENTIST WORLD, outubro de 2011, “Dentro das Cidades. Braços de Amor”, p.19 304 Idem, Outubro de 2011, p.20 104 vários festivais, com destaque para o Festival de Música da Baía das Gatas, mas também os seus carnavais, todos com projeção a nível internacional. Estas constatações, acreditamos nós, podem ser importantes na consecução dos nossos objetivos. 3.4.2. Caraterização atual da IASD em S. Vicente Antes de nos centralizarmos no caso adventista propriamente dito, quise- mos trazer, de novo, os dados religiosos relativos à ilha de S.Vicente, desta vez(re) adaptados e comentados. Fig.26. Panorama religioso de S.Vicente a partir de 15 anos de idade (2010) Denominação Religiosa Ilha de S.Vicente Adventista do 7º Dia 307 Assembleia de Deus 384 Católica 29118 Deus é Amor 36 Igreja do Nazareno 726 Islâmica 220 Judaica 4 Nova Apostólica 90 Racionalismo Cristão 4053 Testemunhas de Jeová 894 Universal Reino de Deus 436 Outra 1065 Sem religião 17204 Não sabe/não responde 544 ND 581 Total 55662 Fonte: INE, Censo 2010 - Adaptação e tratamento de dados: Karl Marx Monteiro Comentários: Ao contrário daquilo que se possa deduzir empiricamen- te, S.Vicente é uma ilha religiosa, de acordo com os dados apresentados pelo Censo de 2010. Muito provavelmente será uma religiosidade mais intelectual/ 105 emocional do que prática. Claramente, a grande maioria é (diz-se) católica, 29118 indivíduos. Mas também há um grande grupo daqueles que não tem religião, não sabem ou não respondem. A IASD ocupa, curiosamente, o quarto lugar da lista, com um total de 307 membros. Os mais curiosos, devem ter re- parado que estes dados do INE não correspondem aos oficialmente fornecidos pela Igreja, mas pensamos que esta diferença de números explica-se de forma simples. Há muitos ex-membros, desligados da congregação pelas mais varia- das razões mas que ainda se consideram adventistas, culturalmente. Assim como fizemos para a Igreja a nível mundial e nacional, também faremos a caraterização da IASD a nível da região de S.Vicente. Devemos acrescentar que administrativamente as igrejas/grupos quer da Ilha, quer de Santo Antão, são dependentes de São Vicente. Mas os dados que em baixo apresentamos são única e exclusivamente relativos à Ilha do Porto Grande. Em S.Vicente há uma Igreja Central, que fica na zona nobre da cidade, à frente da Praça Nova, enquanto o outro grupo, fica na periferia.305 Os dados que se seguem têm duas proveniências. Uma é a Secretaria da Igreja Central de S.Vicente e a outra foi conseguida através de inquéritos. Foram inquiridos 50 adventistas, representando mais de 50% das informações facultadas pela Secretaria, que nos deram informações de 98 membros regulares. Fig.27. Nº de Membros Regulares na IASD de S.Vicente Fonte: Secretaria da IASD Central de S.Vicente - Tratamento de dados: Karl Marx Monteiro Comentários: Os dados apresentados no quadro são os disponíveis, mas os líderes locais informaram-nos que os números erram por omissão, ou seja, não representam a totalidade dos membros na Ilha. Há membros que frequen- tam a Igreja Central, cujos registos se encontram nas outras duas igrejas (na altura) da Ilha e vice-versa. Todavia, daquilo que pudemos obter, chegamos 305 A altura da pesquisa, havia dois grupos, um na zona do Madeiralzinho, outro em Fonte Inês. Por várias razões, o grupo de Fonte Inês, foi extinto. 106 a conclusão de que a Igreja em S. Vicente é composta por uma esmagadora maioria de mulheres. Algumas tentativas de explicação são apresentadas. De que as mulheres são mais sensíveis à mensagem adventista. De que nascem mais mulheres do que homens, entre outras explicações. A maior percenta- gem feminina também se reflecte no número de transferidos para outras igre- jas (entenda-se adventistas), no número de membros afastados e falecidos. Fig.28. Década de Batismo/Sexo Fonte: Fonte: Secretaria da IASD Central de S.Vicente - Tratamento de dados: Karl Monteiro Comentários: Os dados obtidos a partir dos registos da Secretaria da Igreja registam batismos a partir da década de 70, do século passado. Igual- mente constata-se uma maior incidência feminina no número de membros batizados. Na década de 80, a diferença entre batismos femininos e masculi- nos é abismal. Apenas na década de 90 temos um momento de encontro. Mas o feminino dispara a partir da mesma década. Nos anos 2000 (os nossos são até 2009), o número de batismos, quer entre homens, quer entre mulheres é comparativamente superior a todas as outras décadas analisadas. Este facto não deixa de ser curioso, pois é o período que representa o momento da afir- mação da liderança nacional adventista no país. Não deixa de ser pertinente a questão da liderança, principalmente no mun- do de hoje, cada vez mais competitivo, globalizado, onde as tecnologias de informação e comunicação ganham um peso cada vez maior e onde as pessoas, os líderes em particular, são frequentemente e cada vez mais contestados. Os líderes religiosos, pelo seu grau de influência, também não escapam à regra. Sob determinadas circunstâncias os que encabeçam a liderança estão em situações que não lhes permitem chegar a níveis desejados para o desenvol- vimento da igreja. É que as pessoas que têm responsabilidades, principal- mente aquelas que implicam trabalhar diretamente com seres humanos, têm de jogar com muitas circunstâncias, quer subjetivas, quer objetivas e que 107 muitas vezes escapam ao seu controlo. Na verdade, o líder cristão do terceiro milénio encontra muitos desafios. Procurando maximizar a cooperação e minimizar a oposição, deste líder espera-se humildade, que dê atenção aos seus liderados, conhecendo-os, de preferência pelo nome, conhecendo-se a si próprio, nunca esquecendo a fa- mília. Ele deve ser capaz de lidar com o inesperado, que seja organizado, metódico, que prefira o trabalho em equipa a trabalhar sozinho, que tenha altos ideais para si e para os seus liderados, que seja capaz de aceitar a crí- tica, de se auto-avaliar, de saber que ter uma responsabilidade de liderança não é a mesma coisa que ser chefe vitalício. Alguns defeitos que o líder, principalmente o cristão não deveria ter são a discriminação, a arrogância e o oportunismo. Estas últimas caraterísticas certamente não concordariam com a ideia que comummente se tem de um cristão. A nossa visão de partida, quanto à liderança adventista na ilha de S.Vicente, é esta: Os líderes nacionais (pastores, missionários, anciãos ou outros responsá- veis de departamentos) tem pouca aceitação entre a membresia local, care- cem de algum respeito e credibilidade pela comunidade. Pensamos que esta questão é tipicamente da cultura cabo-verdiana. É a ideia de que o que vem de fora é melhor do que é nacional. Isto é possível de ser detetado desde as esferas mais simples da vida, como nas relações interpessoais, aos espaços de maior complexidade como a política ou a re- ligião. Na esfera política nacional, é possível detetar algumas incoerências, não aceites pelos políticos, mas visível para todas as pessoas. Por exemplo: o que dizer dos, supostos, concursos públicos, onde quase nunca as empre- sas nacionais conseguem ganhar alguma coisa? Esta maneira de pensar não deixa de ser detetada na esfera religiosa, na igreja adventista e, provavelmen- te, noutras igrejas ou instituições religiosas no país. Exemplo: os grandes missionários são, geralmente, considerados os que vêm de fora, os eventos importantes nestas denominações religiosas (cruzadas evangélicas, congres- sos nacionais, entre outros) têm como principais oradores pessoas vindas do exterior. Onde está o valor que se deve dar ao nacional? Na verdade, esta teoria de complexidade, defendida por Michel Foucault, é um princípio que acompanha a vida dos homens. Do trabalho do jovem pastor adventista, David Dias306 sobre a liderança jovem, realizado na comunidade adventista do distrito de Assomada, ilha de Santiago, as conclusões trazem alguma pertinência e servem-nos de apoio às ideias afloradas anteriormente. Rapidamente, o estudo diz-nos que, apesar de a maioria dos membros do distrito ser jovens (mais de 80%), os grandes 306 DIAS (2009) 108 esforços feitos a favor da juventude vêm de outros distritos; existe uma ine- ficiente participação dos jovens nas atividades da igreja. O estudo finalmente revela que existe uma liderança mal preparada para trabalhar com a juven- tude, há falta de materiais, pouca participação e ajuda por parte dos adultos e dos pais e, finalmente, uma fraca experiência e interesse entre a juventude. Os líderes nacionais deveriam ser capazes de criar condições para um bom desenvolvimento comunitário. Parece que os pastores nacionais, em particular, apesar de terem estudado nos mesmos centros educacionais307 que os pastores estrangeiros, não mos- tram estar tão qu alificados como os estrangeiros para fazer um trabalho com a amplitude daqueles; Os líderes nacionais deveriam ser capazes de criar mais empatia entre a membresia. E, como é hábito dizer-se: o profeta nunca é bem recebido em sua própria casa. É possível constatar-se, de leituras e constatações vividas na comuni- dade de que durante e logo após a passagem de pastores nacionais por São Vicente, por razões várias, a igreja vive uma situação de má disposição e os membros ficam com problemas por resolver. Os líderes estrangeiros, apesar das barreiras linguísticas e culturais, fizeram um trabalho do qual os crentes recordam com saudades. Pensamos que a barreira linguística foi facilmente ultrapassada pelas ra- zões que passamos a enunciar: o cabo-verdiano é bilingue, fala o crioulo, sua língua materna, a língua de maior uso nas relações, principalmente as infor- mais, e o português, a língua oficial e dos serviços. Apesar de os primeiros adventistas em São Vicente serem pessoas com pouca formação académica – como também o era a maior parte dos habitantes da ilha e do país – o por- tuguês não podia constituir-se um problema. É que a maior parte dos missio- nários falava português, com maior ou menor fluência. Ultrapassar as barreiras culturais poderia ser difícil, não fora São Vicente uma ilha sempre aberta ao mundo, a coisas novas, ideias, pessoas e culturas diferentes. Na verdade, acreditamos que este factor contribuiu decisivamente para o sucesso dos missionários estrangeiros. E aqui queríamos particularizar o caso dos pastores brasileiros, pois é frequente escutar-se entre os membros o refrão: Os bons tempos dos pastores brasileiros; foi com eles que aprendemos as melhores coisas; eles eram muito trabalhadores. Talvez a cantora mindelen- se Cesária Évora tivesse razão quando cantou: São Vicente é un brasilin. 307 Os pastores adventistas que trabalharam em São Vicente estudaram em seminários, colégios, ou universidades adventistas em África, Europa e Américas, nomeadamente no Brasil. Todas as instituições adventistas têm una filosofia de ensino idêntica. Para mais informações sobre a educação adventista ver: http://www.adventist.org/world_church/facts_and_figures/ 109 Os pastores brasileiros ajudaram no crescimento numérico e espiritual (valores, princípios e normas) dos membros. A primeira ideia da frase não é completamente verdade, pois como se pode deduzir, nem todos os pastores brasileiros batizaram mais do que os cabo-verdianos. A segunda parte da frase talvez seja mais verdadeira, pois como já referimos, os membros afirmam categoricamente que foi com os brasileiros que aprenderam as melhores coisas. Acreditamos que esta afir- mação seja bastante forte, quando a escutamos de pessoas que hoje ocupam cargos de grande responsabilidade na igreja. Por outro lado, deve-se pautar pela prudência, pois é difícil medir o desenvolvimento espiritual das pessoas. É que, apesar de toda a objetividade que se possa empregar na medição dos valores, este é sempre da esfera subjetiva. Os autores Briner e Pritchard, na sua obra Lições de Liderança de Jesus,308 também descrevem o perfil ideal para o líder cristão. Deve ser um homem de compromissos e, portanto, pronto a se sacrificar pelos seus liderados. Tem que ser disciplinado para não correr o risco de não cumprir os mesmos compromissos. Já referimos que um dos aspetos ressaltados pela membresia adventista em S.Vicente é que os líderes estrangeiros eram muito trabalhadores. Ques- tionamos se porventura isto não estará mais ligado à sua disciplina, do que ao seu tempo gasto no trabalho. Um líder deve ser alguém que fale com autoridade, a matéria-prima da liderança, mas acima de tudo, deve viver aquilo que diz. Os seus atos cer- tamente valem mais do que as suas palavras. As verdades ditas fora do seu tempo, passam a ser mentiras. Equacionamos a possibilidade de alguns mo- mentos de liderança terem sido exercidos de forma coerciva. Mas o líder deve ser capaz de criar empatia e simpatia entre os seus lide- rados. Deve importar-se com os seus liderados, tanto a nível individual como coletivamente. De acordo com Boyatzis, Goleman, McKee,309 o líder pressio- nador geralmente causa dissonância “…envenena o clima de trabalho – es- pecialmente por causa dos custos emocionais que tendem a ocorrer quando o líder se apoia exageradamente apenas neste estilo de liderança”. 310 Isto pressupõe, e de acordo com os mesmos autores311 a existência de outros estilos de liderança, ou líderes, que eles definem como: - visionários – aqueles que dão impulso positivo ao clima emocional e são capazes de mudar o espírito da organização; 308 BRINER e PRITCHARD (2000) 309 BOYATZIS, et.al (2002) 310 Idem, 2002:94 311Idem, 2002:79-94 110 - conselheiros – são aqueles que ajudam as pessoas, os liderados a reco- nhecerem os seus pontos fortes e fracos, ajudando-os a estabelecer objetivos e metas para os concretizar; - relacionais – preocupam-se em promover a harmonia, estimular ações amigáveis e boas relações entre as pessoas; - democráticos – aqueles que privilegiam o espírito de equipa, a gestão de conflitos e a influência. Geralmente são bons ouvintes. Dito isto, torna mais claro pressupor que em determinados períodos da história da igreja em São Vicente, em alguns momentos do exercício da sua liderança, principalmente entre os nacionais, prevaleceram mais o estilo pressionador, em detrimento dos outros. Isto terá, naturalmente, condiciona- do o processo de desenvolvimento da comunidade. Fig.29. Profissão dos Adventistas Fonte: Inquérito - Tratamento de dados: Karl Marx Monteiro Comentários: É interessante notar que a IASD em S. Vicente é uma Igreja heterogénea a nível das profissões. Encontramos desde domésticas, trabalhador (de construção civil, entenda-se) a empresásios. Mas é de res- saltar que abunda o número de estudantes, o que automaticamente nos dá a ideia de que se trata de uma Igreja com uma faixa etária bastante jovem. Representam cerca de 24% do total. Também podemos constatar que neste momento a Igreja apresenta um grau de desenvolvimento académico relati- vamente bom, tendo em conta as várias profissões exercidas pelos membros. Profissões essas que exigem uma certa qualificação, portanto, formação aca- démica ou profissionalizante. 111 Fig.30. Modo de Conversão Fonte: Inquéritos: Tratamento de dados: Karl Marx Monteiro Comentários: A grande maioria das cinquenta pessoas inquiridas diz que se converteu graças à família. Isto leva-nos a supor, sem querer extrapolar muito, de que terão frequentado a Igreja desde criança, graças à influência dos pais ou outros parentes. Uma outra forma de conversão apresentada pelos adventistas é o testemunho. Isto traduz-se na influência que a maneira de viver dos adventistas acabou por exercer na decisão dos novos conversos. Aqueles que foram convidados a assistir algum programa, acabando por ficar na Igreja, representam cerca de 6% do total. O evangelismo por amizade ocupa 4%. É interessante que o estudo bíblico e o contato direto com a Bíblia representam apenas 2%, cada um. Cerca de 4% do total não sabem, ou não respondem. Fig.31. Modo/Ano de Conversão Fonte: Inquéritos: Tratamento de dados: Karl Marx Monteiro 112 Comentários: Neste outro quadro que apresentamos, juntamos o modo às datas de conversão. Sobressaem os anos de 1975 e 2002, como os perío- dos que viram a membresia crescer mais. Igualmente é de se salientar 1995. Seguem-se os anos de 1991, 1998 e 2008. Os outros períodos apresentam um número e percentagem irrisórios. 3.4.3. O Processo Integrativo - análise aos inquéritos e entrevistas. Como já frisamos anteriormente e, baseado nos estudos de Penninx e Ver- meulen,312 a integração pode ser feita por duas vias. Uma é através do mercado de trabalho, da educação, da política ou habitação (integração estrutural) e a outra através da ação individual ou de redes sociais dos indivíduos. A ação individual é fundamental pois pode contribuir ou não para a integração e também ascensão do indivíduo na sociedade de acolhimento. Efetivamente os adventistas em Cabo Verde são cabo-verdianos e, por isso, não têm os problemas legais da integração como acontece com pessoas que se deslocam de um país ou região para outro como emigrantes. Mas como já arvoramos nas hipóteses anteriormente levanta- das, o facto dos adventistas do sétimo dia se intitularem emigrantes neste mundo, pode dificultar a sua integração social. Estudaremos a problemática da integração dos Adventistas do Sétimo Dia, na sociedade são-vicentina. Analisaremos dados obtidos em inquéritos, bem como entrevistas. Como já explicáramos na parte da metodologia, as entrevistas foram feitas a enti- dades adventistas, nazarenas, da Igreja Católica mas também políticos em S.Vicente. Os inquéritos foram trabalhados a partir do software SPSS e são os que se apresentam a seguir: 3.4.3.1. Inquérito aos adventistas Fig.32. Aceitação da IASD em São Vicente Frequency Percent Valid Percent C u m u l a t i v e Percent Valid Médio 1 2,0 2,0 2,0 N/S 2 4,0 4,0 6,0 Não 9 18,0 18,0 24,0 Sim 38 76,0 76,0 100,0 Total 50 100,0 100,0 Fonte: Inquéritos - Tratamento de dados: SPSS Comentários: Neste inquérito realizado a 50 adventistas, 76% dos membros acha que a Igreja é bem aceite em S.Vicente. 18%, correspondente a 9 indivíduos, 312 PENNINX e VERMEULEN (2000) 113 responderam negativamente. É um facto que não pode ser desprezado tendo em conta a totalidade dos indivíduos contabilizados. 4% não sabe ou não responde. Fig.33. O que a Igreja deve fazer para uma melhor integração? Cases Valid Missing Total N Percent N Percent N Percent Desde * Integração 50 100,0% 0 ,0% 50 100,0% Fonte: Inquéritos - Tratamento de dados: SPSS Comentários: Todos os inquiridos responderam as questões quanto à me- lhor integração da Igreja. As informações encontram-se no gráfico que se segue. Como se poderá verificar, a esmagadora maioria advoga uma maior integração da Igreja na sociedade, através de atividades sociais. O serviço comunitário, que traduz a mesma ideia, também aparece com uma boa con- tagem. Isto deverá ser uma chamada de atenção para as autoridades da Igreja, quer a nível regional, mas também a nível nacional, quanto à necessidade de se incluir nos planos de atividade da mesma, programas virados para fora da comunidade adventista. A evangelização, um termo bastante abrangente, pois ensina-se que pode ser feita de formas diversas – campanhas públicas, evangelismo porta – à – porta, entre outras formas, aparece em segundo lugar. É interessante notar que outros programas, nomeadamente a rádio difusão e a televisão têm pouco destaque. Pouca atenção também é dada à questão da educação – adventista – no seu processo integrativo em S.Vicente. Fig.34. Modo de Integração 114 3.4.3.2 Inquérito aos não-adventistas Fig.35. Conhece a IASD? Frequency Percent Valid Percent C u m u l a t i v e Percent Valid Não 30 31,6 31,6 31,6 Sim 65 68,4 68,4 100,0 Total 95 100,0 100,0 Fonte: Inquéritos - Tratamento de dados: SPSS Comentários: Dos 95 não adventistas inquiridos sobre se conheciam a IASD, 68,4% responderam positivamente. 31,6% responderam negativa- mente. Apesar da percentagem dos que responderem afirmativamente ser positiva, a localização da Igreja na zona nobre da cidade, a longínqua pre- sença adventista em S.Vicente (cerca de 80 anos), pressupunha que a mesma devesse ser melhor conhecida pelas pessoas. Mas essa é a realidade. Fig.36. Os que conhecem a IASD - por sexo Fonte: Inquéritos - Tratamento de dados: SPSS Comentários: A maior parte dos inquiridos que disse conhecer a IASD é mulher. Não se pode todavia estranhar, pois representam um número de 38 indivíduos, contra os 26 homens. Dos que não conhecem, também a maioria, ainda que não esmagadora, são mulheres. 17 mulheres contra 13 homens. Uma pessoa não respondeu. 115 Fig.37 - Que tipo de Organização é a IASD? Frequency Percent Valid Percent Cumulat ive Percent Valid I. 68 71,6 71,6 71,6 Org. N/R 6 6,3 6,3 77,9 N/S 15 15,8 15,8 93,7 Seita 6 6,3 6,3 100,0 Total 95 100,0 100,0 Fonte: Inquéritos - Tratamento de dados: SPSS Comentários: Questionados sobre que tipo de organização pensam ser a IASD, 71, 6% acreditam ser ela uma Igreja Organizada, enquanto 6,3% vêem a Igreja como uma seita. 15,8% não sabe e 6,3% não responde. Veja-se o quadro e os comentários que se seguem, onde, para além de se apresentar o número e a percentagem, aparece também o sexo dos inquiridos. Fig. 38. Tipo de Organização por Sexo Fonte: Inquéritos - Tratamento de dados: SPSS Comentários: Distribuídos por sexo temos os seguintes dados: 40 mu- lheres afirmam ser a IASD uma Igreja organizada, enquanto 2 acham que se trata de uma seita. 10 mulheres não sabem e 3 não respondem. Entre os ho- mens, 28 responderem ser uma Igreja Organizada, 4 acham que é uma seita, 4 não sabem e 3 não respondem. 116 Fig. 39. Profissão dos não-adventistas inquiridos Fonte: Inquéritos - Tratamento de dados: SPSS Comentários: Na escolha de pessoas a serem inquiridas pautamos por uma maior heterogeneidade possível. O quadro é prova disso. As diferentes profissões mostram essa diversidade. Grande número dos inquiridos é pro- fessor, 18 no total. Um outro grupo bastante grande é o de estudantes – todos estudantes universitários. 9 dos questionados disseram ser trabalhadores, o que para a nossa realidade quer dizer a mesma coisa que é um faz tudo. Fo- ram inquiridos 8 agentes da polícia nacional, entre outras profissões, passan- do de ministro evangélico a doméstica e pescador. Fig.40.Os que já assistiram algum programa da Igreja Adventista Frequency Percent Valid Percent C u m u l a t i v e Percent Valid Não 59 62,1 62,1 62,1 Sim 36 37,9 37,9 100,0 Total 95 100,0 100,0 Fonte: Inquéritos - Tratamento de dados: SPSS Comentários: 59 dos inquiridos disseram que nunca assistiram nenhum programa da IASD. 36 já assistiram. A percentagem implica 62,1 para os que já assistiram e 37,9 para os que nunca assistiram. 117 Fig.41.Tipo de programa que já assistiram Tratamento de dados: SPSS - Fonte: Inquéritos Comentários: Dos que já assistiram algum programa, é interessante notar que a maioria assistiu aos cultos, um momento mais formal das pro- gramações, em detrimento dos programas de jovens ou musicais, que ge- ralmente se fazem em ambientes mais informais. Talvez isto se explique pelo facto de as pessoas terem aceite algum convite específico para deter- minado programa de culto e não terem sido convidados para outros tipos de programas, que supostamente deveriam atrair mais os não adventistas. Fig.42.Colocaria o filho no Jardim Adventista – por sexo Porquê Total Fem Masc N/R Jardim N/S 1 0 0 1 Não 6 11 1 18 Sim 48 28 0 76 Total 55 39 1 95 Fonte: Inquéritos - Tratamento de dados: SPSS Comentários: 48 mulheres responderam afirmativamente, enquanto nos homens, apenas 28 concordam em colocar os filhos no Jardim Adventista. 18, na sua totalidade responderam que não, sendo 6 respostas das mulheres e 11 dos homens. 1 inquirido disse que não sabia. Conferir a figura gráfico/ a seguir: 118 Fig.42.1. Colocaria o filho no Jardim Adventista Fonte: Inquéritos - Tratamento de dados: SPSS Fig.43 - Razões para colocar ou não o filho, no Jardim Adventista Porquê Total Jardim N/S 0 0 0 0 1 0 0 1 Não 0 0 1 7 0 5 5 18 Sim 15 1 0 60 0 0 0 76 Total 15 1 1 67 1 5 5 95 Fonte: Inquéritos - Tratamento de dados: SPSS Comentários: A grande razão apresentada por aqueles que disseram co- locariam os filhos no Jardim Adventista – 78 no total - é o facto de ser con- siderado um Bom Jardim. 7 não responderam, 5 disseram não ter filhos e 5 disseram que não colocariam os seus filhos no Jardim, por razões doutrinárias. Ver a figura a seguir. 119 Bom Jardim Filho frequent Jardim pouco interessante N/R Não conhece Não tem filhos Razões Dou- trinária Fig.43.1. Razões para colocar ou não o filho, no Jardim Adventista Fonte: Inquéritos - Tratamento de dados: SPSS Fig. 44 - O que sabe acerca daquilo que a IASD tem feito a nível da Ilha? Frequency Percent Valid Percent Cumulat ive Percent Valid Act. Comun. 10 10,5 10,5 10,5 Actividades 1 1,1 1,1 11,6 Apoio Social 8 8,4 8,4 20,0 Campanhas 3 3,2 3,2 23,2 Contactos Missio- 3 3,2 3,2 26,3 nários N/R 6 6,3 6,3 32,6 N/S 48 50,5 50,5 83,2 Palestras 1 1,1 1,1 84,2 Programas Sociais 7 7,4 7,4 91,6 Programas Sociais e 5 5,3 5,3 96,8 Palestras Programas Sociais 2 2,1 2,1 98,9 Visitas 1 1,1 1,1 100,0 Total 95 100,0 100,0 Fonte: Inquéritos - Tratamento de dados: SPSS Comentários: As respostas quanto àquilo que se sabe que a Igreja tem feito a nível da Ilha variam. O número de pessoas que não sabe sobre aquilo que tem feito a IASD em S.Vicente é gritante. Mais de 50%. 10,5% falam em atividades comunitárias e 8,4 % em apoio social. Outra percentagem que se destaca é aquela das pes- soas que não respondem, 6,3%. Esta informação é complementada através da figura/gráfico que se segue: 120 Fig.44.1 O que sabe acerca daquilo que a IASD tem feito a nível da Ilha Fonte: Inquéritos - Tratamento de dados: SPSS 3.4.4. Análise às entrevistas - adventistas Questionando os líderes adventistas sobre o que pensam que a IASD tem feito para a sua integração tivemos respostas interessantes, como a que passa- mos a transcrever: “a missão principal da IASD é fazer discípulos, fiéis a Deus e ao seu próximo. Os membros devem ensinar e ajudar as pessoas a terem uma boa saúde para melhor entenderem a verdade e fazer melhores escolhas. Reconheço que fizemos algum trabalho no âmbito da saúde pública, como a luta contra o tabaco, (…) Mas a nível da educação, o Jardim Adventista e a sua escola primária formaram homens e mulheres desde a sua tenra infância para servirem à Igreja e sociedade, como médicos, professores, pastores, etc. Eu sou um fruto da educação integral da IASD”.313 Claramente, aqui ressalta a ideia que comummente tem o adventista ao acreditar que pertence a um povo especial, escolhido, com a missão de: salvar o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Esta maneira de pensar, como já explicamos anteriormente, é visto por não adventistas como uma forma de exclusivismo e até de sectarismo. Sobre a relação da IASD com as outras instituições religiosas em S.Vicente a resposta foi unânime. Todos advogam existir uma relação saudável, que não compromete os princípios defendidos pela IASD. Todavia, isto leva-nos a pensar se porventura não se trata de dizer em outras palavras, aquilo que poderia ser traduzido por estas: inércia nos relacionamentos. 313 Entrevista nº 4, realizada no dia 20 de agosto de 2009 121 Quanto à questão da liberdade religiosa no país, os líderes atuais da Igreja estão de acordo que ela possa existir, mas que na prática deveria ser melhor. Em alguns momentos a IASD, quer a nível regional, quer a nível nacional viu negadas algumas oportunidades e benesses, nomeadamente na atribuição de terrenos para construção de edifícios públicos. Nalguns casos concretos, os mesmos terrenos, pouco tempo depois passam inclusive para outras igre- jas. Este foi um ponto bem vincado pelos líderes adventistas. Um outro aspe- to que comprometeu a liberdade do culto adventista nas ilhas foi a acusação, nos finais dos anos 90, a um grupo de adventistas do sétimo dia de terem que- brado santos em algumas igrejas católicas. Foi tema de conversa pública e de discussão nos meios de comunicação de massa durante algum tempo. Apesar da resolução final do tribunal provar o contrário, por essa altura, constatou- -se um mal-estar geral para com os adventistas no país. Questionado sobre a liberdade religiosa, particularmente em S.Vicente nas décadas anteriores, um dos pioneiros da obra em S.Vicente dir-nos-ia que: “a lei não nos pro- tegia. As nossas crianças tinham problemas na escola por causa do Sábado. Perdiam o ano por faltas, pois os diretores não aceitavam as justificações. A Igreja mandava cartas para as escolas para dispensarem os alunos das aulas e exames aos sábados, alegando a liberdade religiosa, mas não funcionava.”314 Continua o mesmo entrevistado dizendo: “ nós, os que trabalhávamos, tínha- mos problemas com os patrões no trabalho. Eles não gostavam de nos pagar e geralmente faziam-no aos sábados.”315 A guarda do Sábado é efetivamente um marco distintivo e caraterizador dos adventistas. Como dia santo e de guarda, deve ser respeitado. Mas pode igualmente funcionar como um entra- ve, quando os adventistas não encontram, por parte dos patrões, vontade de negociar. Falando ainda sobre esta questão, um dos entrevistados disse-nos que inicialmente grande parte dos membros da igreja trabalhava por conta própria, ou na prestação de serviços a privados: “ havia poucos funcionários públicos”, assegurou-nos. Uma vez que a quase totalidade dos nossos entrevistados viveu o perí- odo de transição para a independência nacional, facto consumado no dia 5 de julho de 1975, não quisemos deixar de saber a sua perceção quanto à maneira como os adventistas eram vistos naquela altura. Descrevem a IASD em S.Vicente nos anos 60/70 como sendo fechada para com a co- munidade. Os membros eram rejeitados: “as pessoas não falavam conosco e chamava-nos de protestantes”,316 frisou um dos entrevistados. Tratava-se 314 Entrevista nº 2, realizada no dia 10 de novembro de 2008 315 Idem, 10 de novembro de 2008 316 Ibidem 122 de uma Igreja constituída maioritariamente por um conjunto de algumas famílias, estas tradicionais e numerosas. Mas a opinião dos entrevistados é de que, a partir dos anos 80, a Igreja começa a abrir-se para a comunidade. Começam a envolver-se em ações sociais, nomeadamente na distribuição de alimentos (leite, bolachas, entre outros géneros) que chegavam das co- munidades adventistas na Europa. Também recebiam roupas e sapatos que eram redistribuídos às pessoas carentes. Foi por essa altura que os pastores começam a visitar as zonas da fralda317 e a conhecer os reais problemas dos são-vicentinos. Foi também nos inícios da década de 80 que se abriram as portas do Jardim Adventista – Jardim Nosso Amiguinho. A envolvência social, procurar ajudar as pessoas nos problemas do dia-a-dia, deve ser efe- tivamente uma das primordiais obras das Igrejas, acreditamos nós. Não se deve desmerecer o papel da educação adventista em S.Vicente, quer pelo Jardim, Escola Primária ou Ensino Secundário. Questionados sobre a reali- dade da Igreja de S.Vicente hoje, os pioneiros dizem que a Igreja não está a trabalhar convenientemente. A sua justificação é de que os membros têm pouco poder nas decisões, falta incentivo aos membros por parte da lideran- ça. Um outro fenómeno que não deixaram de ressaltar foi o grande êxodo de membros da congregação local que nos finais da década de 90 emigraram, quer para a Europa, quer para os EUA, ou para outras ilhas. Dizem que a Igreja atual, por ter mais condições humanas e materiais poderia fazer mais e melhor. Um entrevistado disse as palavras que usaremos para concluir esta parte: “ hoje há muitos valores que se foram perdendo. No início havia um calor de irmãos, sentíamos os problemas uns dos outros. Hoje cada um tem os seus compromissos, os seus problemas. Antes os problemas de saúde, de emprego eram mais facilmente resolvidos.” 318 3.4.4.1. Análise às entrevistas - não adventistas Apesar de todos os nossos entrevistados ocuparem cargos de eleição nas suas respetivas congregações, nem todos tinham o mesmo nível de conhecimento em relação à IASD. Os entrevistados nazarenos mostraram ter mais conheci- mento sobre a IASD. As razões podem ser vistas sob diversas perspectivas. O facto dos nazarenos e adventistas serem protestantes e, por isso, terem uma maior afinidade entre si. A Igreja Católica, por ser a mais antiga e maioritária, considera as outras religiões como seitas e por isso de menos importância, ou quiçá, a própria falta de interesse, conhecimento e informações por parte dos ca- tólicos. Um confessou-nos que não conhecia muito bem a IASD, enquanto ou- tro disse-nos ter apenas um conhecimento pontual sobre a IASD em S.Vicente. 317 Zonas da fralda, o correspondente de subúrbios. 318 Entrevista nº 2, realizada no dia 10 de novembro de 2008 123 “ Sei que têm um templo na Praça Nova, um jardim infantil, que fazem cultos aos sábados, uma vertente de cuidado para com a juventude. Sobre a vivência dos membros, não sei muito.”319 Questionados sobre a relação entre a Igreja Católica e a IASD, um disse-nos que pouco sabia daquilo que se tem feito entre estas duas comunidades de crentes cristãos. Todavia, um outro assegurava-nos que: “ a relação é boa. Há aceitação mútua, respeito pelo espaço de cada um. Tem havido momentos de partilha da fé, nomeadamente com programações sobre a família dirigidas por adventistas nas nossas instituições.”320 Da Igreja Nazarena, conseguimos igualmente duas entrevistas, das quais retiramos as seguintes informações pertinentes. Um primeiro entrevistado afirma conhecer a IASD e assegura que a grande marca distintiva desse povo é a guarda do Sábado como dia sagrado. Continuava dizendo que a relação entre a Igreja Nazarena e as outras igrejas, nomeadamente a adventista, é saudável: “é uma coisa natural”,321 acrescentou. Ressalta ainda o facto de que os adventistas são um povo da Bíblia. “O que interessa é a Bíblia. Basta terem esse princípio.”322 O segundo entrevistado nazareno começava dizen- do: “ desde o princípio da minha formação humana, visitei e estudei sobre a IASD. Foi uma oportunidade para conhecer os membros, líderes e práticas doutrinárias adventistas.”323 Questionado ainda sobre o que pensa sobre a IASD, disse ser “uma agência de Deus na Terra. Tem bons princípios doutri- nários. Um testemunho de vida saudável para os membros. Ou seja, é uma igreja necessária para o mundo, para o cumprimento da missão.”324 Continu- ava, dizendo que “as relações são boas. Relações de cordialidade, liberdade e tolerância, mas podiam ser melhores.”325 acrescentou. Questionado sobre como melhorar este índice de cooperação, a resposta foi de que: “deveria haver maior disponibilidade em servir, em prol da sociedade. Ajudar, jun- tos, à sociedade nas suas lutas.”326 Acrescentou ainda que os líderes deverão despir-se dos seus preconceitos que os leva a estarem separados. Muita coisa podia ser trabalhada junta, pois, “são todas agências de salvação”, rematou. “ Existem mais de duas dezenas de denominações diferentes e a cidade do Mindelo está a ficar cada vez pior. Jesus é quem pode fazer a diferença”,327 319 Entrevista nº8, realizada no dia 10 de dezembro de 2009 320 Idem, 10 de dezembro de 2009 321 Entrevista nº7, realizada no dia 1 de dezembro de 2009 322 OIdem, 1de dezembro de 2009 323 Entrevista nº 6, realizada no dia 17 de novembro de 2009 324 Idem, 17 de Novembro de 2009 325 Ibidem 326 Ibidem 327 Ibidem 124 sublinhou. Este líder ainda propõe que os pastores se reúnam para a oração, que estejam prontos a ajudar as pessoas carentes, prontos a protestar contra a violência, o uso abusivo do álcool, contra a droga e outros flagelos sociais. “ É o reino de Deus que vai ganhar”, 328 frisou. Defende, portanto, uma postura pró-activa. “ Não ficar dentro da nossa concha”,329 finalizou. Não quisemos terminar esse ciclo de entrevistas sem mencionar o que as en- tidades políticas da Ilha pensam sobre as Igrejas e sobre a IASD em particular. Efetivamente, a política e a religião não podem imiscuir-se em questões uns dos outros, mas pode-se opinar e a partir daí tirarmos as nossas conclusões. Porque a Câmara Municipal não representa nenhuma ideologia religiosa em particular, a nossa entrevista foi conduzida em moldes diferentes dos entrevistados religiosos. O edil camarário começa por afirmar que as igrejas desempenham um papel cru- cial em S.Vicente. “ Elas têm contribuído para aproximar as populações, dando mais segurança às pessoas”,330 acrescentou. Admitiu ainda que, quando se tem fé, é possível levar uma vida melhor, principalmente numa sociedade onde a violên- cia cresce a cada dia. Ao longo da entrevista apercebemo-nos da ênfase que este líder político atribui ao jovem e a família. Admite que o jovem precisa da orien- tação, experiência e aconselhamento do adulto, principalmente nesta sociedade de corrida à matéria. Mas o que constata, assegurou-nos, é que os adultos vivem na sua concha331 e os jovens respondem com resignação. Acrescentava: existe uma covardia coletiva.332 Mas, felizmente, “a Câmara de S.Vicente é uma Câmara social”,333 admitia o edil. E, por isso, tem procurado parceiros que com ele cola- borem nos mais variados campos de ação. É aí que entram as igrejas, assegurou- -nos. “ A relação da Câmara com as igrejas tem sido extraordinária. Temos uma rede social de apoio onde estão incluídas as igrejas. Anualmente disponibilizamos mais de dez milhões de escudos cabo-verdianos para apoio a várias associações, centros sociais e jardins infantis de diversas denominações religiosas”.334 Admitiu que “estes organismos religiosos muito têm contribuído para a prevenção do uso, consumo e tráfico de estupefacientes, no combate ao consumo excessivo do ál- cool e na reabilitação de pessoas, principalmente mulheres, que entram cedo para a vida de prostituição”.335 Mas ele finalizava, dizendo que se podia fazer ainda muito mais. Isto leva-nos a concluir que, ainda que a Câmara reconheça o papel 328 Ibidem 329 Ibidem 330 Entrevista nº 10, realizada no dia 17 de dezembro de 2009 331 Idem, 17 de dezembro de 20099 332 Ibidem 333 Ibidem 334 Ibidem 335 Ibidem 125 positivo das igrejas, elas estarão aquém do esperado e desejado, como agentes reguladores dos valores sociais. Perguntavamos então, qual o papel dos cristãos adventistas do sétimo dia neste município, nesta câmara social? O que falta para uma melhor integração? A IASD, por advogar valores como a promoção da ins- tituição familiar, por defender a saúde como uma das dádivas divinas, a honra e a obediência dos filhos para com os pais e a orientação e respeito dos pais para com aqueles, deveria como instituição, através de ações concertadas com a Câmara Municipal ter uma atitude mais ativa e influenciadora a nível social. E, porque uma instituição é constituída pelos elementos que a compõem, pressupõe-se que os membros adventistas do sétimo dia de S.Vicente, através das suas associações, de grupos organizados, quer de jovens, adultos ou crianças, bem como a nível individual podem e devem fazer mais para o município onde estão inseridos. Isto significa integração. 126 CONCLUSÕES Não foi nossa intenção neste trabalho apresentar um estudo exaustivo e nem acabado sobre a religião, tema que sabemos ser de difícil tratamento, pois suscita as mais diversas paixões. Todavia, tem encontrado na pena de renomados autores um lugar de destaque. Desde teólogos das mais diferentes confissões a filósofos, historiadores, sociólogos, entre outros. Fizemos um estudo histórico sociológico sobre a Igreja Adventista do Sétimo Dia em Cabo Verde, com particular incidência para o caso da comu- nidade da ilha de São Vicente. Uma vez que se trata de um trabalho de análise histórico/sociológico, as conclusões dividem-se em duas partes que, todavia, se complementam. Comecemos com a conclusão histórica. Será feita ilha por ilha, conforme a cronologia da chegada da mensagem adventista às mesmas. Ilha da Brava O primeiro núcleo de crentes adventistas do sétimo dia em Cabo Verde, organizou-se na Ilha Brava, a ilha das flores. Foi precisamente o Sr.António Gomes, natural da Brava e residente na Califórnia, Estados Unidos, que depois de conhecer a mensagem adventista, regressa à sua terra natal em 1933, para lançar as sementes do evangelho. A sementeira foi profícua e em pouco tempo já tinha frutos promissores. As pessoas começam a aceitar a mensagem adventista. Como consequência, foi enviado o primeiro pastor a Cabo Verde, vindo de Portugal, país a que o Arquipélago dependia política e administrativamente, pois era a sua colónia. Foi Alberto Raposo e família. Logo nessa altura, constrói-se a primeira igreja na zona de Nossa Senhora do Monte, mas abrem-se outros grupos, nomeada- 127 C A P Í T U L O I I I mente na Furna e Nova Sintra. Os primeiros batismos adventistas realizados na Ilha e no país, foram em 1936. Depois da passagem pela ilha de missionários, pastores portugueses, che- ga um filho da terra, o irmão Gregório Rosa, natural da cidade da Praia e que entre os finais dos anos 40, inícios de 50, é o novo pastor na Brava. É nessa década que começa a funcionar a escola adventista (1944) cujo alvará será outorgado posteriormente. Dos anos 50, destacamos a visita do então Presidente da União Portugue- sa dos Adventistas do Sétimo Dia à Ilha, na altura, pastor Ernesto Ferreira. Não nos deve escapar o problema da fome que volta a assolar a ilha. Nos anos 60, entre os vários obreiros e pastores, destacamos o trabalho realizado por Isaías da Silva. Nas vésperas da independência política e administrativa, para com Portu- gal, inícios de 1970, a escola adventista continua a funcionar. A partir de 1973, com a administração direta pela Divisão Sul-Europeia já não se enviam pastores portugueses à Brava. Os finais de 70, anos 80 e até inícios de 90 correspondem a um período de transição para a administração cabo-verdiana. Os anos mais recentes carecem de informações, mas dados estatísticos pertinentes são apresentados ao longo do trabalho, nomeadamente nos sub- -capítulos 3.2.Evolução Numérica da IASD em Cabo Verde e 3.3. Carateri- zação actual da IASD em Cabo Verde. Ilha do Fogo Da Brava, o evangelho chegou à vizinha ilha do Fogo, a ilha do vulcão, ainda no tempo do Pastor Raposo. O primeiro interesse surgiu na zona de Ribeira Ilhéu, em 1942, quando o novo pastor João Esteves se estabelece na Ilha. O trabalho será mais metódico e, por isso, mais produtivo. A este seguem-se o irmão Arlindo Miranda e o pastor Gregório Rosa. Com a nomeação do pastor Francisco Cordas como diretor da Missão Adventista em Cabo Verde, a obra nas ilhas ganha um novo fôlego. Vai se apostar grandemente na educação. São conseguidos os alvarás para as esco- las nas ilhas onde já havia presença adventista. Nesta ilha, bem como na vizinha Brava, o início do adventismo acompa- nhou a fome que assolava os seus habitantes. Agrava-se o problema com a 128 erupção do vulcão em 1951. A nenhum destes fenómenos ficou a Igreja indi- ferente ou inconsequente. Apesar disso, a Igreja continuava crescendo, quer durante os anos 50, na década seguinte e nos anos 70, apesar da separação política e administrativa de Portugal. Na segunda metade de 70, 80 e 90, a ilha, que também viveu e intensa- mente o período de transição vê por ela passarem vários pastores, nomeada- mente brasileiros, mas também muitos cabo-verdianos. As estatísticas recentes (2010) dizem-nos que esta ilha é a que percentu- almente tem mais adventistas. Uma pessoa em cada 18 habitantes era adven- tista do sétimo dia.336 Ilha de Santiago Depois da Brava e Fogo, temos a ilha de Santiago, a maior do arquipélago e a terceira a ter uma igreja organizada. Já em 1935 chegava o primeiro obreiro à ilha, o irmão Américo Rodrigues. Não foi fácil o trabalho na Ilha durante as primeiras décadas. Havia muita resistência da população que era (é?) extremamente católica. Nos anos 50, para ajudar na pregação do evangelho foi criada uma escola primária. As condições eram precárias mas funcionou durante algumas décadas. Ainda neste mesmo período a sede da Missão que funcionava na Praia teve que ser transferida para S.Vicente, que na altura apresentava melhores condições, nomeadamente a facilidade de comunicações entre as ilhas e entre as ilhas e o estrangeiro, que se fazia maioritariamente de barcos naqueles tempos. Nessa mesma década começa a ser plantado o evangelho pelo interior da ilha, mas os frutos demoram a aparecer. Igualmente, nesses anos, mais preci- samente em 1956, o presidente da Divisão Sul-Europeia, a qual Cabo Verde pertencia, visitou o Arquipélago. Dos anos 60, pouca informação podemos acrescentar pois as fontes são escassas. Observa-se, todavia, o retorno da sede da Missão à capital em 1968. Na década de 70, como sempre, salta à vista o momento de agitação, de independência. Iniciava-se o período de transição, de 70-80, que será feito par- ticularmente por brasileiros, mas também por outros pastores enviados pela Divisão Sul-Europeia, nomeadamente pastores italianos. A partir dos anos 90, a realidade altera-se. A quase totalidade dos pastores é cabo-verdiana. A administração também é assegurada por pastores nacio- nais. O primeiro presidente da agora Missão de Cabo Verde é o pastor João 336 PLANIFICAÇÃO ESTRATÉGICA DA AIASD-CV 2011-2015, 11 de novembro de 2010, p.6 129 Félix Monteiro. Da década de 90, conta o rápido crescimento da Igreja na capital. Multiplicam-se pela cidade e chegam ao interior. Hoje Santiago é a ilha que tem mais adventistas em Cabo Verde. Ilha de S.Vicente A ilha do Porto Grande foi a quarta a abraçar o adventismo. Se nos anos 30, já tinham por aí passado adventistas da Brava e do Fogo, só a partir da década seguinte é que surge o primeiro grupo de crentes na ilha. Nos anos 50, destaca-se a compra do terreno adjacente e o edifício que al- bergavam o templo e a escola. A escola adventista de S.Vicente cujo alvará data de 1954, e o Jardim Nosso Amiguinho, criado nos anos 80, são duas instituições educacionais que funcionarão como pólos de atracão adventista na cidade. Voltemos aos anos 50. Por essa altura, há a tentativa de evangelizar o (pouco) interior que a ilha dispõe. Referimos concretamente à zona de Sala- mansa cujos pormenores são descritos nas páginas anteriores. Aqueles que viveram os anos 60 na ilha acreditam que ela era fervorosa, apesar da tentativa de ridicularização por que passavam os membros. Nos fi- nais da década, há o retorno da Sede da Missão para a cidade da Praia. Em 1969 é organizada a primeira Escola Cristã de Férias, na Ilha. Igualmente é de realçar a licença conseguida pela Igreja, para duas emissões semanais da programação adventista na rádio do Mindelo. Dos anos 70 ressaltamos os problemas de manutenção da escola, que até esteve fechada por três anos, acabando por ser reaberta. Parece que, por altu- ra da independência política do território, a Escola Adventista de S.Vicente conseguiu sobreviver, apesar das outras terem sido fechadas, por decisão da administração central da IASD. À antiga escola, ao Jardim Nosso Amiguinho, criado nos anos 80, junta- -se o ensino secundário, nos anos 90. Com maior ou menos dificuldade, estes três diferentes níveis de ensino foram funcionando no mesmo espaço, até que a escola primária e secundária fossem fechados nos inícios de 2000. Ficar-nos-ia um outro aspeto a acrescentar. Graças à colportagem, S.Vicente exerceu um papel relevante para a propagação da mensagem ad- ventista, nomeadamente nas Ilhas do Sal, S.Nicolau e Santo Antão. Ilha de Santo Antão A ilha das montanhas, Santo Antão, ainda tem pouco para contar. O tra- balho da colportagem pelo pastor Gregório Rosa, nos idos anos 40, pouco 130 resultou. Mas passados 30 anos, o Pr.Rosa, agora mais experiente, decide investir pela Ilha. Conjuntamente com a ajuda de jovens de S.Vicente, onde residia, avança mais uma vez pela ilha das montanhas. O trabalho é seguido pelo pastor Orsucci. Surgem os primeiros frutos. Nos anos 80, ficam às despensas da Igreja de S.Vicente. Só nos anos 90 são reenviados pastores e obreiros residentes. Os pastores fixaram-se na vila de Povoação, enquanto os obreiros, ora na vila principal, ora no Paúl, ora no Porto Novo. Houve algum crescimento numérico e reavi- vamento espiritual, nomeadamente na Ribeira Grande e no Porto Novo, onde não havia presença oficial de adventistas, tendo sido criado um novo grupo. Mas até agora, o crescimento e a maturação da Igreja, na Ilha, têm sido muito deficientes. Entre outros fatores que obstam no seu desenvolvimento, contam a dispersão geográfica, o forte catolicismo, o complexo que se man- têm para com os da própria ilha e, particularmente, a ausência de um pastor residente, casado e experiente. Apesar de todo o trabalho feito por pastores, obreiros e irmãos leigos, as lacunas subsistem. Neste momento existem dois grupos a funcionarem à uma distância de mais de 30 km de distância. Um na Rª Grande e outro no Porto Novo. Um dos grandes objetivos da Igreja em Santo Antão é ter um espaço pró- prio de adoração. Ilha de S.Nicolau Um dos primeiros cabo-verdianos a aceitar a mensagem foi o Sr. António Justo Soares, natural da Ilha de S.Nicolau. Este converte-se nos EUA em 1934. Quando regressa à Ilha, a esposa rejeita a mensagem e o próprio ma- rido. Juntam-se ao senhor Justo, duas sobrinhas e um amigo, o Sr. António Santos, sendo estes os primeiros a serem batizados na Ilha, depois dos idos anos 40. Apesar da sua fidelidade e constância na fé, pouco puderam fazer para o avanço do evangelho naquelas terras. As suas vozes foram abafadas e, apesar de todo o apoio recebido por irmãos, nomeadamente em S.Vicente, temos que esperar até finais dos anos 80, para que a chama da fé adventista volte a reacender na Ilha. O irmão Fernando Duarte, natural de S.Nicolau, ao conhecer a mensagem e tornar-se adventista nos finais de 1989, na ilha de S.Vicente, onde residia, zarpa imediatamente para a terra natal. O zelo mis- sionário impulsiona-o. Trava conhecimento com o Sr.Lourenço Gomes. Este e a sua esposa são os primeiros a serem batizados, na nova era que nascia para a ilha de S.Nicolau. 131 Os novos membros descobrem os pioneiros batizados havia muitas dé- cadas. A partir daí, e com o envio do primeiro pastor à Ilha, pastor Irlando de Pina, a Igreja cresce, ainda que timidamente. Mas só recentemente, o grupo de S.Nicolau que, por muito tempo estivera dependente do Sal e de S.Vicente, é reconhecido como igreja organizada. O forte tradicionalismo católico, a carência material e humana da IASD, nomeadamente a inconstância no envio e permanência de pastores e obreiros tem condicionado o desenvolvimento do adventismo nas terras de Chiquinho. Ilha do Sal Na Ilha do Sal, graças aos muitos esforços do Pr.Venâncio Teixeira, mas também de muitos jovens de outras ilhas, nomeadamente da Brava, começa o primeiro núcleo que virá a dar origem à Igreja Adventista do Sétimo Dia. A construção do templo só foi feita nos anos 90, mas com muito esforço. Inicialmente em Espargos, a igreja procurará timidamente a expansão para outras zonas como Palmeira, Santa Maria e Pedra de Lume. O trabalho rea- lizado noutras localidades da ilha, ainda que não tenha redundado em cresci- mento ou abertura de outra igreja, contribuiu para que barreiras fossem ultra- passadas e preconceitos quebrados. Pouco mais temos a dizer sobre a congregação da Ilha das salinas, pois o crescimento continua modesto e a influência sobre a população, fraca. Em 2010, a relação membros/população era de 1/100 pessoas.337 Ilha da Boa Vista A ilha das dunas é a mais recente a nível de penetração do evangelho. É só a partir de 1996 que, um grupo de crentes adventistas, naturais de Santiago, por razões profissionais, sentiu a necessidade de aí se fixarem. O primeiro núcleo organizou-se na zona de Rabil, mas em 1998 fixa-se na Vila de Sal- -Rei. Uma das caraterísticas do grupo, constituído maioritariamente por san- tiaguenses, é a sua dinâmica migratória, em outras palavras, a existência de uma forte mobilidade entre a membresia. Há aqueles que regressam à terra natal e outros que vão à Ilha trabalhar. Este é um dos factores apontados pelos próprios membros como condicionador ao desenvolvimento evangelís- tico. Outros aspetos contam, nomeadamente o escândalo nos finais da década de 90, quando dois membros da Igreja foram acusados de terem quebrado santos católicos – felizmente fora um engano?! Mas talvez, o principal ad- versário que os adventistas e até outros credos enfrentam na ilha, é o forte 337 Ibidem 132 espiritismo que aí é muito enraizado. É também certeza entre os membros que, se houvesse um pastor ou obreiro residente, a propagação do evangelho seria muito mais fácil. Ilha do maio As informações sobre o início da Igreja e o desenvolvimento do evangelho na Ilha do maio foram possíveis, graças ao uso de novas tecnologias, como já frisamos. Graças a conversas telefónicas e contatos via internet tivemos acessos a informações básicas sobre a igreja nesta planície do Arquipélago. Os primeiros obreiros foram enviados nos primeiros anos da década de 90, logo após o pastor Félix assumir a presidência da Missão/Associação. O grupo de crentes foi-se formando e crescendo. Mas um dos grandes problemas na igreja da Ilha é o êxodo dos irmãos para outras ilhas do terri- tório nacional. Até agora, não existe igreja organizada e a construção do templo ainda não foi concluído. Conclusões Sociológicas Para estudarmos o caso específico da IASD na ilha de S.Vicente convinha fazermos a sua contextualização a nível mundial. Fizemos uma breve descri- ção histórica desta instituição, caracterizamo-la a nível doutrinário, a icono- grafia dos seus símbolos, bem como a sua expressividade numérica no mun- do. No terceiro capítulo e, antes de passarmos ao estudo de caso, contamos um pouco da história da Igreja em Cabo Verde, ilha por ilha, com destaque para os primeiros anos. Mostramos como a Igreja evoluiu entre meados de 90 a meados de 2000, bem como fizemos uma caraterização atual da IASD, a nível do país. O subcapítulo central do nosso trabalho é o 3.4. e intitula-se A comunida- de adventista do sétimo dia em São Vicente – estudo de caso. Nele procuramos testar o grau de integração dos adventistas do sétimo dia na sociedade são-vicentina. Para isso, seleccionamos alguns traços cul- turais, observados com maior incidência na comunidade adventista. Estes constituíram os pontos de observação e permitiram avaliar se ser membro da congregação adventista faria aumentar o estatuto de exclusão social. São es- ses traços, a fraca participação dos adventistas nos lazeres públicos, o aspeto doutrinário, na medida em que se traduz em comportamentos diferenciados na vida quotidiana, os diferentes graus de educação e instrução formal e 133 cultural que podem implicar graus diferenciados de integração, bem como a forte influência da sua liderança. Como base teórica, utilizamos os estudos dos já citados Penninx e Ver- meulen338 sobre a integração. Estes autores falam de dois tipos de integração. A integração estrutural, que pode ser conseguida através do mercado de tra- balho, da política, educação ou a habitação. Uma outra forma de se integrar é através da ação individual ou de associações e/ou redes sociais do indivíduo. Neste segundo caso, admite-se que o próprio indivíduo possa ser o motor da sua integração. Levantáramos como uma das hipóteses, a possibilidade dos adventistas, por se considerarem emigrantes neste mundo, não terem uma in- tegração completa. Estamos aqui só de passagem - é o refrão que se ouve fre- quentemente entre os adventistas. Os dados recolhidos confirmam as nossas hipóteses iniciais, mas conseguir estes resultados não foi um trabalho fácil. Tivemos imensa dificuldade na obtenção da bibliografia específica sobre esta temática. As informações sobre a IASD em Cabo Verde eram esparsas. Para resolvermos o problema, tivemos que recorrer às fontes primárias disponí- veis. Inquéritos e entrevistas. Apesar de a população da ilha ser pouco mais de 70 mil habitantes, a comunidade adventista local, entre os seus membros regulares, não ultrapassa muito mais de uma centena de pessoas. Tendo em conta esta última realidade, fizemos a aplicação de 145 inquéritos e entrevis- tamos 10 pessoas. Dos inquéritos, 95 foram aplicados a não adventistas e 50 a adventistas do sétimo dia. Os resultados devem ser levados em conta, pela sua importância sociológica. Nos inquéritos, pudemos perceber que a maioria dos inquiridos afirmou não conhecer a IASD e nada sabe a respeito daquilo que a IASD tem feito a nível social. 68,4% dos não adventistas inquiridos sobre se conheciam a IASD, responderam positivamente. 31,6% responde- ram negativamente. Apesar disso, pressupunha-se que a Igreja devesse ser melhor conhecida, pois está presente na Ilha (no centro da cidade) há cerca de 80 anos.Mas, infelizmente (…)Pelo contrário, os adventistas do sétimo dia acreditam que são bem aceites em S.Vicente. Esta informação é importante, pois uma vez que apresenta a informação dos adventistas, pressupõe, que o problema esteja com os adventistas e não com os de fora da Igreja. Os dados são os seguintes: 76% dos membros pensa que a Igreja é bem aceite. 18%, responderam negativamente. 4% não sabe ou não responde. Mais de 50% dos inquiridos não adventistas, disseram nada saber sobre aquilo que a IASD tem feito na ilha. 10,5% sabe das atividades comunitárias e 8,4 % o do apoio social prestado. 6,3% não respondeu. 338 PENNINX e VERMEULEN (2000) 134 A questão doutrinária também pode ser entendida como um handicap à integração social dos adventistas em S.Vicente. É que a defesa de algumas doutrinas traduz-se em práticas comportamentais e atitudes diversas do gros- so da população, podendo inclusive levar à discriminação social do trabalho. Referimos, de novo, a questão da guarda do Sábado, dia sagrado, e que por isso, ocupa um lugar central nas decisões dos adventistas, em aceitar deter- minada proposta de trabalho ou até seguir, ou não, uma carreira. Uma outra faceta adventista que não deixa de estar relacionada com a questão doutri- nária é a fraca participação dos adventistas em lazeres públicos, festas, por serem considerados mundanos e nocivos à saúde espiritual. Uma última hipótese que equacionamos como fator de dificuldade para a integração dos adventistas em S.Vicente é a ação da sua liderança. A análise sociológica à nossa realidade levaram-nos a concluir que exis- tem três momentos distintos na liderança adventista não apenas na ilha de São Vicente, mas em todo o país. Para a Ilha de São Vicente, o nosso exem- plo, os pastores foram inicialmente enviados a partir dos anos 40, do século passado. Eles vinham da União Portuguesa dos Adventistas do Sétimo Dia, sendo a maioria europeus. Nesta primeira fase, destaca-se uma liderança cujos constrangimentos eram notórios. Eram os pioneiros, o catolicismo ti- nha mais adeptos, as ligações entre as diversas ilhas eram mais difíceis. Esta primeira liderança apostou grandemente na educação. Foi por esta altura que se conseguiram os alvarás para as escolas adventistas da Brava, Fogo, Praia e S.Vicente. A escola adventista em S.Vicente, durante muito tempo conhecida por Escola Adventista - Pastor Francisco Cordas339 foi o rosto da instituição nesta ilha. Foram muitos os são-vicentinos que aí tiveram a sua educação e, certamente alguns converteram-se à mensagem adventista, graças à sua influência. Um segundo momento da liderança é o período pós- -independência. Logo depois de o país se ter emancipado do colonialismo português, fez-se necessário reestruturar a Igreja a nível administrativo e de liderança. Os pastores enviados pela União Portuguesa tiveram que regres- sar. Agora a IASD em Cabo Verde fica, temporariamente, sob a responsabi- lidade da Divisão Sul Europeia. Dos próximos pastores que virão à Ilha e ao país, grande parte é brasileira. Serão eles os dirigentes, quer nível nacional, quer a nível local. Muitos membros consideram esse período como muito bom. Em S.Vicente há ainda membros que reclamam dos bons tempos dos pastores brasileiros. Mas há algumas questões que precisam ser clarificadas. Se durante o período brasileiro, a IASD em S.Vicente era bem conhecida, respeitada e crescia em número, o que é que falhou na hora da passagem do 339 Relembra-se que o Pastor Francisco Cordas foi o missionário que impulsionou a educação. 135 testemunho? Terá ela sido feita no melhor momento? Não estariam prepara- dos os próximos líderes? Porque é que desses bons tempos, como arvoram alguns membros, não existem, não se criaram as condições para a existência de estruturas de saúde adventista – um dos pilares do adventismo - em Cabo Verde? São perguntas de reflexão e que precisarão de uma resposta por parte das atuais autoridades adventistas na ilha e no país. Pois a estes, mais do que aos membros cabem as grandes decisões estratégicas para o futuro da sua instituição, no território nacional. O terceiro período da liderança tem que ver com os dias atuais. Neste momento, os pastores existentes no país são quase todos cabo-verdianos. Os anciãos (sub-pastores), líderes locais, ainda carecem de alguma credibilidade e autoridade entre a membresia. A concentração dos pastores faz-se mais nas ilhas de Santiago e Fogo, onde existem mais crentes adventistas. Algumas outras dificuldades se apresentam à liderança nacional, nomeadamente o facto de grande parte dos pastores ser ainda jovem e recém-formada.340 Os mais experientes são solicitados para ocuparem cargos mais elevados a nível da liderança em outros países. Há um pastor que já se reformou, outro que, por problemas de saúde, não consegue dar o seu real contributo para o bem da causa. Há aqueles que por razões diversas abandonaram o ministério. Finalmente, constatamos que existe por parte de alguns membros um certo desrespeito e até descrédito para com os líderes nacionais. Em síntese, diremos que a Igreja Adventista do Sétimo Dia em Cabo Ver- de e, concretamente na Ilha de São Vicente, não tem conseguido lidar com o dilema de “estar no mundo mas não ser do mundo”. Se calhar falta uma melhor aplicação do verso 13 de São Mateus capítulo 5, onde se lê: “Vós sois o sal da terra; e, se o sal for insípido, com que se há-de salgar? para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens.” KEM KI SABI MÁS, PA CONTA MIDJOR! 340 Atualmente a maioria dos pastores adventistas tem feito a sua formação nas universidades adventistas em África. Anteriormente estudavam ou no Brasil, ou na Europa. 136 4.1. SUGESTÕES/ RECOMENDAÇÕES: Feita a conclusão objetiva, aproveitamos para deixar algumas sugestões, dar a nossa opinião pessoal. Quanto à descrição histórica, (re) aprendemos aquilo que até já sabíamos e (re) escrevemos a história só se faz com documentos. E, é verdade. Carece- mos de fontes sobre a história da insituição adventista em Cabo Verde. Isto leva-nos a ser ousados e a propor o seguinte: 1º- criar um órgão informativo oficial, para dar aos irmãos, amigos e interessados o conhecimento daquilo que se passa a nível do desenvolvi- mento da Igreja, no país e no mundo; 2º - organizar uma base de dados (informatizado, ou não) dos arquivos oficiais da Igreja; 3º - enfatizar os atividades de cariz sócio-comunitárias; 4º - redobrar os programas em prol da saúde; 5º - reabrir as escolas adventistas em Cabo Verde; 6º - lançar as bases para a criação de uma publicadora adventista em Cabo Verde. 137 138 BIBLIOGRAFIA: 1. Fontes Primárias 1.1. Entrevistas Entrevistado nº 1- Pastor Irlando Pereira de Pina – Presidente da Associação das IASD de Cabo Verde (a data da entrevista) - Entrevista realizada no dia 10 de novembro de 2008 Entrevistado nº2 - João Florêncio Pachito - Pioneiro da IASD em S.Vicente (falecido meses depois da entrevista). Entrevista realizada no dia 10 de no- vembro de 2008 Entrevistada nº3 - Maria de Lourdes Leite – Pioneira da IASD em S.Vicente Entrevista realizada no dia 10 de novembro de 2008 Entrevistado nº4 - Pastor David Dias – Jovem Pastor da IASD, natural da Ilha de S.Vicente. Entrevista realizada no dia 20 agosto de 2009 Entrevistado nº5 Daniel Bartolomeu Gomes – antigo colportor evangelista da IASD em Cabo Verde. Entrevista realizada no dia 12 de novembro de 2009 Entrevistado nº6 - Reverendo Socorro António Rodrigues Fontes – Pastor Distrital da Igreja do Nazareno e S.Vicente e Secretário nacional da mesma instituição. Entrevista realizada no dia 17 de novembro de 2009 Entrevistado nº7 - João Diniz Santos Brito, influente membro leigo da Igreja Nazarena em S.Vicente. Entrevista realizada no dia 1 de dezembro de 2009 Entrevistado nº8 - Padre Gonçalo Manuel Carlos, Director da Escola Sa- lesiana de Artes e Ofícios de S.Vicente. Entrevista realizada no dia 10 de dezembro de 2009 Entrevistada nº9 - Maria Auxilia Cruz – Coordenadora Regional da Juven- tude Católica em S.Vicente. Entrevista realizada no dia 15 de dezembro de 2009 139 Entrevistado nº10 - Dr.Augusto César Lima Neves - Vereador de Habita- ção, Solidariedade e Promoção Social, Saúde Publica e Cidadania da Câmara Municipal de S.Vicente (atual Presidente da Câmara Municipal de São Vi- cente). Entrevista realizada no dia 17 de dezembro de 2009 Entrevistado nº 11 – Fernando Ramos Duarte – Membro da IASD em S.Vicente, natural da ilha de S.Nicolau e promotor do desenvolvimento evangelístico na sua terra natal, a partir de finais de 1989. Entrevista realiza- da no dia 27 de outubro de 2012 Entrevistado nº 12 – Lourenço José Gomes – Atual membro da IASD do Ma- deiralzinho, São Vicente. Um dos primeiros batizados em S.Nicolau a partir de finais dos anos 80. Entrevista realizada no dia 27 de outubro de 2012 Entrevistado nº 13 – Guilherme Vieira Lima – Antigo pastor da IASD. Entre- vista realizada no dia 30 de novembro de 2012 Entrevistada nº 14 – Odélia Brito – Membro da IASD em S.Vicente, natural da ilha da Boa Vista. Entrevista realizada no dia 30 de novembro de 2012 Entrevistado nº 15 – Carlos Gomes Lopes – Membro da Igreja de S.Vicente e antigo obreiro bíblico em Santo Antão. Entrevista realizada no dia 1 de novembro de 2012 Entrevistada nº 16 – Domingas Tavares – Membro e pioneira do adventismo na ilha da Boa Vista. Entrevista realizada no dia 3 de novembro de 2012 Entrevistado nº 17 – Jorge Tavares – Membro e diretor da igreja da Boa Vis- ta. Entrevista realizada no dia 3 de novembro de 2012 Entrevistado nº 18 – Raimundo Agues Ribeiro – Membro e director da IASD na ilha do maio. Entrevista realizada no dia 5 de novembro de 2012 Entrevistada nº 19 – Francisca Salomão – Membro e pioneira da IASD em Santo Antão. Entrevista realizada no dia 5 de novembro de 2012 1.2. Inquéritos 50 inquéritos a adventistas 140 95 inquéritos a não adventistas 1.3. Periódicos 1.3.1. Revista Adventista CASACA, A., Revista Adventista, dezembro de 1959, “ Uma visita aos nos- sos irmãos de Cabo Verde” s.n. , Lisboa CORDAS, F, Revista Adventista, setembro de 1952, “Progresso do Trabalho Adventista em Cabo Verde” s.n., Lisboa CASACA, A., Revista Adventista, dezembro de 1959, “ Uma visita aos nos- sos irmãos de Cabo Verde” s.n., Lisboa ROSA,G. Revista Adventista, setembro de 1951, “ Notícias do Fogo”, s.n.,Lisboa FERREIRA, E. Revista Adventista, dezembro de 1951, “O Movimento Ad- ventista em Cabo Verde”, s.n. Lisboa, MORGADO, J. Revista Adventista, maio de 1952, “ Missão de Cabo Verde. Praia”, s.n., Lisboa MORGADO, J. Revista Adventista, junho de 1952, “ Missão de Cabo Verde. Praia”, s.n., Lisboa ROSA, G. Revista Adventista, maio de 1952, “ Missão de Cabo Verde. Fogo”, s.n., Lisboa ADELINO, D. Revista Adventista, julho de 1953, “ Missão de Cabo Verde. Salamança, um sonho desfeito?”s.n., Lisboa ROSA, G. Revista Adventista, agosto-setembro de 1953, “ Missão de Cabo Verde. Praia”,s.n., Lisboa MENDONÇA, J. Revista Adventista, dezembro de 1956, “ Missão de Cabo Verde. Fogo”, s.n.,Lisboa 141 MENDONÇA, J. Revista Adventista, janeiro? de1956, “ Missão de Cabo Verde. Bombas atómicas em S.Nicolau”, s.n., Lisboa DA SILVA, I. Revista Adventista, agosto de 1961, “Brava”, s.n., Lisboa 1.3.2. Adventist World KRAUSE, G. Adventist World, outubro de 2011, “Dentro das cidades. Bra- ços de Amor”, Review and Heralda Publishing Association, s.l. [ ] Adventist World, outubro de 2011, “Dentro das cidades. Braços de Amor”, Review and Herald Publishing Association, s.l. SAHLIN , M. Adventist World, outubro 2011, “Vida no Campo”, Review and Herald Publishing Association, s.l. WILSON, Ted Adventist World, outubro de 2011, “Grande Visão para as Grandes Cidades”, Review and Herald Publishing Association, s.l. 1.3.3. Missão em Revista [ ]Missão em Revista, agosto de 1974, [ ] IASD- Cabo Verde, Praia, 1.3.4. Trimensários FERCH, A. Lições da Escola Sabatina 4º Trimestre 2006, “Origens e Liga- ções”, Publicadora Servir, Lisboa, 2006 GALLAGHER, J. Lições da Escola Sabatina 4º Trimestre 2002, “Viver a Espe- rança do Advento”, Publicadora Servir, Lisboa, 2002 NEVES, J. Cadernos de Pesquisa em Administração, 2º Semestre de 1996, Vol.1, nº3 “Pesquisa Qualitativa – Características, Usos e Possibilidades”, São Paulo PFANDL, G. Lições da Escola Sabatina 1º Trimestre 2009, “O Dom Proféti- co nas Escituras e na História Adventista”, Publicadora Servir, Lisboa, 2006 YOUNKER, R. Lições da Escola Sabatina 1º Trimestre 1999, “A Criação Divina. Um Olhar sobre o Relato Bíblico”, Publicadora Servir, Lisboa, 1999 1.3.5. Outras Revistas/periódicos BRODY, J. New York Times, 1983, “Personal health; new research on the 142 vegetarian diet”, New York UNIVERSIDADE LUSÓFONA, Revista Lusófona de Ciências das Religi- ões. “O Budismo uma proximidade do Oriente. Ecos, sintomas e permeabi- lidade no pensamento português”, Revista Semestral, Ano VI, 2007, nº 11, Lisboa, 2007 2. Fontes Secundárias 2.1. Livros BACCHIOCCHI, S. (1974) From Sabbath to Sunday. A Historical Investi- gation Of The Rise Of Sunday Observance In Early Christianity. Vidimus et aprobamus ad normam Statutorum Universitatis Romae, ex Pontifícia Uni- versitate Gregorian, Iunii BAUMGARTNER, M.(2001) A Igreja no Ocidente. Das Origens às Refor- mas no Séc.XVI, Lisboa, Edições 70, BÍBLIA SAGRADA, (1988) Revista e Atualizada no Brasil, João Ferreira de Almeida (trad.), São Paulo, Sociedade Bíblica Brasileira BOYATZIS, R. et al. (2002) Os novos líderes, Lisboa, Gradiva Publicações, BRINER, B. e PRITCHARD, R. 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(2009) Strategies for inspiring youths to love and work efficiently for Jesus in the district of Assomada, Cape Verd, Dissertação de Mestrado, Adventist University of Africa LIMA, F.(2010) História da Igreja do Nazareno.Uma Igreja Centenária em 147 Cabo Verde (1901-2001) – Uma perspectiva Educacional , Dissertação de Mestrado, Faculdade de Letras da Universidade do Porto JÚNIOR, G. (2012) Avaliação do desempenho do serviço de atendimento emergencial realizado pelo corpo de bombeiros militar, fundamentado na metodologia multicritério de apoio à decisão construtivista, Dissertação de Mestrado, Universidade do Sul de Santa Catarina MONTEIRO, K. (2002) Integração de imigrantes cabo-verdianos na Holan- da. O exemplo dos ribeira -pratenses da Ilha de S.Nicolau, Trabalho Final de Licenciatura, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra THAUREAUX, L. (2009) La Formación del Campo religioso y los procesos de movilidad en los marcos de la “Iglesia de Dios de Evangelio Completo”, Disser- tação de Mestrado, Facultad de Ciencias Sociales de La Universidad de Oriente de Santiago de Cuba 2.3. Documentos não publicados MORGADO, J. O Movimento Adventista em Cabo Verde (datilografados) VIEIRA, A. A Mensagem Adventista em Cabo Verde, 2000 (Impressos do Arquivo da Associação das I.A.S.D. em Cabo Verde) 2.4. Documentos Institucionais (AIASD-CV) AIASD –CV, Planificação Estratégica 2011-2015, Praia, 2010 IASJ – UNION MISSION DU SAHEL, 7º Assemblée Administrative Quin- quennale, 24-27 Nov.2010 s.l 2.3. Enciclopédias e Dicionários ENCYCLOPAEDIA BRTIANNICA, 11ª Edição, vol IV, s.d. “Calendário”,s.l. PORTO EDITORA, Dicionário de Filosofia, Porto Editora, Porto, 2000 2.4. Manuais Escolares Manual de História e Geografia de Cabo Verde, 8º Ano, Porto Editora, Porto, 2011 Manual de História e Geografia de Cabo Verde, 7º Ano, Porto Editora, Porto, 2011 148 2.5.Publicações de Organismos Estatais REPÚBLICA DE CABO VERDE, Governo de Cabo Verde, Esquema Regio- nal de Ordenamento do Território - Ilha de São Vicente, Vols.1 e 4, s.l., 2010 REPÚBLICA DE CABO VERDE, Cabo Verde, Constituição da República de Cabo Verde, Praia, 1992 2.6. Outras Fontes INE- Insituto Nacional de Estatísticas de Cabo Verde, Censo 2010 2.7. Publicação Eletrónica LENZ, G., Análise da Aplicação do Estudo de Caso em Dissertação de Mes- trado em Administração, VIII Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnolo- gia, IFRS publicação electrónica, 2011 2.8.Sítios da Internet: www.adventistas.com www.earlysda.com www.whiteestate.org www.ahn.cv www.parlamento.pt www.advir.com.br www.advenstitas.org.pt http://arquivoiasd.blogspot.com/ www.nistocremos.net www.criacionismo.com.br http://www2.uol.com.br/bibliaworld/igreja/estudos/seit009.htm http://solascriptura-tt.org/Seitas/SaoAdventistasCristaos-GasparS.htm http://www.governo.cv/ www.adventist.org http://pt.wikipedia.org/wiki/Religi%C3%B5es#Monote.C3.ADstas http://www.lusotopie.sciencespobordeaux.fr/vila%C3%A7a.pdf http://www.educacaoadventista.org.br/ea/nossahistoria.php http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/cabo-verde/imagens/mapa-de- -cabo-verde-4.gif 149 150 ANEXOS 151 152 1ª Acta Oficial da IASD em Cabo Verde Conforme a primeira ata exarada, de 5 de julho de 1934, processou-se uma reunião para dar corpo efectivo à congregação e decidir os assuntos atinentes ao Evange- lismo e local apropriado para a construção da Igreja Adventista, que também era denominada Igreja da Luz e Verdade……………………………………… Estiveram presentes: l. António J. Gomes-2. André T. Burgo-3. Manuel Andrade - 4.José T Burgo- 5 Teófilo J. Silva - 6. Alfredo Olegário Monteiro - 7. José T. Sflva -8. José M. Gomes 9. Bia Gomes - 10. Mariana G. R- Gomes - 11. Ana Gomes Burgo -12. Maria Alves Andrade………………………………………………… O irmão Manuel Andrade fez a oração inicial. Foram eleitos os seguintes oficiais: Pre- sidente - António J. Gomes; Tesoureiro - André T. Burgo; Secretario - José T.Burgo; Encarregados dos negócios: Manuel Andrade, André T. Burgo, Teófilo J. Silva e José T. BurGPgo………………………………………………………………………. António J Gomes fez um donativo inicial, no valor de 250 dólares. E declarou o seu ideal de que a Mensagem da Igreja Adventista do Sétimo Dia venha em breve alcan- çar as outras ilhas do Arquipélago. Na segunda reunião, conforme ata de 15 de maio de 1935. os oficiais ficaram assim constituídos: Manuel Andrade. André T. Burgo, José T. Burgo. Teófilo J. Silva……………………………………………….. Estiveram ainda presentes Alfredo O. Monteiro, Roque M. Conceição. Gregorio Mendes, Maria Lima, Carolma (Nhã Bia) Gomes, Manuel M, Lima, Mana Alve- sAndrade, Mariana G. R. Gomes, Carolina M. Silva, Mana Lima Gomes. É de salientar que os cultos eram efectuados à tarde, no salão cedido gentilmente por Sr. João Gaudêncio Gíbau, no centro áe N. S. do Monte. Esse horário tornou-se costu- meiro, por se demonstrar propício às reuniões que o Sr. Gomes, também conhecido por António Branco, realizava nos lares que visitava. Assim, conforme essa acta, das 13 às 14 horas dedicava-se ao aprendizado dos hinos, das 14 às 16 horas, a orações e lições bíblicas, com cânticos inter-calados. O horário dos cultos só foi alterado, com o início às 9 horas, durante o ministério do pastor João A. Esteves, obedecendo assim o padrão estabelecido pela Obra…………………………. In, VIEIRA, 2000:5 153 Reconhecimento Oficial da IASD em Cabo Verde 154 Alvará de autorização para a Escola Adventista em S.Vicente 155 156 Edifício do Jardim (à frente) e Igreja Adventista (parte traseira) em S.Vicente 157